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Ator que vive Dilma na TV diz ter pensado em ser pastor e que ex da presidente aprova seu "jeitão"

No camarim do Teatro AMF Unimed, em Niterói, no Rio, Gustavo Mendes se prepara para o último dia do espetáculo "Mais que Dilmais" (17/5/12) - Hélio Motta/UOL
No camarim do Teatro AMF Unimed, em Niterói, no Rio, Gustavo Mendes se prepara para o último dia do espetáculo "Mais que Dilmais" (17/5/12) Imagem: Hélio Motta/UOL

Renato Damião

Do UOL, no Rio

18/05/2012 16h41

Intérprete da presidente Dilma Rousseff no "Casseta e Planeta, Vai Fundo", o mineiro Gustavo Mendes tem visto seu nome se tornar sinônimo de talento e sucesso. Com apenas 23 anos ele foi convidado pela Rede Globo para integrar o elenco do programa. E, após o fim da primeira temporada, o ator dará expediente em "Cheias de Charme", novela das sete. "Meu personagem é um colunista social mineiro, bem viadinho (sic). Faz fofoca, tem malícia, mas no fundo é um caipirão", disse durante entrevista ao UOL na última quinta (17).

Gustavo recebeu a reportagem no camarim do Teatro AMF Unimed, em Niterói, no Rio. Durante um mês e meio ele apresentou o espetáculo de stand-up "Mais que Dilmais". "Um belo dia abri o jornal e estava lá dizendo que ela gostou e se divertiu. Quem mostrou para ela foi o ministro Guido Mantega. O ex-marido dela disse que eu peguei bem o "jeitão" dela. E a palavra "jeitão" resumiu tudo, ali eu vi que estava indo no caminho certo", contou o ator que "redescobriu" seu talento para imitações.

Sem nunca ter estudado artes dramáticas, Gustavo afirmou que "aprendeu tudo no palco" e que seu grande sonho é ter seu programa de televisão". Enquanto isso não acontece, ele pretende emplacar novos personagens no "Casseta" e fazer shows pelo Brasil. A fama, ele garantiu, não subiu à cabeça. "Eu sou apenas o menino de Guarani fazendo graça", declarou.

Leia abaixo a entrevista completa com o ator:

UOL – Com quantos anos você começou a atuar? Sempre teve vontade ser ator?
Gustavo Mendes - Eu nunca quis ser outra coisa a não ser ator. Com 8, 9 anos de idade eu já fazia graça com o objetivo de me profissionalizar. Lá pelos 10 anos eu entrei para um grupo de teatro amador, mas eu não tinha muita noção, queria interpretar os grande papéis e não entendia o porquê deles não me convidarem para interpretar o pai na peça, por exemplo. Eu não tinha noção que era um muleque. Me revoltei e fui fazer meu espetáculo sozinho.

Quem era a plateia dos seus espetáculos aos 10 anos?
A plateia era Guarani, a cidade. Com 10 anos eu me juntei com um amigo que desenhava bem e a gente fez alguns cartazes a cartolina para divulgar meu espetáculo e vendemos alguns ingressos.  Tivemos um público de 20 pessoas no teatro. Juntei as piadas que achei interessante e fiz um show de humor sem nunca ter visto um show de humor.

Hélo Motta/UOL
Teve uma época na minha vida que eu queria ser pastor, por que era uma referência muito forte de palco, microfone e plateia

sobre a infância

De quem eram essas piadas? Você já escrevia quando criança?
Eram piadas clássicas. Tirava dos livros de piadas do Barnabé, do Ary Toledo. Eu tenho uma grande referência dos clássicos. Tenho essa onda de stand-up comedy, mas antes de qualquer coisa que eu venha fazer no humor eu me julgo um bom contador de histórias. Sempre gostei muito de ouvir os discos do José Vasconcelos.

Essa fascínio pelo palco veio de algum familiar que também tinha uma ligação forte com as artes?
Meu avô era um bom cantor e tocava instrumentos, mas a referência que tenho é da “Escolinha do Golias”. Eu achava um barato, achava que podia fazer da minha vida um programa de televisão. Eu tropeçava na sala de aula propositalmente para as pessoas rirem. Teve uma época na minha vida que eu queria ser pastor, por que era uma referência muito forte de palco, microfone e plateia.

Explica isso melhor...
As missas católicas eram muito tradicionais, aquilo não me encantava. O pastor de terno e gravata, falando alto, fazendo estripulia, aquilo me encantava. Mas depois eu fui entendendo que não era a vida sacerdotal que eu queria [Risos] Eu queria o status, a atenção das pessoas.

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Fiquei em segundo lugar no concurso e o Tom me chamou para fazer o programa, só que no meio daquele monte de estrela eu quase não aparecia. Eu estava na TV, mas não estava

sobre a passagem pela Record

E quando foi que você realmente começou a se profissionalizar como ator?
Quanto eu tinha 15 anos criei um espetáculo de humor e fui bater na porta dos produtores. Eu já estava morando em Juiz de Fora. Claro que não fui bem recebido, mas acabei achando um grupo de malucos que aderiu à minha ideia. Fiz o espetáculo e foi um fenômeno de público.

Primeiro espetáculo e já foi um fenômeno?
A verdade é que aconteceu uma grande confusão. Havia um grupo tradicional de teatro que sempre se apresentava no evento que eu participei. Só que naquele ano eles iam se apresentar em outra cidade, mas o público não ficou sabendo. Todo mundo foi me assistir pensando que quem ia se apresentar era o tal grupo de teatro. [Risos] Mas acabou que foi um sucesso, a partir daí os produtores de teatro começaram a me procurar.

