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Agência "Magnum" se despede da fotografia analógica com livro sobre seus contatos

Fotografia de David Hurn mostra os Beatles em momento de ensaio no Abbey Road, em março de 1964 - David Hurn/Magnum Photos/ Latinstock Brasil
Fotografia de David Hurn mostra os Beatles em momento de ensaio no Abbey Road, em março de 1964 Imagem: David Hurn/Magnum Photos/ Latinstock Brasil

Do UOL, em São Paulo

22/11/2012 05h00

Imagens históricas de fotojornalistas consagrados como Henri Cartier-Bresson, Thomas Dwirzaj e René Burri são o tema de "Magnum Contatos", livro da pioneira agência de fotografia que apresenta em grandes imagens como esses profissionais organizavam seus cadernos de contatos, uma folha que reunia diversos negativos de filmes 35 mm. 

Comparados aos cadernos de rascunhos de artistas pela curadora Kristen Lubben, os contatos são fruto da fotografia analógica, usados na época em que os fotojornalistas não usavam recursos digitais. Organizado cronologicamente, o livro é introduzido por uma foto de Cartier-Bresson na Sevilha, quando fazia uma viagem pela Espanha em abril de 1933. 

"Uma folha de contato é como o livro de anotações de um psicanalista. Tudo fica inscrito - o que quer que nos tenha surpreendido, o que capturamos em pleno voo, o que perdemos, o que desapareceu, ou um acontecimento que transcorre até se tornar uma imagem que é pura alegria", explica a editora no texto descritivo na imagem. 

  • Creative Commons

    "Dalí Atomicus", com Salvador Dalí, mostra montagem feita sem edição digital

O livro é formado pelas fotos escolhidas pelos fotógrafos e também por sua página de contatos, que mostram rascunhos, círculos, e detalhes descritos pelos artistas nas imagens descartadas. Também é possível ver o processo de edição das imagens, que sem poder passar por filtros de luz ou edições digitais, eram escolhidas ou por um momento de sorte ou por cliques e tentativas de luz e sombra do fotógrafo.

Paralelamente, o livro conta a história da humanidade em seus momentos mais marcantes nos últimos 70 anos. Das guerras a retratos de ícones como Che Guevara, em imagem imortalizada pela revista "Life", de naturezas visitadas pela primeira vez aos mortos no Iraque e a eleição do presidente americano Nixon. Além de grandes momentos do entretenimento como a clássica montagem "Dalí Atômicus", com o pintor Salvador Dalí, e o retrato dos Beatles na gravação de "Os Reis do Iê Iê Iê" no Abbey Road. 

Para o fotógrafo dos Beatles, David Hurn, o principal desafio em registrar imagens do quarteto de Liverpool, era que você precisava mostrar o rosto dos quatro, e isso não é tão simples quanto parece, já que os músicos eram instruídos a não posar. Hurn explica que na época, um fotógrafo só poderia levantar a câmera caso achasse que valia a pena. "As melhores imagens só ficam óbvias depois que você olha as folhas de contatos. A imagem poderia ser melhorada caso desse um passo para frente ou para trás? Qual seria o resultado caso tivesse tirado a foto um momento antes ou depois?", comenta no livro. 

  • David Hurn/Magnum Photos/ Latinstock Brasil

    Folha de contato mostra edição da foto dos Beatles

O último fotógrafo do livro, Jim Goldberg, em foto de 2010, registra a última vez que a Magnum expôs sobre suas formas analógicas de edição. Até 2000, a agência pedia as folhas de contatos para a contratação de fotógrafos. Ao todo, o livro reúne 139 folhas, 69 fotógrafos da agência e 435 imagens em preto e branco e cor. 

Para Susan Meisellas, uma das fotógrafas que fazem parte da nova geração da agência, esse livro é uma forma de resgatar antigas formas de produção que revivam o interesse pelo aspecto tradicional da fotografia, o assunto, agora banalizado pelo crescimento da cultura digital. "Ainda acho que fotografar sem saber o que se tem no fim do dia aumenta a intensidade do seu trabalho. É um mistério e uma surpresa. Agora todo mundo passa mais tempo olhando o monitor ou a tela, primeiro na câmera e depois no computador".


"Magnum Contatos"
507 páginas
R$190
IMS