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Na 2ª edição do "Pimp my Carroça", grafiteiros pintam carroças de catadores de lixo, no Rio

O cachorro do catador Rubens serviu de inspiração para o grafite na carroça (23/6/12) - Ricardo Cassiano/UOL
O cachorro do catador Rubens serviu de inspiração para o grafite na carroça (23/6/12) Imagem: Ricardo Cassiano/UOL

Renato Damião

Do UOL, no Rio

23/06/2012 21h00

Durante toda a manhã e tarde deste sábado (23), vários catadores de lixo tiveram suas carroças grafitadas na Praça Tiradentes, centro do Rio. A ação fez parte da segunda edição do “Pimp My Carroça”, que há 20 dias ocorreu em São Paulo, no Vale do Anhangabaú.

A ideia partiu de Mundano, “grafiteiro e ativista”, como prefere ser chamado. O paulista de 26 anos começou a grafitar carroças em 2006 e desde então já “aumentou a auto-estima” de mais de 150 catadores de lixo.

“O grafite é uma arte marginalizada e o trabalho dos catadores também é. Quando eu pintava muros e pontes eu acabei criando essa relação com eles, uma vez decidi pintar uma carroça e vi como aquilo fez bem ao catador. Com o meu trabalho eu espero fazer com que a sociedade tenha menos preconceito e que os catadores deixem de ser invisíveis. O trabalho que eles fazem é incrível e ninguém repara”, disse Mundano.

Segundo ele, 90% da coleta de todo material reciclado das cidades do Rio e de São Paulo vem de catadores como de Paulo César dos Santos, de 39 anos. O catador precisou deixar a vergonha de lado para assumir o trabalho.

 

 

“Eu tinha vergonha de mexer com o lixo, hoje minha alma é dedicada a esse trabalho”, contou ele que está há oito meses no Rio e envia todo mês o dinheiro para a escola e o curso de computação do filho em Santo Anastácio, interior de São Paulo.

O preconceito, ele afirmou que ainda sente. “Muita gente segura a bolsa ao passar perto de mim, ou faz cara de nojo”, lamentou.  Durante o Pimp, além de profissionais que ajudaram a pintar as carroça, uma médica fez consultas de rotinas para saber sobre a saúde dos catadores.

“As condições de trabalho não são ideais, nem as carroças, por isso incluímos nas carroças retrovisor e suporte para não machucar as mãos”, explicou Mundano. O Pimp é o segundo maior caso de financiamento – crowdfunding – do Brasil e as próximas edições prometem se estender para outros estados como Belém, Recife, Salvador e até mesmo Bogotá.

“A gente enxerga o lixo como um problema, se a gente enxergar como solução para problemas sociais e ambientais, como uma forma de gerar emprego e  tirar pessoas da rua toda a sociedade se beneficiará”, opinou Mundano.

O argentino Osmar Mario, de 60 anos, mora há cinco anos no Rio e viu na coleta de papelão e ferro a maneira de ganhar a vida. “Não queria ter patrão, achei que ser catador era um trabalho mais livre”, disse ele.

Para Osmar, o “Pimp My Carroça” “vai gerar outra ideia sobre os catadores”. “Espero que essa profissão possa ser mais rentável, os compradores pagam muito mal e nosso trabalho é muito importante. Ajudamos as empresas do Rio a se manterem limpa”, disse.

Em evento recente na Rio +20, Mundano grafitou que “os catadores de materiais recicláveis do mundo fazem mais pelo meio ambiente do que toda a Rio +20”, indagado se o profeta Gentileza seria uma influencia, ele concordou: “O Gentileza escreveu frases, interagiu com as pessoas. Ele sabia o poder da rua, dos pinceis e das palavras”.