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Com escrita fácil, Nick Hornby emplaca quarto livro no cinema

05.jun.2008 - O escritor Nick Hornby no Festival de Literatura na Basílica Massenzio de Roma, na Itália - Getty Images
05.jun.2008 - O escritor Nick Hornby no Festival de Literatura na Basílica Massenzio de Roma, na Itália Imagem: Getty Images

Rodrigo Casarin

Do UOL, em São Paulo

23/05/2014 06h00

Um apresentador de programa de auditório, a mãe de uma criança deficiente, uma adolescente cheia de dramas e um entregador de pizza decidem se suicidar em plena virada de ano. Eles se encontram no topo de um prédio em Londres e a noite trágica se transforma em um momento de apoio mútuo, que se estenderá para os dias seguintes.

Essa é a premissa de "Uma Longa Queda", filme que estreou quinta-feira (22) nos cinemas brasileiros com Pierce Brosnan, Tony Colette, Imogen Poots e Aaron Paul no elenco. O longa é mais uma adaptação da obra do inglês Nick Hornby, um artista de 57 anos que se dedica ao trabalho de escritor, mas que se mostra bem versátil e multimídia também como roteirista e compositor.

O sucesso dos livros de Hornby e a facilidade com que são adaptados para o cinema --é o quinto filme baseado em obras dele, sendo que um mesmo livro rendeu dois longas-- podem ser explicados pelo estilo de escrita do autor. "Ele tem uma habilidade muito rara entre os escritores contemporâneos: seduzir o leitor. E faz isso porque escreve fácil, o que é muito difícil. A escrita simples não significa superficialidade", acredita Felipe Pena, escritor, doutor em comunicação e letras e PhD pela Universidade de Paris -- Sorbonne.

Hornby tem 18 livros publicados, que já venderam mais de 5 milhões de exemplares. Nove de seus títulos foram lançados no Brasil e a Companhia das Letras vem republicando algumas obras --só no último ano saíram novas edições de "Febre de Bola" (1992), "Alta Fidelidade" (1995) e o próprio "Uma Longa Queda" (2005).

O escritor frequentemente é encarado como alguém que procura retratar adultos que se recusam a deixar a adolescência definitivamente para trás, mas reduzir seu trabalho a isso é um equívoco. "Ele sabe, como dizia o [Bertolt] Brecht [dramaturgo alemão], que a primeira missão da arte é entreter. Ele não escreve para os críticos ou para parecer um intelectual de vanguarda. Faz sucesso porque se preocupa em contar uma história", diz Pena.

Outras adaptações

Hornby tem uma legião de fãs espalhada pelo mundo, como a jornalista e escritora Silvia Noara Paladino. "É um dos escritores que melhor consegue captar os conflitos e as sombras do ser humano e das relações humanas nos dias atuais. 'Uma Longa Queda' é um exemplo disso, porque vai ao extremo do desespero e da falta de perspectiva de um indivíduo, que é a disposição em se suicidar".

Capa do livro "Uma Longa Queda", de Nick Hornby, lançado pela Companhia das Letras - Reprodução - Reprodução
Capa do livro "Uma Longa Queda", de Nick Hornby, lançado pela Companhia das Letras
Imagem: Reprodução

Silvia destaca a qualidade do tratamento dispensado aos personagens da obra. "Eles são cheios de medo, insegurança e têm o sentimento de não pertencerem a este mundo, mas Hornby aborda essas questões de uma forma singela, suave e bem humorada e faz o leitor se apaixonar por seus personagens".

A versão cinematográfica de "Uma Longa Queda" segue a linha de adaptações inaugurada por "Febre de Bola", de 1997, dirigido por David Evans e inspirado no livro homônimo, uma espécie de resgate ficcionalizado da memória do próprio Hornby e sua relação passional com o futebol e o time do Arsenal. A mesma história ganhou nova versão para o cinema em 2005, quando virou "Amor em Jogo" nas mãos dos irmãos Bobby e Peter Farrelly, com Drew Barrymore e Jimmy Fallon.

Em 2000 foi a vez de "Alta Fidelidade" ir para os cinemas, com direção de Stephen Frears e com John Cusack, Jack Black e Catherine Zeta-Jones no elenco. Na história, três amigos trabalham em uma loja de discos e que travam uma espécie de batalha para ver qual deles tem maior conhecimento da cultura pop --as referências ao gênero são as principais marcas de Hornby.

O sucesso da adaptação de "Alta Fidelidade" foi enorme --no Brasil, destacou-se no Festival do Rio BR 2000 e, ao ser apresentado na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, gerou filas gigantescas no Conjunto Nacional-- e transformou Hornby em uma garantia de sucesso também nas telonas. Tanto que, em 2002, veio "Um Grande Garoto", transposto por Paul e Chris Weitz, que apresenta um galã trintão (Hugh Grant) que arruma um filho (Nicholas Hoult) apenas para poder frequentar reuniões de pais solteiros e assim conhecer novas mulheres descompromissadas.

Roteirista e compositor

Mas a obra do inglês não se limita aos livros e suas versões cinematográficas. Hornby também roteirizou "Educação", filme lançado em 2009, dirigido por Lone Schrfig e com Carey Mulligan e Peter Sarsgaard no elenco --o longa foi indicado ao Oscar de melhor filme, melhor atriz e melhor roteiro adaptado. Ele também é o responsável pelo roteiro de "Wild", filme adaptado do livro de Cheryl Strayed, que deve estrear ainda este ano. Em 2015 chegará aos cinemas "Brooklyn", outro longa roteirizado por Hornby, mas adaptado do trabalho do escritor Colm Tóibín.

Hornby acredita que é possível conhecer o caráter das pessoas olhando para suas estantes de CDs, e essa paixão por música o levou a também atuar como compositor. Escreveu a letra das 11 músicas que estão no álbum "Lonely Avenue", feito em parceria com o músico Ben Folds. Artista multifacetado, Nick Hornby atrai seus fãs e desperta a atenção do público em geral onde quer que resolva atuar.