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Enrique Vila-Matas e Alejandro Zambra discutem o fazer literário na Flip

Enrique Vila-Matas e Alejandro Zambra durante Flip 2012 em Paraty (5/7/12) - Flavio Moraes/Fotoarena
Enrique Vila-Matas e Alejandro Zambra durante Flip 2012 em Paraty (5/7/12) Imagem: Flavio Moraes/Fotoarena

Natália Engler

Do UOL, em Paraty (RJ)

05/07/2012 16h53

O escritor catalão Enrique Vila-Matas e o chileno Alejandro Zambra reuniram-se na tarde desta quinta (5) para falar de "apenas literatura", nome da mesa mediada pelo jornalista Paulo Roberto Pires.

Vila-Matas, que faz sua segunda participação na Flip, depois de ter vindo a Paraty em 2005, abriu a conversa com a leitura de um trecho de "Ar de Dylan", seu novo romance, recém-publicado no Brasil pela Cosac Naify. Zambra, por sua vez, assinalou que esta é sua primeira visita ao Brasil antes de aventurar-se a ler o primeiro parágrafo de "Bonsai" em português, língua que afirmou desconhecer "por completo", e depois prosseguiu em espanhol.

Numa conversa que tratou principalmente do fazer literário, Vila-Matas começou citando o escritor português Lobo Antunes para dizer que seu livro "trata exatamente daquilo de que o livro fala". Depois da brincadeira, explicou a presença de Bob Dylan no livro, na forma de um personagem que se parece fisicamente com o músico: "O livro trata do Bob Dylan como uma máscara contemporânea, um personagem que é ao mesmo tempo uma pessoa. Essa ambiguidade é um tema central do livro".

Ele esclareceu que a passagem que abre o livro, sobre um escritor catalão que é convidado para um congresso literário sobre o fracasso na Suíça, é real. "Achei muito curioso. Os amigos levaram a sério e ficaram com pena de mim. Mas a verdade é que nunca fui ao congresso sobre o fracasso", conta.

Zambra, por sua vez, contou que o título de "Bonsai" veio antes do livro, e que quando pensou na publicação estava interessado no formato físico, de um livro-objeto. "Eu queria um romance que fosse um bonsai de livro", disse, antes de confessar ter ficado muito feliz com a edição feita pela Cosac Naify, com uma capa que pode ser recortada e com o texto concentrado apenas em uma parte pequena da página.

Os dois escritores também falaram sobre a herança literária que seus textos carregam e Vila-Matas deu uma alfinetada em seus colegas de profissão. "Na Espanha, há escritores que acreditam que são os primeiros a escrever. Aqui também. Como se não houvesse memória cultural. Quando você escreve, cita trabalhos de outros. Quando eu escrevo, eu tenho a impressão de mais do que narrar, interpretar um fato", disse o catalão.

"Eu vivo em conversa com os que morreram, conversando com os defuntos. É uma forma de continuar alimentando essa comunidade", completou Zambra, que, mais tarde, citou Clarice Lispecto entre os escritores que são emblemáticos para ele e que julga difíceis de classificar.

A parte final da conversa foi quase toda dedicada ao escritor chileno Roberto Bolaños, que era amigo de Vila-Matas e de quem Zambra resenhou diversos livros em um jornal de seu país. Zambra também falou do ressentimento dos autores da mesma geração de Bolaños com o sucesso do escritor, que Vila-Matas classificou como "o último escritor latino-americano ou o primeiro escritor não-latino-americano".