Topo

"Não sei mais falar para adolescente", diz autora de "Confissões"

A atriz, escritora e roteirista Maria Mariana  - Divulgação
A atriz, escritora e roteirista Maria Mariana Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, de São Paulo

22/01/2014 06h00

Quando estreou a peça “Confissões de Adolescente”, inspirada em seus diários, Maria Mariana era apenas uma inquieta menina de 19 anos, muito distante da mãe dedicada que hoje vive com os quatro filhos em um apartamento no Rio de Janeiro. Seus rabiscos originais, no entanto, que renderam livro, peça, série e agora um filme, permanecem intactos. A nova (ou velha) edição de “Confissões” chegou este mês às livrarias, com a capa inspirada no longa, dirigido por Daniel Filho.

“Achei legal manter a edição para as pessoas mais jovens, para que os adolescentes que hoje vão ver o filme possam pegar o livro e botar a mente para funcionar, e pensar sobre tudo o que mudou”, diz por telefone ao UOL.

O livro revela a intimidade de uma jovem Mariana, dona de um relato direto e maduro sobre sexo, drogas, amizade, relacionamentos e até aborto. Segundo a autora, já existe o projeto de uma nova edição atualizada, baseada na última montagem da peça, de 2009, mas sem previsão de lançamento.

Longe dos holofotes desde que interrompeu a carreira para se dedicar à família, ela sente no próprio lar as transformações de duas décadas. E a mãe da adolescente Clara, de 13 anos --sua primogênita--, se diz cética sobre o “know-how” adquirido como “porta-voz” de geração.

“Hoje me reconhecem ligada à adolescência. Mas digo que não aprendi nada. Não serviu para nada. Porque, quando a gente está no cargo de mãe, é outro lugar. Trabalhamos para cativar e conhecer a ‘pessoinha’ que está ali, e respeitar os movimentos que a adolescência traz. É um trabalho muito individual”, afirma.

E o que diferenciam esses movimentos dos que ocorriam 20 anos atrás? “Hoje acontece tudo mais depressa. Minha filha, por exemplo, amadureceu muito rápido, mais do que eu. Ela vive questionamentos de 15, 16. Ontem até chorou, dizendo não sabia o que queria fazer na vida. Já está nesse nível.”

A velocidade cotidiana, impulsionada pela tecnologia, é uma das tônicas do filme “Confissões de Adolescente”, que estreou este mês nos cinemas. Nele, o surrado diário de papel dá lugar ao dinamismo das redes sociais. Sobre o longa, Maria Mariana afirma que ele soube manter sua essência.

“Em alguns momentos a história parece até um pouco superficial, mas isso não é exatamente uma crítica. Além de ser um filme, que é outro formato, a adolescência hoje de certa forma é assim mesmo, com tudo muito mais rápido, com ninguém tendo tempo para nada”, diz Mariana, que faz uma ponta como advogada, recebendo a personagem que ela mesma interpretou na TV para uma entrevista de emprego.

A transposição do texto para as telas de cinema ficou a cargo do roteirista Matheus Souza, de 25 anos, que também adaptou a peça em sua última versão, com as atrizes Clarice Falcão e Sophie Charlotte.

Convidada a escrever o texto, a “mãe” de "Confissões" preferiu passar o bastão, por um simples motivo de ordem cronológica. “Escrever para adolescente é diferente hoje. Tenho 40. Até tentei no início, mas não sei mais falar para nem como alguém de 15 anos. A peça e o filme tinham que ser atualizados”