Você chegou a estudar artes dramáticas, fez curso superior?
Eu nunca estudei teatro. Eu aprendi trabalhando. Quando eu fui para Juiz de Fora eu fui com a intenção de fazer um curso de laticínios, toda a família do meu pai havia feito. Mas no fundo eu queria sair de Guarani para fazer teatro, só que o curso me sugava. Era leite e queijo para todos os lados, eu criei intolerância à lactose. Eu não podia ver uma vaca que eu corria, eu tinha trauma [Risos].

Você abandonou o curso então, seus pais não se importaram?
Há uma questão nisso tudo. O lado rico do meu pai era formado nesse curso. Quando meu pai chegou na idade de fazer o curso ele quis ser jogador de futebol só que deu errado. Anos mais tarde ele se viu pai e o primeiro filho dele dizendo que ia abandonar o curso para fazer teatro. Ele ficou louco e parou de me enviar dinheiro, minha mãe e minha avó que seguraram a onda.

Depois do sucesso da peça, ele ficou mais tranqüilo?
Meu pai voltou a me ajudar, mas minha mãe queria que eu fizesse faculdade de Comunicação. Eu falava para ela que não podia perder quatro anos da minha vida, que antes dos 20 anos eu precisava assinar um contrato com uma grande emissora de televisão. Ela dizia que ser artista era "um em um milhão" e eu sempre respondia que eu era esse um. No dia que assinei o contrato com a Globo um cara disse que eu estava começando bem, que meu contrato era de ator e autor e repetiu a frase da minha mãe: “um em um milhão”. Eu respondi que eu era esse um.

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O ex-marido dela disse que eu peguei bem o "jeitão" dela. E a palavra "jeitão" resumiu tudo, ali eu vi que estava indo no caminho certo

sobre interpretar Dilma Rousseff

Antes de chegar a Globo você foi descoberto pela Record no show de piadas do programa do Tom Cavalcante, como foi essa experiência?
Eu entrei na Record com 20 anos.  Meu grande ídolo do humor sempre foi o Tom Cavalcante, eu queria estar perto dele. Fiquei em segundo lugar no concurso, e o Tom me chamou para fazer o programa, só que no meio daquele monte de estrela eu quase não aparecia. Eu estava na TV, mas não estava. Então eu fui fazer a Dilma. Criei e publiquei na internet sabendo que dali alguma coisa ia acontecer.

Então a Dilma foi uma criação consciente do sucesso?
Fiz esperando algo positivo, não esperava que fosse tão rápido e nem dessa forma. Não imaginava que a Dilma fosse gostar, por exemplo. Tive sorte porque na época estava rolando a polêmica do [Jair] Bolsonaro e o José de Alencar tinha acabado de falecer. E também criei um perfil da Dilma que não se falava. Ninguém falava de uma Dilma durona, ela era a mãe do povo. Eu fiz essa Dilma mais agressiva e mais forte para ser diferente do que estava na TV.

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Eu gosto do stand-up, porém eu vislumbrei um problema no meio dos comediantes que é o problema do politicamente correto ser incorreto. Muita gente passou a preocupar-se com a ofensa e esqueceu da piada

sobre stand-up comedy

Como foi saber que a própria Dilma gostava da caricatura criada por você?
Um belo dia abri o jornal “O Globo” e estava lá dizendo que ela gostou e se divertiu. Quem mostrou para ela foi o ministro Guido Mantega. O ex-marido dela disse que eu peguei bem o "jeitão" dela. E a palavra "jeitão" resumiu tudo, ali eu vi que estava indo no caminho certo.

Como tem sido o convívio com a equipe do “Casseta e Planeta, Vai Fundo”? Qual que você acha que é o seu papel no elenco?
Primeiro preciso dizer que a minha entrada no “Casseta” foi surreal.  Quando fui chamado pela Globo  imaginei entrar no “Fantástico” fazendo um quadro, aí cheguei no escritório e vi todos os cassetas sentados. Meus ídolos de infância dizendo que eram meus fãs. O convívio é ótimo, rolou química, interação. Parece que a gente se conhece há 20 anos, nossa conversa é no mesmo nível de ideias.

Você acha que sua entrada trouxe um frescor ao formato do programa? Com tantos programas de humor, qual você acha que continua sendo o diferencial do “Casseta”?
Não acho que eu trouxe frescor. Acho que sou um garoto novo na turma. Na verdade eles se propõem a novidades e eu sou um instrumento na mão deles. Eles são revolucionários no humor, eles têm mecanismo criativo só que eles queriam jogar com gente mais nova e está dando certo.  E nosso grande diferencial é uma equipe de redatores muito competente. Os comediantes são redatores então eles acertam a piada na hora.

O Brasil tem se tornado um país de grandes humoristas e muito tem se discutido sobre o papel da comédia. Como você tem olhado o panorama do humor no Brasil e onde você acha que se encaixa?
Eu gosto do stand-up, porém eu vislumbrei um problema no meio dos comediantes que é o  problema do politicamente correto ser incorreto. Muita gente passou a preocupar-se com a ofensa, só para causar um rebuliço, e esqueceu da piada. O público não ri da piada, mas da humilhação. E isso me preocupa. A comédia é feita para alguém e você tem que ter preocupação com quem você esta atingindo. Quando eu levei a Dilma para TV era óbvio que ela não teria o conteúdo de palavrões que eu digo na internet e muita gente achava que ia perder a graça, que ia se tornar um personagem engessado. Eu admiro o Rafinha [Bastos] e o [Danilo] Gentili, mas sinto falta dos showmans, dos comediantes que cantavam, faziam piada, criavam cenas. Eu tento resgatar esse filão que o público sente falta.