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Fotojornalista abre exposição no Rio e critica a desvalorização do trabalho

Carlota Ciudad

Do Rio de Janeiro

17/11/2015 17h26

O fotojornalista argentino Renzo Gostoli estreia nesta terça-feira (17) no Instituto Cervantes do Rio de Janeiro sua exposição "América Latina Tão Violentamente Doce", com a qual retrata os contrastes existentes no continente americano em 20 imagens em preto e branco.

A exposição foi baseada na obra "Nicarágua Tão Violentamente Doce", do escritor argentino Julio Cortázar, que reuniu uma série de textos nos quais descrevia e comentava as dificuldades, misérias e ternuras que vivia o povo durante a ditadura nicaraguense.

Gostoli explicou em entrevista à Agência EFE que a seleção de 20 imagens será ampliada ao longo do tempo e que pretende mostrar a variedade de situações que encontrou em países como México, Honduras, El Salvador, Argentina, Brasil e Guatemala desde 1979 até a atualidade.

Os visitantes encontrarão imagens como uma semidestruída Estátua da Liberdade no México, "surfistas de trem" no Brasil, a chegada de presos no final da ditadura argentina e uma criança jogando entre os escombros após um terremoto no México.

"Quase todas as fotos (desta exposição) são paralelas a um evento que foi cobrir e estão aí", disse Gostoli, que indicou que muitas das imagens expostas refletirão momentos que não chegaram a ser publicados.

Apesar da experiência reunida ao longo da carreira pelo fotojornalista argentino, estabelecido no Rio de Janeiro, Gostoli admite que a imprensa cada vez mais prescinde dos serviços de fotógrafos profissionais, já que "preferem uma foto não tão boa, mas de graça, do que ter que pagar a alguém".

Além disso, a situação se agravou com o surgimento das câmeras digitais e dos smartphones, que permitem que qualquer pessoa tire fotografias a qualquer momento.

Outro problema que afeta a profissão é que os próprios fotógrafos profissionais acabam cedendo imagens por preços mais em conta, rebaixando os próprios salários. "Chegam a aceitar pagamentos que não correspondem à qualidade de seu trabalho", disse.

No entanto, Gostoli reconheceu que é muito difícil mudar a situação, já que "os fotógrafos conseguirão sobreviver", e não se mostrou muito otimista sobre as novas gerações do mundo da imagem.

Gostoli conta que é encantado com fotografia desde pequeno, mas se profissionalizou um pouco tarde, como ele próprio afirma. O argentino nunca teve dificuldades em cobrir toda uma série de temas, desde tragédias a eventos com celebridades.

Sua carreira lhe permitiu passar por várias agências de notícias internacionais, como Associated Press, Reuters, France Presse e a Agência EFE, que deram a possibilidade dele viajar por toda a América Latina.