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Autor de clássicos do jornalismo literário, Zuenir Ventura se entrega à invenção em novo livro

Escritor Zuenir Ventura na Flip 2012 (6/7/12) - Mariane Zendron / UOL
Escritor Zuenir Ventura na Flip 2012 (6/7/12) Imagem: Mariane Zendron / UOL

Mariane Zendron

Do UOL, em Paraty (RJ)

07/07/2012 07h00

O escritor e jornalista Zuenir Ventura está mais livre. Pelo menos foi essa sensação que sentiu ao escrever seu novo livro, “A Sagrada Família”, lançado oficialmente na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) deste ano. Autor de clássicos do jornalismo literário como “1968 – O ano que não terminou (1989)” e “Cidade Partida (1994)”, Zuenir teve a oportunidade de deixar de lado o compromisso com a verdade. A epígrafe, com versos do poeta Manoel de Barros, resume o espírito da obra. “Só 10% é mentira. O resto é invenção”.

Zuenir recebeu o UOL na pousada em que está hospedado, em Paraty, e disse que a histórias que tinha na gaveta há dez anos foram um incentivo ainda maior para que publicasse a obra. “Neste livro, trabalho com memórias minhas, memórias emprestadas e memórias inventadas”. Alter ego de Zuenir, o narrador volta à infância para contar histórias de seus parentes que vivem em uma cidade fictícia chamada Florida, na década de 1940. Aos poucos, o menino vai descobrindo as relações afetivas, sexuais, a culpa e o pecado.

Adolescente na década de 40, Zuenir afirma que o comportamento das pessoas que viveram no período foi pouco visitado por estudiosos. “Os anos 70 foram os anos de chumbo, os anos 60 foram os anos rebeldes e os 50, os anos dourados. Se eu tivesse que dar um título para os 40, diria que foram os anos ocultos”, disse. “Tudo era feito às escondidas. Era uma época de muito recato, muito pudor, mas de muita hipocrisia também. Isso me atraiu porque vivemos numa época em que tudo é escancarado”, contou.

Neste sábado (7), ao lado dos escritores Dulce Maria Cardoso e de João Anzanello Carrascoza, Zuenir participa da mesa “Em Família”, em que falará mais sobre a nova publicação e fará alguns paralelos com a família dos dias de hoje. “A gente acha que a família está em dissolução. No entanto, uma pesquisa recente revelou que 69% das pessoas acreditam que o casamento seja maravilhoso. Muita coisa daquela época ficou”, disse ele.

A nova linguagem adotada por Zuenir nesse novo livro não mostra, no entanto, que ele tenha abandonado as grandes reportagens. Ele só anda sem tempo. “Escrevo duas colunas por semana e eu estou viajando muito para fazer palestras. Sinto uma nostalgia quando penso nas reportagens, mas como estou começando a carreira agora, ainda vou fazer muitas”, brincou o escritor, aos 81 anos.

Freguês da Flip, como ele mesmo se definiu, Zuenir também mediou o debate entre Fernando Gabeira e Luis Eduardo Soares e conversou com jovens leitores na Flipzona, na quinta-feira (5). “[Conversar com os jovens] é a coisa que eu mais gosto porque eu brinco que estou falando com o futuro”. E a conversa foi boa. “Ficaram até o final e não flagrei ninguém dormindo”, disse, rindo.  Para o escritor, os jovens estão interessados em literatura. “Quando você se interessa pelo autor, você também começa a se interessar pelo o que ele faz”.

A festa literária, segundo ele, desperta o interesse não só dos jovens, já que proporciona um encontro de leitores e autores. “Você pode esbarrar com os autores na rua. O leitor se aproxima de seus ídolos. A festa contribui para o aumento do público leitor, que é uma coisa que o país precisa muito”.