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"Não importa se a arte é comercial ou não, basta comunicar", dizem Osgêmeos

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

11/07/2014 07h00

Na primeira sala, uma vila de cores e retalhos, justaposta a um misterioso vórtex de madeira. Na segunda, um boneco amarelo de seis metros de altura, que em sua barriga guarda um carrossel de baleias girando em luzes estroboscópicas. No último espaço, uma espécie de casa de cortiço, acanhada, mas com telão psicodélico que convida os visitantes a interagir.

"A Ópera da Lua", nova e onírica exposição da dupla Osgêmeos, marca uma discreta mudança de perspectiva no trabalho dos artistas. Antes mais ligados a paisagens urbanas, com traços dotados de crítica social, os grafiteiros decidiram agora imergir em um universo que descrevem como mais simbólico e espiritual.

“Começamos a trabalhar nessa exposição há mais de um ano e meio. Cada nova exposição é um grande desafio para nós —gostamos disso, de nos desfiar com os projetos mais loucos possíveis”, dizem em entrevista ao UOL, por e-mail, com respostas que assinam juntos.

A sintonia de Gustavo e Otávio Pandolfo é total, e a inspiração parece vir de tudo.  De pessoas, viagens, trabalhos anteriores. Muitas vezes, do próprio suporte no qual a arte está inserido, como no caso do amplo galpão da galeria Fortes Vilaça, que abriga a mostra. Até o dia 16 de agosto, praticamente todo o espaço, na Barra Funda, ficará tomado pelas pinturas, esculturas e instalações da dupla.

“A estética de algumas obras feitas na rua pode até ser similar com a que usamos para galerias e museus, mas o grafite está na rua. E essa obra terá uma relação direta com a paisagem em que está inserida. Já num espaço expositivo, você tem um quadrado em branco, limpo, que te possibilita uma infinidade de coisas. É onde podemos recriar o nosso universo.”

Hoje estrelas quase pop do ainda sisudo meio das artes brasileiro, Osgêmeos começaram a carreira no fim dos anos 1990, grafitando nos muros do bairro do Cambuci, na região central São Paulo. Com traços fortes e enormes bonecos cabeças amarelas, fizeram com que a arte das ruas fosse aceita também em galerias. O prestígio internacional veio simultaneamente, com exibições em 15 países, incluindo grandes instituições do mundo, como a galeria Tate Modern, em Londres, e do Museu do Louvre, em Paris.

Na abertura da nova exposição, na semana passada, levaram cerca 1.300 pessoas ao espaço, um recorde para a galeria Fortes Vilaça. A toda essa popularidade somam-se produtos lançados em parceria com Nike, Hermès e Louis Vuitton. Mais recentemente, foram convidados a grafitar o avião da seleção brasileira na Copa, o que rendeu críticas e até comparações com Romero Britto.

“Recebemos todos os tipos de projetos. Independentemente de ser um projeto comercial ou não, o importante é o artista poder escolher trabalhar com pessoas e projetos que sejam próximos do que gosta, que tenham uma energia bacana”, dizem.

“As coisas na verdade são muito simples, as pessoas é que complicam, com essa tendência de colocar tudo em ‘gavetas’. Não importa se a arte é comercial ou não, o que importa é a verdade que ela traz, o que ela comunica às pessoas e como as fazem sentir.”

Atualmente, após um ano e meio trabalhando na sinestésica “Ópera da Lua", Osgêmeos já estão com o pensamento voltado para a próxima exposição. Como de costume, mantida em absoluto sigilo. Dizem apenas que, neste mês, estarão no Pavilhão Brasil da Bienal de Vancouver, no Canadá, com uma literalmente grande novidade.

“Estamos muito animados com esse projeto, pois não só será nosso primeiro trabalho no país, mas também será talvez o maior mural já realizado em nossas carreiras.”