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Brasileiro leva arte feita com sobras de material de construção a Frankfurt

Mariana Pasini

Do UOL, em São Paulo

21/08/2013 07h00

Onde a maioria das pessoas vê apenas um compensado de madeira que não pode servir além de tapume, o brasileiro Henrique Oliveira vê árvores, curvas e até mesmo obras de arte. Foi experimentando com esse tipo de material que o artista plástico natural de Ourinhos, no interior de São Paulo, chegou ao Palais de Tokyo, em Paris, onde expõe até o mês que vem a instalação “Baitogogo”, na qual pilares de concreto branco parecem ganhar vida ao se transformar em galhos de árvores, como parte da mostra "Nouvelles Vagues".  

Oliveira parte em breve para Frankfurt, na Alemanha, cidade na qual vai expor a partir de outubro algo parecido com o que mostrou na capital francesa. Ele vai participar de uma mostra dedicada a instalações de artistas brasileiros na instituição Schirn Kunsthalle. “Não estou preparando nada especificamente” revela ele durante entrevista ao UOL em seu ateliê, na capital paulista. “O trabalho será decidido na hora mesmo.”

  • Reprodução/Site oficial Palais de Tokyo

    A instalação "Baitogogo", que fica exposta no Palais de Tokyo, em Paris, até setembro de 2013

A falta de um plano mais bem definido não só para a exposição mas também para o que vai querer causar no público não o preocupa, já que o paulista valoriza a experimentação em seu trabalho. “A pergunta ‘O que você queria passar?’ pressupõe que a gente está pensando como que o público vai reagir àquilo, e na verdade acho que o trabalho reage ao que o artista está a fim de fazer.”

Oliveira consegue os tapumes em caçambas e até em construções, antes de serem jogados fora, o que contribui para que os custos maiores com seus trabalhos sejam os de mão de obra. Para facilitar o manuseio, é comum que pedaços de madeira sejam embebidos em água. A escolha do material está ligada a uma volta à natureza, sentimento que o artista tem desde que brincava em construções, casebres abandonadas e na marcenaria do pai quando criança.

“Uso esse material de origem natural, a madeira, mas que depois é industrializado e então é descartado pela sociedade. De uma certa maneira, em alguns trabalhos, elas voltam a tomar essas formas orgânicas, um movimento de volta à natureza.”

Patinho feio?
Mais oito artistas nacionais dos anos 1960 até a atualidade, como Tunga, Hélio Oiticia e Lygia Clark, também terão obras expostas na mostra em Frankfurt. Oliveira não nega o peso da responsabilidade de representar o Brasil ao lado de nomes como o criador do "penetrável" e uma das fundadoras do Grupo Neoconcreto.

  • Karime Xavier/Folhapress

    "A origem do Terceiro Mundo", instalação em formato de vagina, que Henrique Oliveira criou para a 29ª Bienal de SP

“Quando você vai expor numa galeria que sabe que não terá tanta visitação, às vezes numa cidade meio fora do circuito da arte contemporânea, tem mais liberdade para experimentar, ‘Vou tentar isso daqui, se não der certo tanto faz’. Mas quando você expõe num lugar tipo Paris, num museu bacana, sente um peso maior, é mais responsabilidade”, diz.

Além dos compensados, Oliveira trabalha com espuma de colchões, móveis abandonados e também pinta. Ainda que o currículo do artista não seja pequeno, incluindo passagem pela Bienal do Mercosul de 2009 e a polêmica obra em formato de vagina que expôs na Bienal de São Paulo de 2010, Henrique procura levar a profissão com desprendimento. “Talvez a arte não seja nem mais importante, talvez daqui a cem anos algumas pessoas vão olhar para esse momento e falar ‘Ah, estava todo mundo tentando fazer arte mas não é isso que importava, e sim outro tipo de criação’.”

Ele não nega, porém, ter ficado lisonjeado quando sua obra para a Bienal do Mercosul foi classificada como “feia”. “O crítico usou um conceito de belo, que é algo bem ultrapassado. Foi meio engraçado, patético de ler, no século 21, alguém que pensa assim. Foi até um pouco transgressor, mas obviamente não sou. O mundo já mudou, mas ainda tem pessoas pensando desse jeito.”