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Escritor não pode ser dono da história do biografado, diz Roberto Carlos

Gisele Alquas

Do UOL, em São Paulo

30/04/2014 08h37

Roberto Carlos continua sendo a favor das biografias, mas defende que o biografado tenha participação nas negociações da obra. A afirmação foi feita ao UOL, nesta terça-feira (29), durante o lançamento de sua fotobiografia, em São Paulo, no mesmo dia em que a Lei das Biografias seria votada na Câmara dos Deputados. Com isso, o cantor mantém a opinião sobre as biografias não autorizadas que havia expressado em entrevista ao "Fantástico", em outubro de 2013.

"Hoje em dia eu não me incomodo mais que existam biografias não autorizadas. Eu só não concordo que o biógrafo seja o dono da história do biografado, acho que é uma coisa errada, absurda. Hoje o biógrafo escreve a história de alguém e o biografado não tem direito às negociações quando o livro está pronto. Eles negociam o livro sem nenhuma participação do biografado. O biografado é o dono da história, o biógrafo narra a historia que é de outro", afirmou. 

"A minha história é minha, eu vivo, eu escrevi com a minha vida. E o biógrafo vai narrar essa história que eu escrevi? O biógrafo pode fazer isso, desde que ele não me ofenda e nem diga mentiras. Quando livro está pronto, na hora que ele vai negociar um filme, por exemplo, ele tem que perguntar para mim ou pelo menos tenho que participar disso. O direito comercial é meu e não do biógrafo. Ele tem direito dos royalties pelas vendas do livro, mas nas negociações a gente tem que combinar, tem que negociar”, disse ele.

O cantor, que havia encabeçado o movimento que exigia autorização prévia para as biografias, acabou se distanciando de artistas que tinham a mesma opinião, como Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Na época, atitude dos integrantes do grupo, o Procure Saber, começou a ser chamada de censura. O movimento surgiu quando entrou em pauta no Congresso um projeto de lei que pede a modificação do artigo 20 do Código Civil, justamente o artigo que determina autorização prévia para a divulgação de imagens, escritos e informações biográficas.

Mais conhecido como Lei das Biografias, o projeto, que está há três anos em tramitação, deveria ser finalmente votado na Câmara nesta terça-feira (29), mas ficará para os próximos dias. Há duas semanas, o autor do texto, o deputado Newton Lima (PT-SP), explicou a urgência do tema: "Todos nós temos o direito à privacidade e à intimidade, mas as pessoas públicas têm esses direitos relativizados em razão do interesse coletivo sobre a vida de quem, de alguma forma, faz parte da história do país".

Amigos de Roberto Carlos também se manifestam sobre as biografias não-autorizadas durante o evento:

Padre Antônio Maria
“Eu também não gostaria que alguém escrevesse minha biografia sem minha autorização porque pode escrever coisas a meu respeito que eu não iria gostar, ou interpretar mal ou qualquer coisa que não seja a verdade. De certo modo é entrar sem pedir licença na vida de alguém”

Liliam Gonçalves, empresária
“Meu pai, o Nelson Gonlçalves, teve uma biografia não-autorizada que foi horrível. Escreveram um monte de mentiras, ficamos muito tristes. Quando a biografia não é autorizada, eles inventam, criam e escrevem o que quiserem. É muito difícil você ler alguma coisa que não é verdade”

Tom Cavalcanti, humorista
“Não existe contra ou favor, existe bom senso. Não acho legal ser evasivo em matéria de foro próprio. Numa vida pública pode fazer citações, mas não entrar em detalhes íntimos de cada um e acho que não é legal. Na Inglaterra os escritores são chamados para discutirem o tema com o biografado. E precisa ser trabalhado uma lei no Brasil para discutir esse meio termo”

Marcos Frota, ator
“Eu entendo o lado do Roberto. Por exemplo, Roberto briga que não pode. Ele é perfeccionista, ele quer contar a história dele do jeito dele, com a linha que ele quer. Por outro lado, um livro sobre o Roberto também seria legal. Fico muito dividido”

Tiago Abravanel, ator
“Não sei se sou a favor, mas a partir do momento que você dá oportunidade para as pessoas escreverem sobre sua vida, elas podem escrever o que quiserem. Tudo tem que ser estudado, caso a caso”