Desenhista e jornalista, Millôr Fernandes será o homenageado da Flip 2014
O humorista, dramaturgo, desenhista, poeta e jornalista Millôr Fernandes será o homenageado da Flip 2014 – Festa Literária Internacional de Paraty. Ele morreu no dia 28 de março de 2012 em sua casa, no Rio de Janeiro, e deixou uma inesgotável obra literária e intelectual com tom humorístico e ao mesmo tempo refinado, fio condutor do trabalho do artista, que ganhou fama pelo país nas charges, textos e frases carregadas de crítica social.
“Millôr trazia o mundo da Flip num homem só: da tradução de Shakespeare ao cartum, do jornalismo ao hai-kai. Sua crítica ao poder é fundamental no Brasil de 2014”, afirma o novo curador da Flip, Paulo Werneck.
Ao homenagear Millôr na data em que ele completaria 90 anos – ou 91, se considerarmos o ano real de seu nascimento e não o que consta em registro –, a Flip 2014 vai propor uma reavaliação crítica de um autor contemporâneo. Millôr foi um dos convidados em 2003, ao lado de Ruy Castro.
"Não foi por acaso que Millôr esteve entre os convidados da primeira Flip. Em seu trabalho, podemos reconhecer princípios que nortearam a festa literária, que dissolve fronteiras e promove a integração entre as artes. E que, assim como a obra de Millôr, fala para um público abrangente sem perder a erudição”, afirma Mauro Munhoz, diretor-presidente da Associação Casa Azul e diretor geral da Flip.
Nas palavras de Paulo Werneck, Millôr “foi também um crítico da falsa cultura, das ilusões da glória literária e artística. Provou que erudição, humor e informalidade, juntos, formam uma liga indestrutível”. De quebra, inventou o frescobol (“o único esporte em que ninguém ganha”) e uma concepção muito particular (e universal) de democracia: “Todo homem tem o sagrado direito de torcer pelo Vasco na arquibancada do Flamengo”.
A Flip 2014 acontecerá entre 30 de julho e 3 de agosto. Realizada sempre no início do mês de julho, a Flip escolhe nova data para essa edição em função da Copa do Mundo, que acontece durante o mês de julho no Brasil.
Trajetória
Nascido no bairro carioca do Méier, em 16 de agosto de 1923, Millôr foi registrado oficialmente em 27 de maio de 1924. Com um ano, ficou órfão de pai e, aos dez anos, de mãe. Ao longo da vida, se firmou como um dos mais importantes e atuantes intelectuais brasileiros. Adaptou e escreveu obras para teatro e para televisão, além de ter imortalizado diversas frases e aforismos.
Em 1943, após ter passado pelo jornal "Diário da Noite" e pela revista "A Cigarra", onde criou seu famoso pseudônimo Vão Gogo, Millôr retornou à revista "O Cruzeiro". Na publicação, criou, ao lado de Péricles (de "O Amigo da Onça") a seção "O Pif-Paf".
Autodidata, realizou em 1942 a sua primeira tradução, que foi para "Dragon Seed", romance da norte-americana Pearl S. Buck, com o título "A Estirpe do Dragão". Anos mais tarde essa função lhe renderia o título de maior tradutor de Shakespeare no Brasil. Ele também traduziu obras de Anton Tchekov, Bernard Shaw, Dario Fo, Luigi Pirandello, Molière, Mario Vargas Llosa, Samuel Beckett, R. W. Fassbinder e Tennessee Williams.
Em 1946 , Millôr fez sua estreia literária com o livro "Eva Sem Costela". Sete anos depois, foi montada sua primeira peça de teatro, "Uma Mulher em Três Atos". Em 1964, aos 41 anos, editou a revista humorística "O Pif-Paf", considerada uma das pioneiras da imprensa alternativa.
Quatro anos depois, participou da fundação do jornal satírico "O Pasquim", uma das vozes mais ativas contra a censura e o governo militar durante a ditadura nos anos 70. A publicação teve colaboração de Ruy Castro, Paulo Francis, Ivan Lessa, dos cartunistas Jaguar e Ziraldo, entre outros nomes importantes do jornalismo brasileiro.
Autor de mais de 40 títulos literários, o cartunista atuou como colaborador de diversos jornais e publicações ao longo dos últimos 60 anos, entre eles "Folha de S. Paulo", "Correio Braziliense", "Jornal do Brasil", "Isto É", "O Estado de S. Paulo", "O Dia" e "Veja".
Como desenhista, com passagem pelo Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro entre 1938 e 1943, expôs seus trabalhos no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro em duas ocasiões. Em 1981, seus trabalhos gráficos foram reunidos em "Desenhos" (ed. Raízes Artes Gráficas). Como poeta, publicou "Papaverum Millôr" (ed. Prelo, 1967), "Hai-kais" (ed. Senzala, 1968) e "Poemas" (ed. L&PM, 1984).
Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim.
Millôr FernandesAlém de dramaturgo, atuou também como roteirista de cinema, séries e programas de TV, adaptando para a Rede Globo na década de 1990 a obra "Memórias de um Sargento de Milícias", de Manuel Antônio de Almeida. No filme "Terra Estrangeira" (1995), de Walter Salles, colaborou com diálogos adicionais.
Em 2000, tornou-se um dos pioneiros a publicar na web ao lançar o "Millôr On Line" no UOL.
Entre seus últimos títulos, Millôr lançou em 2007 pela editora Desiderata "Novas Fábulas e Contos Fabulosos", reunião de contos e fábulas ilustrados pelo cartunista Angeli. Em 2010, a atriz Fernanda Torres adaptou na série "Amoral da História" duas obras anteriores para o canal de televisão GNT, "Fábulas Fabulosas" e "A Bíblia do Caos".
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