Fina Estampa

"Acho que o galã já foi", comenta José Mayer, que interpreta um pai judeu em "Um Violinista no Telhado"

Ana Okada

Do UOL, em São Paulo

A época em que José Mayer interpretava o conquistador fatal nas novelas pode estar com os dias contados. Em entrevista neste sábado (10), depois da apresentação do musical "Um Violinista no Telhado", ele explicou o porquê: "Acho que o galã já foi, até porque fazer graça está dando certo". Mas fez uma ressalva --toparia virar um galã "madurão": "Quando escreverem um personagem maduro, apaixonado --os maduros também amam--, quando tiver esse homem de 60 anos apaixonado, lá irei eu fazer esse galã madurão, com o maior prazer."

O ator conta que nunca se incomodou com os rótulo de "garanhão" ou "pegador" das novelas. "Sempre me diverti muito com isso, sobretudo com [as paródias do] 'Casseta e Planeta'. Costumo dizer que meu melhor José Mayer é aquele lá".

Sempre me diverti muito com isso, sobretudo com [as paródias do] 'Casseta e Planeta'. Costumo dizer que meu melhor José Mayer é aquele.

José Mayer, sobre rótulo de "pegador"

No teatro, Mayer interpreta o leiteiro Tevye de "Um Violinista no Telhado", versão brasileira de musical de Jerry Bock e Sheldon Harnick feito na Broadway em 1964, baseado em contos do escritor Sholom Aleichem. A peça mostra um homem que luta para manter as tradições judaicas na Rússia Czarista, em um mundo que está mudando. Pobre e bonachão, ele acaba sempre cedendo às vontades de suas filhas, que têm pensamentos modernos --querem se casar por amor--, enquanto enfrenta os ataques do governo russo a seu povo.

 

O musical começa falando de tradição e de qual é o lugar reservado a cada um numa família de judeus: o pai decide tudo, a mãe trabalha em afazeres domésticos e os filhos obedecem aos adultos. Na família de Tevye, porém, isso acaba mudando: a filha mais velha, Tzeitel (Rachel Renhack), casa-se com o pretendente pobre que escolheu, Motel (André Loddi). A que vem depois dela, Hodel (Malu Rodrigues/Karina Mathias), sai da cidade para se juntar ao comunista Perchik (Nicolau Lama). Depois, Chava (Julia Fajardo), apaixona-se por um russo católico e foge para se casar.

Um dos pontos altos da produção, que mostra 43 atores se revezando no palco, são as cenas de dança. No casamento de Tzeitel e Motel, os atores montam uma quadrilha no palco, talvez como uma espécie de abrasileiramento do espetáculo. A sequência é a única que destoa do musical da Broadway, que é possível conferir no filme "Fiddler on the Roof", de 1971, dirigido por Normam Jewison.

Soraya Ravenle faz a mulher de Tevye, Golda, e a montagem paulistana teve uma troca no elenco: sai a filha de Soraya, Julia Bernat, e entra a filha de Mayer, Julia Fajardo. "Julia é maravilhosa, e como esse é o nosso primeiro encontro no palco, é uma festa", conta o pai. A produção é de Charles Möeller e de Claudio Botelho, que já produziram "Hair" e "Avenida Q", dentre outros.

Em brasas
Depois de quase três horas de espetáculo, o ator recebeu a imprensa e o público bem-humorado, apesar do calor --proveniente da intensa atividade no palco e dos flashes dos fotógrafos. "Estou em brasas", brincou o ator, todo suado em frente às câmeras. Mayer explica que, depois de cada peça, fica "aceso" por mais de uma hora, por conta do esforço físico que faz.

O físico, para ele, é a maior preocupação de um ator de musical. "A coisa mais complicada é manter a forma física, a qualidade vocal. O esforço é muito grande, ainda mais agora que eu ainda estou me dividindo entre duas atividades --ainda estou gravando a novela ["Fina Estampa"]... É a preocupação de todo ator de musical. A gente acaba tendo uma vida quase espartana, muito disciplinada; quase de atleta."

Personagem originou Pereirinha
Tevye, explica Mayer, o possibilitou a chegar ao trambiqueiro Pereirinha, de "Fina Estampa". "Os dois personagens se influenciaram, até que Pereirinha acabou ficando com o mesmo visual do Tevye. Os dois têm uma certa afinidade, um é leiteiro, o outro, peixeiro. Os dois são encrenqueiros, populares. Eu sempre pedi isso, e o público também", diz.

Para o ator, Pereirinha é uma "brincadeira". "É uma brincadeira muito boa, Agnaldo [Silva] é craque nesse tipo de teledramaturgia. É moleque, gosto muito dele."
 

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