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Autora de "Belo Desastre" se surpreende com reação do público no Brasil

A autora Jamie McGuire em encontro com fãs no Rio de Janeiro - Fabíola Ortiz/UOL
A autora Jamie McGuire em encontro com fãs no Rio de Janeiro Imagem: Fabíola Ortiz/UOL

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio de Janeiro

20/11/2013 00h54

"Se eu disser que não estou intimidada, eu estarei mentindo", disse ao UOL Jamie McGuire, precursora do gênero chamado de new adult, a literatura erótica para jovens adultos. A autora norte-americana do best-seller "Belo Desastre", que só nos Estados Unidos vendeu 500 mil exemplares, esteve na noite desta terça-feira (19) no Rio de Janeiro para uma sessão de autógrafos.

Acompanhada de três seguranças e seus assessores, a escritora chegou dez minutos antes do início da sessão de autógrafos, marcada para as 19h. Esta foi a primeira vez que chegou a uma sessão de autógrafos escoltada. "É uma sensação estranha, como se fosse uma popstar", confessou. "Mas eu fico até a última leitora. Se os leitores aparecem eu assino todos os livros. Ninguém vai embora sem autógrafo", garantiu. 

Em um bate-papo exclusivo com o UOL, a norte-americana de Oklahoma admitiu que não sabia o que esperar da legião de fãs brasileiras, entre 17 e 24 anos, que a aguardavam para a sessão de autógrafos. "Eu amo essa sensação de excitação e entusiasmo. Acho que vai ser realmente emocionante”, comentou momentos antes do evento.

Após vender 50 mil exemplares no Brasil do primeiro livro da série envolvente do bad boy Travis Maddox e a jovem Abby, McGuire veio pela primeira vez ao Brasil lançar a sequência "Desastre Iminente" (pela editora Verus), que já vendeu 28 mil exemplares e figura na lista dos mais vendidos.

Foram quase três horas de autógrafos na livraria Saraiva no Shopping Riosul. Este não foi seu recorde: ela já passou cerca de quatro horas em Orlando, no ano passado, para assinar mais de mil livros. "Fiz apenas um intervalo para ir ao banheiro. Foi uma das coisas mais incríveis que eu já vi", contou.

  • Faíola Ortiz/UOL

    A blogueira Priscila Cavallaro com tatuagem do livro "Belo Desastre", de Jamie McGuire

Às 18h30, McGuire deixou o hotel Windsor, em Copacabana, onde está hospedada desde que chegou na manhã desta terça. As 300 senhas começaram a ser distribuídas às 17h para as fãs que já se aglomeravam no local. À tarde, a autora teve um encontro com oito blogueiras.

No carro, a best-seller garantiu que estava ansiosa por ser a sua primeira sessão de autógrafos com o público brasileiro. Nesta quarta-feira (20), ela estará em São Paulo e na quinta (21), em Salvador.

Questionada se está acostumada a lidar com as centenas de fãs excitadas que, em geral, gritam, se emocionam e às vezes causam tumulto, McGuire se mostrou surpresa.

UOL - Por que você acha que consegue vender tantos livros no mundo inteiro?

McGuire - Acho  que não gosto de ler um livro inteiro esperando alguma coisa acontecer no final, gosto de ler livros que tenham coisas e tramas acontecendo a todos os momentos. Tenho um pouco de desvio de atenção e, por isso, gosto de ler novelas que sempre mostram coisas surgindo no meio. E acho que é justamente por isso que faz com que elas gostem tanto e continuem lendo meus livros até o final.

Como você se descobriu neste gênero new adult?

Eu não sabia o que era exatamente o new adult quando comecei. É um estilo novo, ninguém nunca tinha escrito histórias sobre a época do colegial e, quando escreviam, era algo mais de autopublicação. Os editores costumavam dizer que leitores não queriam ler sobre personagens de colegial e eu meio que mudei essa tendência.

Por que você ama escrever?

Escrever abriu tantas portas para mim, viajo a tantos lugares diferentes, como o Rio de Janeiro. Esta é a minha primeira vez que venho. Escrever simplesmente mudou a minha vida de um jeito maravilhoso. É algo que realmente amo fazer. Depois que meu filho nasceu, tentei tirar um ano de folga da escrita, mas quando ele já tinha três meses senti que tinha que voltar a escrever de novo. 

O que significa escrever para essa idade de jovens adultos?

É uma idade que curto escrever porque os personagens são jovens o suficiente para continuarem a cometer erros e bastante adultos para já entrarem em um pouco de confusão (risos). Acho que é um momento de muitas primeiras vezes, o seu primeiro amor, a sua primeira vez de fazer sexo, talvez a primeira vez de se mudar e morar sozinha e abrir suas asas e explorar sua independência. Você pode explorar pontos para esta idade como sexo, bebida, drogas, virgindade. É importante ter livros para jovens adultos e ajudar nessa transição. Assim como os filmes tem as suas classificações. O estilo young adult é tão vasto e eu não quero que meu filho de 12 anos leia a mesma coisa que um de 17 anos leria.

Em quem se inspirou para criar o personagem Travis em seu segundo livro da série "Desastre Iminente"?

Travis Maddox foi de fato inspirado em uma pessoa real, foi um cara por quem tive uma grande queda quando tinha uns 18 ou 19 anos. Só mudei o nome, ele não se chamava Travis. Muitas das cenas em “Belo Desastre” também fizeram parte da minha própria experiência no colegial. Travis é um bad boy que vive mudando de garotas e acho que a heroína no livro tem quase que uma troca com a leitora. Elas vêem que a heroína são elas mesmas. É por isso que se apaixonam pelo Travis...

