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Longe de casa, Cássia Eller de musical revela ter quase desistido da peça

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

04/06/2014 06h00

Às vésperas dos primeiros ensaios, a produção de "Cássia Eller - O Musical" por pouco não viveu um imprevisto pra lá de indesejado. Escolhida entre mais de mil candidatas do Brasil, a curitibana Tacy de Campos esteve para pedir as contas. Para debutar como atriz na peça dirigida por João Fonseca e Vinicius Arneiro, que entrou em cartaz na última quinta-feira (29) no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio, ela precisou ser demovida da ideia.

"Foi muito difícil, quase desisti, porque não queria ficar longe da minha família, dos meus amigos. Mas o Fernando Nunes, que é codiretor musical da peça e era baixista da Cássia, me convenceu a vir para o Rio e fazer a peça", contou ao UOL em entrevista concedida por e-mail, para poupar a voz, no dia seguinte à estreia.

Tacy, de 24 anos, impressiona. Não apenas pelos trejeitos e pela similaridade do timbre vocal, praticamente idêntico ao de Cássia Eller, mas também pela timidez doce e extrovertida, uma das marcas da cantora, morta em 2001, aos 39 anos. Em uma das cenas do musical, não viu problemas em levantar a camiseta e exibir sem pudor os seios, tal qual Cássia no Rock in Rio 3.

Sua maior dificuldade, conta, foi outra. "Para mim, o mais difícil foi toda a parte de texto, de ser outra pessoa. É muito complicado porque nunca tinha feito isso antes. Mas está sendo muito legal. Os diretores e a Ana Paula Bouzas, a preparadora, me ajudaram muito."

Nitidamente inspirada na própria personalidade de Cássia, a montagem reconta a trajetória de uma artista conhecida pelo lado visceral, que fazia da vida e obra elementos praticamente indissociáveis. Segundo Tacy, também assumidamente homossexual, é nessa Cássia em quem mais se enxerga.

Seus discos favoritos são os dois primeiros ("Cássia Eller" e "O Marginal"), justamente os mais roqueiros, permeados pelo blues. O segundo, inclusive, batizou a banda tributo que montou em Curitiba, Os Marginais.

"Eu gosto de rock and roll, é o som que me agrada. Tanto que a fase da Cássia que mais gosto é a primeira, mais pesadona. Minha música preferida é 'Aquele Grandão'. Com Os Marginais, tocamos Cássia mais rock. Já no musical fomos mais fieis às versões dela, mas tem umas partes bem pesadas, como a música do Nirvana, do jeito que ela fazia", conta Tacy, que descreve o trecho de "Smells Like Teen Spirit", da banda de Kurt Cobain, e a faixa "Rubens", do primeiro disco de Cássila Eller, como suas partes prediletas do musical.

Com texto de Patrícia Andrade ("Elis - A Musical"), a peça traz versões de "Por Enquanto" (Renato Russo), "Malandragem" (Cazuza/Frejat), "Gatas Extraordinárias" (Caetano Veloso), "O Segundo Sol" (Nando Reis), "Eleanor Rigby" (Lennon/McCartney) entre outras, que ajudam a contar de forma intimista uma história repleta de personagens, emoções e inquietude artística.  

Tacy, que assistiu ao musical em homenagem a Cazuza ("Fiquei muita impressionada com a voz do Emílio Dantas", ela lembra), não tem planos de virar atriz. Quer mesmo é retomar sua banda ao fim da temporada para, então, investir em trabalho autoral. Sobre um possível convite para ser Cássia nos cinemas, hesita. "Sinceramente eu não sei, agora estou pensando no musical, que tem uma longa estrada pela frente."