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Livro desconstrói mitos do futebol, como bom mocismo de Messi

Capa do livro "Guia Politicamente Incorreto do Futebol", de Jones Rossi e Leonardo Mendes Júnior - Divulgação
Capa do livro "Guia Politicamente Incorreto do Futebol", de Jones Rossi e Leonardo Mendes Júnior Imagem: Divulgação

Rodrigo Casarin

Do UOL, em São Paulo

24/06/2014 17h03

A seleção brasileira que foi campeã do mundo em 1994 apresentou um futebol inferior? Em 1970, a participação do técnico Zagallo foi insignificante? Charles Miller pode ser considerado o pai do futebol brasileiro? Messi é, como dizem, um bom menino? Essas são algumas das muitas perguntas que os jornalistas Jones Rossi e Leonardo Mendes Júnior respondem no livro "Guia Politicamente Incorreto do Futebol", tentando desfazer equívocos tidos como grandes verdades, já enraizadas no imaginário popular.

Um exemplo é a suposição de que a seleção brasileira teria entregue a final da Copa do Mundo de 1998 para a França. Os autores apresentam diversas evidências para provar que a teoria é infundada. Por que, então, continuam acreditando nisso? "Porque a versão fantasiosa é sempre mais interessante que a real. Acreditar em uma versão que envolve milhões de dólares, empresas multinacionais e negociatas em chalés suíços é mais legal que admitir que o Zidane acabou com o jogo, que o Aimé Jacquet [técnico francês na ocasião] montou um esquema superior ao do Zagalo, e que, enfim, a França jogou mais do que o Brasil", argumenta Rossi.

O autor, que realizou o trabalho junto com Mendes Júnior, apoiou-se numa extensa lista bibliográfica, que inclui clássicos da literatura esportiva brasileira, como "O Negro no Futebol Brasileiro", de Mário Filho, e clássicos da literatura como George Orwell e seu "A Revolução dos Bichos". Rossi garantiu que tentou "buscar histórias consagradas pelo senso comum para que, no livro, possam ser desmentidas e desconstruídas".

Conheça algumas histórias "politicamente incorretas" sobre o futebol de Rossi e Mendes Júnior:

- Charles Miller, o cartola: Charles Miller não é o pai do futebol brasileiro, mas sim o pai da cartolagem no país. Antes dele voltar da Inglaterra com o livrinho de regras, outras pessoas já praticavam o esporte por aqui. "Isso altera o mito fundador do futebol nacional", diz Rossi.

Lionel Messi aparece agachado durante treino da Argentina em Porto Alegre - AP Photo/Victor R. Caivano - AP Photo/Victor R. Caivano
Lionel Messi aparece agachado durante treino da Argentina em Porto Alegre
Imagem: AP Photo/Victor R. Caivano

- Verdades sobre Messi: Ao contrário do que dizem, o craque argentino não é autista. Sua família se mudou para Barcelona em busca de dinheiro, não de tratamento para o garoto, que também está longe de ser um santo. Há diversos relatos de casos em que ele teria humilhado e sabotado companheiros e até mesmo Pep Guardiola, seu ex-técnico.

- A importância de Zagallo em 1970: É comum ouvirmos pessoas dizerem que a seleção brasileira de 1970 faria sucesso independente de seu treinador. Entretanto, sem Zagallo ela sequer existiria. O técnico, na época com 39 anos, foi a grande mente daquela equipe. Até o épico gol de Carlos Alberto Torres contra a Itália só foi possível graças ao Velho Lobo.

- A superioridade italiana de 1982: A equipe estava com problemas internos (como a falta de acerto da premiação) e os jogadores pensavam que poderiam bater os italianos com facilidade. Porém, a seleção, famosa pelo seu futebol-arte, apresentava evidentes falhas táticas, como buracos no meio de campo. Para Rossi, "isso mexe com uma ilusão bastante difundida entre a imprensa e a população de que aquele time era imbatível e perdeu por por azar, e não por incompetência".

- A falsa democracia corintiana: "A minha [história] preferida é a da Democracia Corintiana, pois é a qual os jornalistas são mais apegados. Para eles é difícil enxergar que em pouco tempo o que era para ser uma experiência democrática inédita e transformadora logo virou uma aristocracia comandada por poucos, que expulsava do grupo quem discordava de sua ideologia, sem critérios claros. Ela começou no seio da classe média e se transmutou em uma ditadura", defende o autor.

- O belo futebol da seleção de 1994: Diferente das seleções de Telê Santana, o time de Parreira privilegiava a parte tática. Ciente da importância de ficar com a posse da bola, estatísticas mostram que a equipe campeã nos Estados Unidos jogava um futebol bastante semelhante ao praticado pela Espanha na elogiada campanha do mundial de 2010.

- A superioridade francesa de 1998: Contrariando diversas teorias conspiratórias, o Brasil não entregou a final da Copa do Mundo de 1998, mas sim levou um show de Zidane e companhia, que demonstraram um enorme domínio tático sobre os brasileiros, que tinham um treinador ultrapassado (Zagallo) e jogadores atuando fora de posição, além da crise de seu maior craque horas antes da derradeira partida.

- Os benefícios de Ricardo Teixeira ao futebol: Apesar de atualmente ser visto como um dos vilões da história do futebol no Brasil, o ex-presidente da CBF foi quem salvou o torneio nacional de clubes e reestruturou a seleção brasileira, que, em sua gestão, voltou a ganhar títulos mundiais.

- O futebol não é um bom negócio: Uma rede de supermercados que atua no Piauí e no Maranhão, os dois estados com os índices de desenvolvimento humano mais baixos do país, fatura  mais que o dobro do que o Corinthians faturou em 2012, quando foi o clube com maior arrecadação do Brasil.

- As propositais dívidas dos gigantes: Clubes grandes em fase de penúria muitas vezes contratam jogadores prometendo salários altíssimos, mesmo sabendo que jamais conseguirão pagar aqueles valores --a não ser que os próprios jogadores consigam ser campeões de algo, trazendo assim dinheiro para o clube e tendo a chance de ver a grana cair na conta. A estratégia costuma ser utilizada porque, dessa forma, evita-se também que bons jogadores fortaleçam equipes adversárias.

"Guia Politicamente Incorreto do Futebol"
Autores: 
Jones Rossi e Leonardo Mendes Júnior
Editora: Leya
Páginas: 416
Preço: R$ 39,90, em média