Exposição em Paris homenageia centenário do nascimento de Edith Piaf

Javier Albisu

De Paris

No ano do centenário de nascimento da cantora francesa Edith Piaf (1915-1963), que será celebrado no dia 19 de dezembro, a Biblioteca Nacional da França, em Paris, convida o público a conferir o "baú de lembranças" da grande diva, que viveu entre miséria, boemia e aplausos. Em cartaz até 23 de agosto, a mostra "Piaf" reúne 400 artigos e curiosidades que remetem a uma vida jovial e sórdida.

São documentos originais que moldam uma vida cheia de lendas que a própria artista ajudou a acrescentar à sua biografia, para engrandecer o mito da menina com voz poderosa em apenas 1,47 m de altura, que colocava em cada nota a tragédia de sua existência. "Ela era ciente que sua vida pessoal fazia parte do espetáculo e que o público precisava de contos de fadas", explicou nesta segunda-feira (13) à agência Efe o curador da exposição, Joël Huthwohl.

A mostra foi feita a partir de arquivos doados pela inseparável secretária de Piaf, Danielle Bonel. Aos móveis e utensílios da confidente se juntam partituras, manuscritos, fotos e gravações inéditas que culminaram no Oscar e no César que a atriz francesa Marion Cotillard ganhou em 2008, ao dar vida à cantora em "Piaf - Um Hino ao Amor", do diretor francês Olivier Dahan.

Edith Giovanna Gassion nasceu em Paris, filha de um acrobata e de uma cantora que deu à luz na rua, em frente ao número 72 da rua de Belleville, onde atualmente uma placa comemorativa marca o início da lenda. Essa era a situação que a cantora relatava, sem mencionar que, na verdade, ela veio ao mundo no hospital Thenôn de Paris, como comprova sua certidão de nascimento.

A artista sobreviveu a uma infância de miséria e doença, entre prostíbulos e circos ambulantes, até que aos 14 anos deixou os pais para tentar a vida cantando nos obscuros cabarés de Pigalle. Na adolescência, teve sua única filha, Marcelle, que morreu aos dois anos e meio em decorrência de uma meningite.

Aos 20 anos, o empresário Louis Leplée descobriu Edith na rua e a atribuiu a ele o apelido "La Môme Piaf" (a pequena pardal). Com Leplée, a cantora gravou seu primeiro disco, "Les Mômes de la Cloche", com o qual experimentou um pouco do sucesso, até que seu mentor foi assassinado e ela voltou a ficar sozinha.

Piaf estava à beira do caos quando conheceu o compositor Raymond Asso, seu novo mentor e amante, e a pianista Marguerite Monnot, que a acompanharia durante toda a carreira e faria partituras de músicas como "Mon Légionnaire" e "Milord". A delicada e profunda cantora se tornou imediatamente uma estrela.

Segundo o curador da exposição, após a Segunda Guerra Mundial Piaf chegou a se transformar em um símbolo da libertação para uma França que precisava voltar a acreditar em si mesma. Nessa época, a artista gravou "La Vie en Rose", a grande canção de sua vida.

Dois anos depois, Piaf começou conquistar Nova York e se apaixonou pelo boxeador Marcel Cerdan, que morreu um ano depois em um acidente de avião, o que a levou ao vício em morfina. Para o pugilista, a cantora escreveu "Hymne à l'Amour".

A exposição também lembra como, nos anos 1950, Piaf se casou com o cantor Jacques Pills, fez turnê com Charles Aznavour e amou o cantor e compositor francês Georges Moustaki, enquanto tentava se desvencilhar dos vícios. Sua vida começou a se apagar em 1960, quando se afastou dos holofotes por recomendação médica.

Mas Piaf, que afirmava preferir morrer a deixar de cantar, retornou em 1961 para se apresentar no lendário teatro Olympia, de Paris, com um concerto no qual estreou "Je ne Regrette Rien" (Não me Arrependo de Nada), com amigos como Alain Delon, Paul Newman, George Brassens, Duke Ellington e Jean-Paul Belmondo na plateia.

"Arrancou meu coração", disse o músico americano Louis Armstrong sobre a inesquecível interpretação em que Piaf, com pele pálida e um decotado vestido preto, remeteu a seu passado de álcool, romances e morfina.

Pouco depois, a cantora ainda se casou com o cantor Théo Sarapo, 20 anos mais jovem, e, no dia 10 de outubro de 1963, a diva francesa morreu em uma casa de campo na cidade de Grasse, aos 47 anos.

O corpo da cantora foi levado clandestinamente para Paris, onde no dia seguinte houve o anúncio de que ela havia morrido na capital francesa, atendendo aos desejos de Piaf. Seguido por 500 mil fãs, segundo as notícias da época, seu caixão atravessou Paris até chegar ao Cemitério Père-Lachaise, onde estão seus restos mortais.

UOL Cursos Online

Todos os cursos