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"O povo cansou de tanta safadeza", diz Carlos Alberto de Nóbrega sobre manifestações

Cíntia Abravanel e o humorista Carlos Alberto de Nóbrega em coquetel realizado em 2012 - Léo Franco/AgNews
Cíntia Abravanel e o humorista Carlos Alberto de Nóbrega em coquetel realizado em 2012 Imagem: Léo Franco/AgNews

Thays Almendra

Do UOL, em São Paulo

18/06/2013 22h58

O comediante Carlos Alberto de Nóbrega, homenageado na edição de 2013 do festival de humor Risadaria, afirmou ser favorável às recentes manifestações contra o aumento das passagens de ônibus em São Paulo e no Rio de Janeiro, além dos demais protestos pelo Brasil.

"As manifestações têm seu lado maravilhoso. Não são 20 centavos. Acho que o povo cansou de tanta safadeza, de tanta impunidade, de tantos hospitais podres, da justiça não botar na cadeia quem tem que colocar", disse o artista de 77 anos. "Desde a época do Collor, não vejo o povo com tanta ganância por justiça."

No entanto, Carlos Alberto tem ressalvas quanto aos atos de vandalismo que foram testemunhados durante os protestos. O humorista compara o movimento com o universo do futebol. "Não é a torcida organizada que não presta. São 50 bandidos que entram em uma torcida organizada e fazem baderna, matam inocentes. Nas manifestações, estávamos fazendo algo bonito. Por que quebrar lojas e tentar invadir a prefeitura e o governo?", disse.

Carlos Alberto compareceu nesta terça-feira (18) ao Teatro Geo, espaço localizado no Instituto Tomie Ohtake na zona sul de São Paulo, e participou do evento ao lado dos curadores Paulo Bonfá, Marcelo Tas e Diogo Portugal, além de outros comediantes como Marco Luque. Com uma platéia só para convidados, uma sequência de espetáculos de diferentes artistas marcou a homenagem ao "dono do banco" do humorístico "A Praça É Nossa", transmitido pelo SBT desde 1987 com Carlos Alberto de Nóbrega no comando.

Na homenagem, Carlos Alberto ficou sentado em um banco no meio do palco durante o espetáculo apresentado. A ideia era imitar o assento de "A Praça É Nossa". Com Tas ao seu lado, o comediante revelou que seu personagem favorito no programa é João Plenário, o político que sempre enrola para explicar suas falcatruas. "É aquele político que nós usamos para fazer uma crítica a todo esse sistema que está aí, usando o humor", disse.

Carreira

Carlos Alberto também falou sobre a vida como roteirista e mostra certa incredulidade com a memória do brasileiro sobre seus feitos. "Em um país em que as pessoas não sabem sequer o Hino Nacional, como você espera que alguém saiba quem escreveu 'A Família Trapo'?", afirmou. Mesmo com o ressentimento, Carlos Alberto relembra com alegria da época, já que dividia a autoria dos textos do programa com o comediante Jô Soares.

Ao analisar o que aconteceu em sua carreira, Carlos Alberto comentou sobre sua saída da TV Globo no começo da década de 1980. "Deixei a emissora por imposição do padrão de qualidade da emissora", afirmou o comediante, para depois levar a plateia aos risos. "Fiquei com muita raiva de mexerem nas coisas do meu pai. Sai de lá e pensei: não quero que nenhum filho da **** mexa nos textos do meu pai. Aí, no final quem mexeu fui eu."

Depois de décadas de carreira, Carlos Alberto guarda Silvio Santos com mais carinho na memória. "Ele nunca deu palpite em 26 anos de programa, nunca me cobrou sobre audiência", disse, sem deixar de cutucar o mandachuva do SBT. "O que aconteceu é que ele cresceu muito e se isolou."

Risadaria em 2013

Neste ano, o evento de comédia se estende por dez dias e está espalhado em 15 endereços por toda a cidade de São Paulo. "Queríamos atingir o maior número de pessoas, por isso temos programação para todas as idades", afirmou Bonfá. Ao todo, o Risadaria 2013 conta com 200 artistas, sendo três deles estrangeiros.