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Criador de "V de Vingança", Alan Moore diz que "é maravilhoso o que está acontecendo" no Brasil

O autor britânico Alan Moore  - Divulgação
O autor britânico Alan Moore Imagem: Divulgação

Estefani Medeiros

Do UOL, em São Paulo

29/06/2013 05h00

Pouca gente conhece a verdadeira origem da onipresente máscara usada pelos manifestantes em protestos no Brasil e no mundo nos últimos anos. Pode culpar Alan Moore. Avesso a entrevistas e holofotes, o quadrinista britânico que criou, com o desenhista David Lloyd, a HQ "V de Vingança" praticamente se nega a falar da obra, muito menos divulgá-la.
 
Contrariando todas as expectativas, Moore aceitou conversar com o UOL por telefone, por alguns minutos, falando de sua casa no sul da Inglaterra, e mandou uma mensagem para os manifestantes brasileiros que adotam o símbolo que criou: “Desejo o melhor para os protestos no Brasil. Acho que o que estão fazendo é maravilhoso e espero que isso progrida para uma vitória. Mas a HQ não é a forma que eu me conecto com esses protestos”, explica.

A história do anarquista que queria derrubar o governo britânico foi publicada inicialmente em preto e branco pela editora Warrior entre os anos de 1982 e 1985, com ilustrações de Lloyd. Em 1988, foi colorida e republicada a pedido do selo Vertigo, da DC Comics, que estava de olho no fechamento da editora.

“Há 30 anos eu estava apenas respondendo à situação da Inglaterra da minha perspectiva. Não eram premonições do que aconteceria no futuro”, comentou o autor, que reluta em falar sobre o tema. Assim como “Watchmen”, os direitos autorais de "V" não pertencem mais a ele após anos de brigas com a DC.  

“Acho que não tenho muito a dizer a respeito [da máscara em relação ao protesto], porque eu sou apenas o criador da história ‘V for Vendetta’. E eu não tenho uma cópia de 'V' em casa, isso foi tirado de mim por grandes corporações. Não tenho nenhuma associação a esse trabalho há alguns anos e podem existir consequências em falar sobre ele”, disse o mago dos quadrinhos, de sotaque inglês carregado. 

DAVID LLOYD


Gosto de saber que a máscara está sendo usada como um símbolo de resistência. É para isso que ela foi criada

Moore, que completa 60 anos em novembro deste ano, prefere creditar a ideia das imagens e da obra “ao artista que ilustrou”, sem mencionar o nome de Lloyd. O ilustrador hoje detém os direitos autorais não só do merchandising gerado com a venda das máscaras de Guy Fawkes usadas nos protestos, como do filme. Ao UOL Notícias, o quadrinista disse que iria as ruas, caso estivesse na situação dos brasileiros. 

Antes de desligar, o autor antecipou uma informação aos fãs com um comentário despretensioso. “Estou escrevendo essa história, 'Jerusalém', que é muito densa. Estou trabalhando nela há seis anos e cheguei ao último capítulo".

O romance é uma história com ambientação noir e baseada em um pastor de Northampton (condado onde Moore mora), James Hervey, que ele considera ser o pai do movimento gótico. 

Guy Fawkes e V são personagens diferentes

Fawkes é um personagem real da história da Grã-Bretanha que tentava substituir um governo teocrático protestante por um católico.

  • Reprodução

    Capa da primeira edição de "V de Vingança", lançada em 88

No dia 5 de novembro de 1605, ele foi preso quando planejava a Conspiração da Pólvora, que tinha como objetivo explodir o Parlamento inglês e tirar o rei Jaime 1º do poder. 

Já V é um personagem fictício criado por Alan e Lloyd e que faz uma reflexão distópica sobre como seria a Inglaterra sob um governo fascista após uma guerra nuclear. Moore, que sempre simpatizou com movimentos de esquerda como a anarquia e o comunismo, tinha como objetivo criar uma história com cenário britânico em uma época que as grandes editoras de quadrinhos estavam desenhando heróis nos Estados Unidos. 

Traduzida para o português como "V de Vingança", a revista chegou ao país em cinco edições publicadas pela Editora Globo em 1989. A imagem da máscara foi popularizada pelo grupo de hackers Anonymous e o movimento Occupy, dois anos após o lançamento do do lançamento do filme, estrelado por Hugo Weaving e Natalie Portman e produzido pelos irmãos Wachowski.