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"Quem teve a maior perda fui eu. Primeiro o Chico e agora o Millôr", diz Ziraldo; veja comentários dos artistas

Morre escritor Millôr Fernandes aos 88 anos - Ricardo Moraes/Folhapress
Morre escritor Millôr Fernandes aos 88 anos Imagem: Ricardo Moraes/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

28/03/2012 11h36Atualizada em 28/03/2012 18h00

O escritor Ziraldo lamentou a morte de um de seus grandes amigos, Millôr Fernandes. "Quem teve a maior perda em uma semana fui eu. Primeiro o Chico e agora o Millôr. Amava muito o Chico e o Millôr era um dos meus melhores amigos. Conheci o Millôr quando tinha 15 anos de idade, mas já trocávamos correspondências desde os meus 10 anos. Colecionava 'O Cruzeiro' desde pequeno", disse o artista ao UOL. Os dois trabalharam juntos em "O Pasquim", jornal de humor reconhecido por fazer oposição ao regime militar.

Desenhista, dramaturgo, poeta e jornalista, Millôr morreu em sua casa, no Rio de Janeiro, nesta terça-feira (28), aos 87 anos, em decorrência de falência de múltiplos órgãos. As informações foram confirmadas pelo cemitério Memorial do Carmo. A jornalista Cora Ronai, ex-mulher do desenhista, agradeceu apoio de amigos pelo Twitter, nesta terça: "Muito obrigada pela força, amigos queridos".

Um dos mais importantes e atuantes intelectuais brasileiros, Millôr adaptou e escreveu obras para teatro e para televisão, além de ter imortalizado diversos frases e aforismos.

Millôr nasceu no bairro do Méier, no Rio, em 16 de agosto de 1923, mas foi registrado oficialmente em 27 de maio de 1924. Com um ano, ficou órfão de pai e, aos 10 anos, de mãe.

  • Reprodução/Twitter

    Millôr Fernandes e a atriz Cristiana Oliveira

Outros cartunistas, humoristas e jornalistas também vieram a publico para lamentar a morte de Millôr. A atriz Cristiana Oliveira publicou no Twitter uma foto com Millôr ao lado da frase: "Vai com Deus mestre, filósofo, transgressor, polemico, genio, homem de luz!".

Hélio de la Peña, do "Casseta e Planeta", conta que teve o primeiro contato com o trabalho do artista pela revista "Veja", na página de humor que ele assinava. "Lembro que ia no dentista quando era pequeno e ficava tentando entender, e não entendia nada", conta. "Era um cara muito fera, e colocou o Méier no mapa do Brasil. Quem faz humor hoje, se diz que não teve influência do Millôr, está mentindo. O cara era impressionante."

Outra passagem em que o humorista teve contato com Millôr foi no início da carreira: "Quando começamos a fazer jornal, resolvemos entregar uma edição na casa de cada famoso. Fui com o Bussunda e o Marcelo entregar um na casa do Millôr e estava super nervoso. Ele abriu a porta, dissemos que era um jornalzinho de humor, ele pegou o jornal e disse: 'Façam sucesso e fiquem ricos', e fechou a porta. Acho que foi um bom conselho."

Veja outras declarações sobre a morte de Millôr Fernandes

Lembro do Millôr ainda dos tempos do 'Cruzeiro', da seção 'Pif Paf', quando era criança. Sempre foi muito impressionante, inquietador, o trabalho dele fugia do comum desde sempre, mas nem sempre eu entendia, porque era um humor sofisticado e para adultos... Mas sempre gostei muito da porção do trabalho dele que lidava com o público infantil. Alguma coisa eu pegava, e a medida que fui crescendo, fui pegando mais.
Laerte, cartunista, por telefone

O Brasil fica mais pobre e mais burro sem um campeão como Millôr. Do texto até o desenho ele era imbatível, além ser um exemplo de integridade. Fico muito triste com a morte dele.
Allan Sieber, cartunista, por telefone

Millôr era o maior humorista, o cara mais completo de todos, que tinha mais recursos de humor. Pelo fato de ser obcecado por conhecimento, por devorar dicionários, o transformou num cara que podia fazer o que quisesse com a palavra. Foi o maior satirista. Ele começou cedo demais criticando Getúlio Vargas e terminou enchendo o saco do Lula. Millôr tem muito tempo de serviço prestado à crítica. Para mim é uma perda muito grande, irreparável. Ele era um Pelé.
Arnaldo Branco, cartunista, por telefone

O Millôr era o maior gênio brasileiro. Ele era múltiplo, um filósofo que usava o humor como arma. Pessoas como o Millôr tinham que durar uns 200 anos. Ele exigia que seu leitor usasse a inteligência.
Sérgio Sant'Anna, escritor, em entrevista à Globonews