Recentemente você teve os direitos de "Belo Desastre" comprados pela Warner Bros para virar filme...

Já faz um tempo isso, é uma opção da Warner Bros fazer um filme. Eles compraram os direitos. Até onde sei, já tem o produtor Donald De Line (há mais de 20 anos na indústria cinematográfica e que já produziu "Lanterna Verde" de Martin Campbell, "Uma Saída de Mestre", de F.Gary Gray com Edward Norton e "Rede de Mentiras" com Leonardo DiCaprio e Russell Crowe). Ainda não tem diretor, mas a roteirista é a Julia Hart ("The Keeping Room"). Ainda está em aberto o que irá acontecer.

Você tem ciúmes de seus livros quando pensa que podem virar filmes? Receia que sejam distorcidos?

Para um autor, acho que tudo em um livro é importante e não deve ser esquecido. Você já sabe as cenas que as leitoras gostam e as falas que elas gostam. Acho importante seguir o livro e levar para as telas o que as leitoras gostam quando lêem nos livros. É muito importante não trair essa relação com os leitores. Se for feito um filme, gostaria que fosse feito de uma forma que o leitor saia do cinema com uma sensação boa.

Você gostaria de ajudar na escolha do elenco e dar pitacos no filme de "Belo Desastre"? Pensa em alguém para viver Travis no cinema?

Acho que todo autor gostaria de ser consultado, mas nem sempre é. Decidi que sim, gostaria de ser consultada com mais frequência. Não vejo muito TV, acho que pode ser alguém não tão conhecido, mas tem que ser alguém com várias aptidões para atuar, pois muitas vezes Travis é sensível e outras ele é até um pouco assustador com mágoas que está sempre lutando. Tem que ser alguém que consiga mostrar todas as emoções do Travis.

Como se comunica com os fãs? Consegue manter contato frequente com as centenas de seguidores?

Eu os torno parte do meu dia-a-dia. Escrevo, depois faço um intervalo, fico online, vejo meu Twitter, meus emails, Facebook. Sempre. Depois volto a escrever por mais algumas horas e faço tudo de novo. Gosto de ficar em dia, acho que se alguém tira tempo para me procurar, eu devo e irei dedicar parte do meu tempo para responder.

  • Faíola Ortiz/UOL

    O novo livro da autora, "Desastre Iminente", já vendeu 28 mil exemplares no Brasil

Quais são seus próximos romances? Pretende seguir com a série dos irmãos Maddox?

Estou sempre escrevendo novos livros. Tenho dezenas de livros na minha cabeça e preciso colocar no papel agora. Tenho ideias para livros, títulos e personagens e agora tenho que fazer um por vez. O próximo que está para sair é "Beautiful Wedding" (Belo Casamento, em tradução livre), que é sobre o casamento de Travis e Abby. Será lançado no começo de dezembro. Levei nove semanas para escrever. "Beautiful Wedding" é um livro que preenche os vazios e brechas que deixei em "Belo Desastre" ou "Desastre Iminente". Nunca escrevi sobre casamento em nenhum dos livros. É algo que sentia que devia aos meus fãs. Travis tem quatro irmãos e eu pretendo escrever um livro para cada um deles. Mas agora estou trabalhando em um livro chamado "Apolonia". É um romance de ficção científica new adult, a primeira vez que escrevo sci-fi. É um pouco mais obscuro em relação ao que eu já escrevi antes, a heroína tem um passado que teve que sobreviver. Isso reaparece muitas vezes na novela e você acompanha passo a passo ao longo da leitura. 

Qual a diferença de escrever sci-fi em si e a ficção cientifica para new adults?

O diferente nos meus livros é que eu sempre foco nos relacionamentos, pode ser de zumbis, sci-fi, paranormal, ou um romance contemporâneo, mas você sempre vai virar a página e saber que vai ter uma história com relacionamentos entre personagens. Todo o resto, cenário e tempo é secundário. Comecei a escrever há dois meses "Apolonia". Quando escrevo livros os vejo como um filme na minha cabeça e tento fazê-los como se estivesse vendo um filme.

O new adult é relativamente novo no Brasil, mas já existem muitos autores deste estilo. Você acha que as pessoas podem se cansar de ler esse gênero?

Acho que o new adult é ainda muito novo, tornou-se popular nos EUA há alguns anos e o "Belo Desastre" foi um dos primeiros livros lançados. Mas acho que o mercado já está realmente saturado nesse momento. É típico que isso aconteça. Quando alguma coisa funciona, as pessoas querem escrever e querem entrar nesse mercado. Elas se inspiram e começam a escrever o seu próprio livro. A indústria tem altos e baixos, assim como a série "Crepúsculo", teve um grande boom e agora não são muitos os que continuam lendo.

Você receia que seus livros não sejam mais lidos?

Por isso eu escrevo dramas diferentes, a popularidade pode ir embora. Por que ficar estagnada em apenas um drama?

Pretende escrever alguma biografia de alguma personalidade?

Se algum dia escrever uma biografia seria certamente a minha. Então seria uma autobiografia. Escrever sobre a vida de alguém não me interessa muito. O que eu posso fazer é tentar passar algum fato realista de alguém para a ficção, isso sim, mas escrever não ficção realmente não me interessa. Eu tenho pensado já nisso há algum tempo (em fazer uma autobiografia), mas acho que ainda tenho muita vida pela frente. Quero esperar para fazer tudo antes, ter todas as experiências e depois mais para frente na vida eu escreveria uma autobiografia.