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Zika torna-se convidado indesejado no Carnaval de Barranquilla

06/02/2016 21h36

Sandra Patricia Navas.

Barranquilla (Colômbia), 6 fev (EFE).- Maior festa folclórica da Colômbia, o Carnaval de Barranquilla, deu início neste sábado a quatro dias de folia com um convidado inesperado e indesejado, o zika vírus, que preocupa as autoridades, mas não tira brilho do espetáculo.

O temor das autoridades se justifica pelo fato de que Barranquilla, capital do departamento (estado) do Atlântico, é, com 1.946 casos, a segunda cidade da Colômbia mais abalada pela doença, superada apenas por Cúcuta, que fica na fronteira com a Venezuela e tem 3.097 registros, segundo dados do Instituto Nacional de Saúde.

No entanto, esta situação não parece preocupar os moradores, que se preparam para aproveitar, de hoje até a próxima terça-feira, a festa declarada pela Unesco como Obra Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade.

"Embora se fale do zika, espero não me contagiar, e assim curtir as festas", disse à Agência Efe Mariela López, de 41 anos e com oito meses de gravidez, enquanto esperava em um posto de saúde da cidade um exame pré-natal de seu quarto filho.

Enquanto nas ruas aconteciam desfiles como a tradicional Batalha de Flores, hospitais e clínicas desta cidade de 1,9 milhão de habitantes atendiam pacientes com sintomas do zika.

"O importante é que a doença não vai prejudicar a festa", afirmou, esperançoso, o universitário Alberto Castro, integrante de um bloco que desfilou hoje na Batalha de Flores e que começou a ter os sintomas há uma semana.

Após três dias de repouso, Castro já apresenta melhoras e está disposto a aproveitar o Carnaval ao máximo. "Só aproveita quem vive", frisou, com ar de tranquilidade.

Mais preocupada se mostrou Carmen Escorcia, que com sete meses de gestação apresenta os sintomas do zika, uma doença que, se for contraída nos três primeiros meses da gravidez, pode causar microcefalia no feto, segundo alguns pesquisadores.

"O médico me disse para que ficasse tranquila, que o problema teria sido se me ocorresse nos três primeiros meses de gravidez, mas de qualquer forma não há como não sentir angústia", disse ela à Efe enquanto estava em uma fila para comprar os remédios formulados.

Mas como toda crise abre uma janela de oportunidade, o comércio, especialmente os vendedores de rua, encontraram no zika um novo filão para seus negócios nestes dias de festa, nos quais Barranquilla recebe milhares de turistas de outras partes do país e do exterior.

O produto mais cobiçado é o repelente contra insetos, que neste ano é vendido nas mesmas barracas que comercializam chapéus, máscaras, espuma, perucas e camisas alusivas ao Carnaval.

"Antes eu não pensava no repelente como algo necessário, mas agora as pessoas devem estar preparadas para que não sejam picadas em peguem zika", disse o vendedor ambulante Luis Pacheco, que tinha um grande estoque de produtos para matar insetos.

Diante dos riscos representados pelo vírus, a prefeitura de Barranquilla anunciou na semana passada que fumegará as ruas e avenidas por onde os desfiles do Carnaval passarão.

Pacheco vai além e afirma: "agora que disseram que o zika também é transmitido pelo sexo, estou pensando em começar a vender preservativos".

Mas a prefeitura também pretende distribuir 200 mil unidades de preservativos nas ruas para prevenir doenças sexualmente transmissíveis, gestações não desejadas e agora o contágio do zika.

A associação locais de hotéis prevê que neste ano a ocupação não será tão boa como em edições passadas, quando alcançou 100%.

"Pode ser que haja muita gente que queira vir, mas não o fará por medo do zika, especialmente as mulheres grávidas. Em épocas anteriores, nesta data as reservas estavam esgotadas, o que não ocorreu neste ano, que esperamos chegue a 92%", disse à Agência Efe Mario Muvdi, presidente da seção da Associação Hoteleira e Turística da Colômbia (Cotelco) em Atlântico.