Ícone imaterial, luz de Lisboa inspira artistas de todo o mundo

Paula Fernández.

Lisboa, 6 nov (EFE).- Capaz de apaixonar diretores de cinema e fotógrafos de todo o mundo, de inspirar poemas e escritos em prosa e de seduzir tanto turistas como moradores, a luz de Lisboa é um dos principais ícones imateriais da capital portuguesa.

A relação é recíproca: a luz de Lisboa envolve a capital com uma magia especial, mas são vários fatores da própria cidade os que permitem criar essa luminosidade tão característica que protagoniza agora uma exposição no coração da cidade.

"A ideia era tentar entender se esta luz tão bonita para os estrangeiros é verdadeira ou um mito", disse à Agência Efe a diretora do Museu de Lisboa, Joana Monteiro, instituição que levou a exposição à célebre Praça do Comércio.

Com a colaboração de vários especialistas em física, a exibição mostra os fatores científicos que influenciam na concepção da luz de Lisboa e que partem da localização geográfica da cidade.

Lisboa é a capital europeia com mais horas de sol por ano, com uma média de 2.786 horas, à frente das 2.691 de Madri e ainda mais longe de outras cidades como Paris (1.661) e Londres (1.573).

"Portugal é um país com muito vento, o que limpa a atmosfera e permite uma alta visibilidade", explicou Joana, que lembra que da capital portuguesa é possível ver a outra margem do Tejo com nitidez, apesar de estar a uma distância de quase dois quilômetros.

A topografia de Lisboa também influencia, já que as sete colinas sobre as quais a cidade foi erguida lhe dão a forma de uma concha, de modo que a luz se reflete nas colinas e no Tejo e se concentra nos vales.

A fórmula fica completa com os materiais com os quais a cidade foi construída, diferentes dos de outras cidades europeias.

As fachadas de cores rosas, amarelas e ocres, os azulejos que cobrem alguns edifícios e a tradicional calçada portuguesa que cobre o solo da cidade, todos eles de tons claros, multiplicam a luminosidade.

"Foi um desafio, porque a exposição é feita sobre algo que não se vê", reconhece Joana, que revelou que o projeto nasceu há mais de dois anos, quando decidiram compilar os atrativos turísticos de Lisboa e repararam que sua luz era um dos atributos que costumava se destacar entre os viajantes.

O brilho tão especial que envolve a capital portuguesa inspirou artistas lusitanos e estrangeiros, que durante séculos escreveram sobre ela e a retrataram em fotos, pinturas, filmes e até anúncios publicitários de televisão.

Uma seleção destas obras está exposta no Museu, desde as pinturas de seu compatriota Carlos Botelho e escritos do francês Olivier Rolin, até as fotografias dos portugueses Artur Pastor e Nuno Cera.

Uma fotografia deste último foi precisamente a escolhida para liderar a exposição, uma imagem que mostra a cidade desde o outro lado do rio com um céu límpido e um espelho de água a seus pés.

No campo do cinema, é possível ver filmes como "Dans la ville blanche", do suíço Alain Tarner; "Recordações da casa amarela", do português João César Monteiro; e "O Céu de Lisboa" (1994), do alemão Wim Wenders.

"A luz tem importância para esses filmes. Aparece como um elemento importante na valorização dos sentimentos que transmite a obra", disse Monteiro.

A mostra do Museu de Lisboa - aberta ao público até 20 de dezembro - fica na Praça do Comércio que, com suas grandes vidraças voltadas para o rio, permitem que os visitantes comprovem de primeira mão como a luz lisboeta envolve a exposição em um ambiente mágico.

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