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Tailândia cria Museu da Corrupção com obras inspiradas em escândalos

Museu na Tailândia reúne obras de arte para relembrar escândalos de corrupção do país -  AFP PHOTO / Nicolas ASFOURI
Museu na Tailândia reúne obras de arte para relembrar escândalos de corrupção do país Imagem: AFP PHOTO / Nicolas ASFOURI

11/10/2015 09h59

A corrupção na Tailândia é tão variada e abundante que é possível até montar um museu como o que terá Bangcoc, no qual vários artistas transformam em obras de arte alguns dos escândalos mais famosos da história recente do país.

A Anticorrupção da Tailândia (ACT) é a organização que está por trás deste projeto, apresentado em setembro, coincidindo com o dia contra a corrupção organizado pela junta militar que governa o país há um ano e meio.

Trata-se de uma mostra com vocação pedagógica dirigida sobretudo aos mais jovens, segundo explicou Mana Nimitmongkol, o secretário-geral da ACT, que agrupa várias organizações empresariais e educativas.

"Os tailandeses esquecem com muita facilidade, o que faz com que os corruptos sejam mais atrevidos. Queremos que a corrupção seja escrita na história da Tailândia para que o público saiba e lembre os danos que (os corruptos) causaram ao país", disse Mana à Agência Efe.

A exposição, que está agora no Centro de Arte e Cultura de Bangcoc e que no final de ano se instalará de forma definitiva na sede da Comissão Nacional Anticorrupção, consta de dez esculturas que representam diferentes casos de enriquecimento ilícito.

A figura de um policial engolindo colunas de concreto armado alude ao contrato milionário que o governo assinou em 2012 com uma empresa para que construísse as delegacias do país, mas que até o momento não levantou um só muro.

Outra denuncia como os ricos e bem conectados evitam assumir responsabilidades embarreirando seus casos nos tribunais, mostrando uma rica mulher de pé em cima de uma tartaruga cuja cabeça encara uma montanha de papéis.

A escultura faz referência a um caso de suborno que abalou há seis anos o festival de cinema de Bangcoc. O caso envolveu norte-americanos que, ao contrário de uma funcionária tailandesa do alto escalão, acabaram atrás das grades nos Estados Unidos.

Corrupções do dia-a-dia
Entre tantos casos de corrupção na Tailândia, os organizadores do museu fizeram uma seleção "representativa" de sua variedade e seus autores: de policiais a funcionários, passando por cidadãos comuns que utilizaram o Estado em seu benefício.

Em nenhum dos escândalos se identifica os responsáveis, o que o porta-voz justifica pelo fato de que todos eles seguem sob poder da Justiça, e quase todos eles ocorreram nos últimos 15 anos.

Trata-se do período que coincide com o de uma hegemonia eleitoral -- a do movimento político do ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, confrontado com "establishment" da capital e a quem o exército tirou do poder em dois golpes de estado.

O fato de não constar nenhum escândalo que envolva militares deve-se, por outro lado, a uma mera questão de espaço, segundo assegurou o porta-voz da ACT, que descarta uma interferência dos atuais gestores do país.

O foco no museu é no presente. Antecedentes como o do marechal Sarit Thanarat, o ditador que, após sua morte em 1963, teve reveladas contas secretas com mais de US$ 140 milhões, e disputadas por um filho, uma esposa e uma centena de amantes para regozijo da imprensa local, não ganhou destaque. Também não são mencionados os militares que admitiram fortunas fabulosas e injustificáveis.

"A corrupção ocorre a cada dia e destrói nosso futuro. Não queremos falar ao povo do passado, mas do presente", comentou o dirigente da ACT.

A luta contra a corrupção foi um dos argumentos que o exército usou para justificar o golpe de Estado. Aprovando, em seguida, uma constituição provisória que dá poder absoluto e imunidade aos militares.

"O poder absoluto corrompe absolutamente", admitiu Mana, que, apesar de aprovar a ação do governo dos militares, reconhece que "algum dia, quando já não estiverem no poder, todas as coisas que possam ter cometido serão reveladas e expostas no museu".