Fico espantado que, em poucos dias, morreram os dois maiores humorista do Brasil. Um ao vivo e em cores, com sua galeria de milhares de títulos, e o Millôr, que agora nos deixa. Eu nunca tive contatos com os dois, apenas como leitor, telespectador. Mas acho que o humorismo não está com o mesmo vigor.
Arnaldo Jabor, escritor, em entrevista à Globonews

Esse cara era um dos dois ou três mais sagazes do país, sem dúvida. Para o trabalho que faço, tinha ele e o Paulo Francis. O Millôr é uma coisa inacreditável. Fiquei amiga da Cora Rónai [esposa de Millôr] pelo Twitter e ela me confirmou que ele não parava um segundo. Era uma fábrica de produzir frases e trocadilhos, um atrás do outro. Ele era um brasileiro que pensava em inglês, e tinha um tempo de humor diferente, com uma frase mais longa. Me identifico com isso porque também fui alfabetizada em inglês. Gostava muito de ver como ele fazia.
Bárbara Gancia, jornalista, por telefone

Ele tinha um diferencial porque se tornou órfão muito cedo. Ele marcou a imprensa brasileira, foi editor do "Pasquim", maior jornal de humor. Ele foi curtir o Chico Anysio pessoalmente.
Paulo Caruso, cartunista, em entrevista à Globonews

Sempre foi um cara muito cioso da profissão de humorista. Mostrou que humorista é um intelectual, na verdade, e com muita coragem. Deu a sua contribuição. Poderia ter ficado mais entre nós, mas viveu. Estou realmente muito emocionado.
Marcelo Madureira, humorista do "Casseta & Planeta, em entrevista à Globonews

O Millôr conseguia misturar desenho e texto. Ele não fazia apenas rir, mas pensar. Sexta perdemos Chicxo Anysio e agora o Millôr. O Brasil perdeu a graça. Perdemos dois gênios
Zuenir Ventura, jornalista, em entrevista à Globonew

Tive a honra de publicar um livro do Millôr Fernandes - "O Grande Livro Branco do Humor". E veio do Millôr o meu "diploma" de editor, em um e-mail que ele me enviou, enquanto preparávamos a obra e ele concordava com as alterações e sugestões que eu propunha: "bela vocação de editor. Coisa rara”.
Paulo Tadeu, jornalista, por telefone

Putz. Millôr e Chico. Em menos de uma semana perdemos uma fatia enorme da alma brasileira.
Maurício Ricardo, cartunista, via Twitte

haikai: Só tomando um dreher/Lá se foi o filósofo/Silêncio no Méier
Xico Sá, jornalista, via Twitter

Millor e Chico Anysio fazendo os anjos rir rir e rir!!
Narcisa Tamborindeguy, socialite, via Twitter

Morre Millor, melhor do humor. A Terra tem ficado mais triste. E tem uns maus políticos que não pegam nem resfriado...
Evandro Mesquita, ator e músico, via Twitter

Millôr Fernandes foi um gênio brasileiro, um ícone do humorismo. Brilhante jornalista, com a mesma maestria tornou-se escritor, cartunista e dramaturgo. Autodidata, traduziu para o português dezenas de obras teatrais clássicas. Atuou em diversos veículos de comunicação, além de ter sido fundador de publicações alternativas. Com sua morte, o Brasil e toda a nossa geração perdem uma referência intelectual.
Dilma Rousseff, presidente, em comunicado oficial

Como poucos, ele conseguiu mostrar seu brilhantismo em todos os gêneros em que atuou: nos desenhos, na dramaturgia, na literatura, na poesia, na tradução de clássicos mundiais e até nas breves e irônicas frases, marcadas pelo humor crítico. Seu talento único encontrou espaço tanto em grandes veículos de comunicação como na imprensa alternativa, já que foi um dos fundadores dos jornais “Pif-Paf” e “O Pasquim”. Hoje, perdemos a inteligência e a apurada visão do mundo de Millôr, mas fica sua contribuição para a cultura brasileira.
Andrea Matarazzo, secretário de Estado da Cultura de São Paulo

Millôr era uma coisa impressionante. As pessoas que o admiravam quando o liam não faziam ideia de que, ao vivo, ele era mais ainda. Se passava 10 minutos, ele falava 9 e meio e você achava pouco. Ele era muito brilhante, sempre tinha uma opinião original e importante sobre qualquer assunto. Tudo o que falava era sério, original e importante, sobre qualquer assunto. Todas as pessoas que o conheceram foram influenciadas. Todos nós gostaríamos de ser um pouco o Millôr, isso era uma influência. No meu caso, são raros os dias que não me lembre de uma frase dele aplicada a qualquer coisa. Ele nos marcou profundamente.
Ruy Castro, jornalista