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"Cinquenta Tons de Cinza" ganha leitores pela narrativa libertina, embora tomada de clichês

Capa de "50 Tons de Cinza", de E. L. James -
Capa de "50 Tons de Cinza", de E. L. James

MARTA BARBOSA

Colaboração para o UOL

29/07/2012 07h00

A julgar pelo assombroso sucesso nos Estados Unidos, e considerando que best seller lá costuma ser também aqui, é de esperar uma corrida às livrarias em busca de “Cinquenta Tons de Cinza”, de E. L. James (tradução de Adalgisa Campos da Silva, editora Intríseca). O livro, lançado em março naquele país, já vendeu mais de 20 milhões de exemplares em solo americano. Em apenas uma semana foram vendidos 100 mil. Por aqui, saiu com tiragem de 200 mil exemplares.

Não se pode dizer que seja um livro que enriquecerá a literatura, mas tem um enredo interessante, capaz de amarrar a leitura até a última das 480 páginas. É a história de uma ingênua estudante de 22 anos que se envolve com um jovem empresário rico, absolutamente racional e com estranhos gostos sexuais. O antigo encontro de Dionísio com Apolo.

O ponto forte são os detalhados relatos de sexo, com passagens bastante descritivas. Não espere trechos de erotismo velado. Trata-se de uma narrativa libertina, a la Marquês de Sade, embora sem riqueza literária. Pesam contra a obra certa repetição do enredo, a exemplo da exagerada necessidade da personagem em exaltar “os olhos cinzentos” de Grey, e as fracas analogias.

“Ele não para de mover a língua em círculos, mantendo a tortura. Estou perdendo toda a noção de identidade, cada átomo do meu ser concentrado naquele pequeno gerador potente entre minhas pernas.”

A autora, que é ex-executiva de uma emissora de TV, constrói seus personagens sobre seguidos clichês. Anastasia é inexperiente, leitora incansável de literatura inglesa e atrapalhada. No momento em que é apresentada a Christian Grey, o empresário enigmático a quem pretende entrevistar para o jornal da faculdade, Ana tropeça ao abrir a porta do escritório e cai bem diante dele. Ah, antes ela veste a única saia do armário.

Grey é apolíneo, de racionalidade desconcertante e assustadoramente direcionado ao sucesso. O total oposto de Ana. Ainda assim, entre eles surge uma irresistível atração, que não encontra barreiras nem quando ela descobre as exigências sexuais de Grey. “Sou dominador. – Seu olhar é abrasador, intenso. – O que isso quer dizer? – pergunto. – Quer dizer que quero que você se entregue espontaneamente a mim, em tudo.”

A proposta inclui um contrato em papel, que uma vez assinado dá a Grey total controle sobre a vida de Ana. A escritora vai fundo nos pormenores desse singular modo de ter prazer. “Tudo gira em torno de conquistar sua confiança e seu respeito, para você deixar que eu exerça minha vontade sobre você. Quanto mais se submeter, maior minha alegria. É uma equação muito simples”, explica o personagem.

O enredo não termina no final de “Cinquenta Tons de Cinza”. A editora brasileira já tem data para lançar os próximos dois que fecham a trilogia de E L James. “Cinquenta Tons Mais Escuros” sai em setembro e “Cinquenta Tons de Liberdade”, em novembro. Os três serão copilados em um roteiro para cinema pela Focus Features, da Universal Pictures, que comprou os direitos por inacreditáveis US$ 5 milhões.

 

"Cinquenta Tons de Cinza"
Autora: E. L. James
Tradutora: Adalgisa Campos da Silva
Editora: Intrínseca
Páginas: 480 páginas
Preço: versão impressa R$ 39,90; versão e-book R$ 24,90