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Mesmo sem hits, "Álbum Branco" dos Beatles segue relevante 50 anos depois

Beatles posam com o guru indiano Maharishi Mahesh Yogi - Reprodução
Beatles posam com o guru indiano Maharishi Mahesh Yogi Imagem: Reprodução

Javier Herrero

De Madri (Espanha)

22/11/2018 06h02

O emblemático "Álbum Branco", lançado com o nome oficial de "The Beatles" há 50 anos, não continha nenhuma das canções mais populares do quarteto de Liverpool, mas sua audácia segue tão relevante meio século depois que merece um novo desembarque na velha URSS, como propõe a música de abertura.

Lançado em 22 de novembro de 1968, aquele disco de capa imaculada que contrastava a consciência com a explosão de som e cor de seu antecedente, "Sgt. Peppper's Lonely Hearts Club Bland", foi possível graças a um período prévio de meditação com o Maharishi Mahesh Yogi, que inspirou especialmente George Harrison.

Aquilo não serviu para relaxar as relações entre os membros do quarteto, cada vez mais tensas. Não ajudou também a morte de Brian Epstein nem a irrupção no tabuleiro de Yoko Ono como mulher de John Lennon, razão pela qual a gravação nos estúdios Abbey Road se traduziu em horas de trabalho de forma independente e em idas e vindas nas quais pelo menos a inspiração não saiu pela porta.

No "Álbum Branco" não há uma "Help!", uma "Let it be" ou uma "Hey Jude" (embora esta tenha saído daquelas sessões). Em troca, está ali imenso caudal de 30 canções com genérico espírito acústico que, movimentando-se em um amplo leque de estilos, soa atual meio século depois e menos datado que o repertório clássico do grupo. Eis aqui algumas dessas músicas...

"Back in the U.S.S.R.": Mike Love, do Beach Boys, esteve na Índia no mesmo período que os Beatles e, após anos de mútua e agradecida "contaminação", se propôs a fazer uma versão soviética do "Back in the USA" de Chuck Berry. McCartney saiu na frente e elaborou uma faixa que substitui a Califórnia pela Geórgia, a Geórgia soviética, e que surpreende desde o motor de avião que surge em sua introdução.

"Ob-La-Di Ob-La-Da": A faixa que exigiu maior tempo de dedicação foi este hino otimista que imortalizou uma expressão iorubá que significa "a vida continua" e que era usada frequentemente pelo músico nigeriano Jimmy Scott. A gravação, no entanto, foi exasperante, o que acabou com Lennon espancando o teclado para atingir o ritmo desejado para a canção.

"While My Guitar Gently Weeps": Essa se sobressai não só porque é uma grande canção, mas porque foi possível ver em Harrison um autor à altura da dupla Lennon-McCartney. E também porque foi a primeira canção gravada no magnetofone de 8 faixas do Abbey Road e porque é Eric Clapton quem interpreta o solo de guitarra.

"Sexy Sadie": A música que serviu para batizar uma mítica banda espanhola se refere a um dos episódios mais obscuros da estadia dos Beatles na Índia, o das supostas tentativas do Maharishi de seduzir parte do séquito feminino da banda, incluindo a atriz Mia Farrow. Doído, Lennon tentou revidar com esta composição.

"Helter Skelter": Considerado um precedente do hard rock, o propósito foi superar The Who e imbuir a canção de ruído e potência ao limite. Se tornou, no entanto, terrivelmente famosa por se transformar em uma espécie de mantra apocalíptico para a seita de Charles Manson, que no seu massacre deixou gravado o título com sangue.

"Revolution 1": Foi a primeira faixa gravada para o álbum e chegou a contar com três versões distintas editadas. Com ela, Lennon quis deixar patente finalmente a posição política do grupo em anos muito convulsos, entre maio de 68 e a guerra do Vietnã.