Votantes do Prêmio Jabuti reagem a polêmica e elegem obra juvenil como livro do ano de ficção
“A Mocinha do Mercado Central”, de Stella Maris Rezende, foi escolhido livro do ano de ficção no 54º Prêmio Jabuti, premiação literária mais tradicional do país, em uma edição em que uma polêmica envolvendo as notas atribuídas por um dos três jurados da categoria romance levantou questionamentos sobre o regulamento da honraria. O prêmio foi anunciado na noite desta quarta-feira (28) em cerimônia na Sala São Paulo, na capital paulista.
A polêmica parece ter sensibilizado os votantes da etapa final do Jabuti, que escolheram uma obra juvenil como livro do ano de ficção no lugar de um romance, gênero que costuma dominar a premiação.
Stella agradeceu Câmara Brasileira do Livro e a Globo Livros. "A literatura é a arte que fala com silêncios e cala com palavras", falou ao receber o prêmio.
O juvenil “A Mocinha do Mercado Central” acompanha as viagens de uma garota do interior de Minas por vários lugares do país, onde adota personalidades e nomes diferentes. Rezende é uma veterana do gênero, com mais de vinte títulos publicados.
O livro do ano de não-ficção foi "Saga Brasileira", da jornalista Miriam Leitão, uma grande reportagem sobre as mudanças monetárias no país até a consolidação do real.
O livro do ano de ficção foi escolhido entre os primeiros lugares nas categorias romance, contos e crônicas, poesia, infantil e juvenil. Concorriam ao prêmio de livro do ano de não ficção os vencedores nas categorias teoria/crítica literária, reportagem, ciências exatas, tecnologia e informática, economia, administração e negócios, direito, biografia, ciências naturais, ciências da saúde, ciências humanas, didático e paradidático, educação, psicologia e psicanálise, arquitetura e urbanismo, fotografia, comunicação, artes, turismo e hotelaria, gastronomia.
Os vencedores foram escolhidos por votação entre associados da Câmara Brasileira do Livro, do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, da Associação Nacional de Livrarias e da Associação Brasileira de Difusão do Livro, além dos jurados das etapas anteriores do Prêmio Jabuti. Na edição deste ano, 49 editoras foram premiadas, considerando os três primeiros lugares de todas as categorias.
Em entrevista coletiva após a premiação, Stella e Miriam ressaltaram a coincidência das vencedoras deste ano serem duas mulheres mineiras. Miriam revelou que já fechou contrato com a editora Intrínseca para mais uma obra de não-ficção que deve sair em 2014. Ela também contou que está assinado contrato para a publicação de três livros infantis que já estão prontos. Questionadas sobre a polêmica ocorrida na categoria romance, elas apontaram a solidez do Prêmio Jabuti. "Esse prêmio tem 54 anos. Nada que não é sólido permanece por tanto tempo. Qualquer problema que aconteça será resolvido pelos curadores", disse Miriam.
Polêmica
A divulgação do vencedor do 54º Prêmio Jabuti na categoria romance foi seguida por uma polêmica devido às notas do jurado identificado como “C” – identificado pela Folha de S.Paulo como o crítico e editor Rodrigo Gurgel – que atribuiu duas notas 0 e um 0,5 ao livro “Infâmia, da presidente da Academia Brasileira de Letras, Ana Maria Machado, levando à vitória do novato Oscar Nakasato, com seu romance de estreia “Nihonjin”. No catálogo do evento, foi confirmado que o jurado C - pivô do escândalo - era o crítico literário Rodrigo Gurgel. Os outros dois jurados foram Amilton Pinheiro e Suzana Ramos Ventura.
Rodrigo Gurgel é colaborador do periódico literário "Rascunho", do Paraná, e da revista eletrônica de crítica e poesia "Sibila". Ele lançou recentemente “Muita Retórica, Pouca Literatura - De Alencar a Graça Aranha” e é considerado crítico rigoroso tanto de autores contemporâneos quanto de escritores clássicos.
Em entrevista concedida ao UOL em outubro, logo após o anúncio dos vencedores, o curador do prêmio, José Luiz Goldfarb, expressou seu descontentamento com a manipulação matemática das notas pelo jurado “C” e prometeu uma revisão do sistema de avaliação para a edição 2013. Nesta quarta-feira, ele afirmou que ainda não há nada concreto sobre mudanças no regulamento e que haverá uma reunião na quinta-feira para tratar do assunto. As novidades serão anunciadas apenas em janeiro.
Para o curador, a polêmica pode ter influenciado os votos da última fase da premiação, mas "com certeza ela fez as pessoas lerem o livro".
Este é o terceiro ano consecutivo em que o mais tradicional prêmio literário do país é ofuscado por polêmicas. Em 2010, uma brecha no regulamento, que permitia que os jurados votassem nos três primeiros colocados de cada categoria para o prêmio de livro do ano, levou à escolha de “Leite Derramado”, de Chico Buarque, como livro do ano de ficção depois de ter ficado em segundo lugar na categoria de romance. Em 2011, a primeira lista de finalistas continha diversas publicações que não se adequavam ao regulamento da premiação e acabaram sendo desclassificados.
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