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Javier Moro diz que seu livro recebeu críticas injustas de Laurentino Gomes

O escritor espanhol Javier Moro - Santi Carneri/EFE
O escritor espanhol Javier Moro Imagem: Santi Carneri/EFE

Waldheim García Montoya

22/11/2014 08h01

O escritor espanhol Javier Moro, que está em visita ao Brasil, afirmou nesta sexta-feira (21) em São Paulo que em seu trabalho literário busca "compor" uma história contando "interiormente" o que os historiadores relatam "para fora".

"Não gosto muito de falar dos projetos futuros, mas sei que há muitas histórias para contar da América Latina da maneira que gosto de contá-las, interiormente, que é usando a literatura. Gosto de contar interiormente o que os historiadores contam por fora. Eu faço uma novela da história", afirmou Moro em entrevista à Agência Efe.

De pai espanhol e mãe francesa e com inumeráveis viagens de família desde criança por Ásia, África e América Latina, Moro sempre se interessou em histórias tiradas além das fronteiras da Espanha.

"Dizem para mim que sou um escritor 'transversal'. Ninguém é obrigado a escrever sobre temas espanhóis, sou um escritor espanhol e escrevo do ponto de vista de um tipo de cultura espanhola mas sobre o mundo. Meu único critério é contar uma história, e não é fácil", comentou.

Após ser o principal autor convidado para a 60ª Feira do Livro do Porto Alegre, Moro viajou para o Rio de Janeiro e São Paulo para dar conferências nas sedes do Instituto Cervantes.

Nas três, Moro deleitou seus leitores com novas impressões de "O Império é Você", um de seus maiores sucessos entre o público brasileiro por abordar um capítulo transcendental da história do país.

"Em Porto Alegre, fiquei encantado de estar em contato com meu público. Senti muito o interesse pelo sucesso do livro que escrevi sobre Dom Pedro I, que recupera o papel fundamental do imperador (1798-1834) na história do Brasil", destacou o escritor.

O escritor espanhol lembrou que apesar do sucesso de público, a obra recebeu "críticas injustas", como as do brasileiro Laurentino Gomes (autor de '1808') e que chamou Moro de "neocolonialista".

"É uma tolice. Uma reação visceral de alguém que viu seu sucesso a perigo", ressaltou o autor de "Era Meia-noite em Bhopal".

Sobre essas críticas, Moro disse: "Recebo mensagens de muitos leitores que me agradecem por dar a eles uma visão global da história, um gênero do qual não estão muito acostumados no Brasil, que é 'compor novelas' da história".

"O que faço em meus livros são coisas da realidade brasileira contando lembranças", como em 'Caminhos de liberdade', baseado na história do ambientalista Chico Mendes, no qual viajou para a Amazônia e se tornou amigo de um de seus personagens do livro.

Trata-se de 'Pernambuco', um açougueiro de Altamira, no Pará, que era um matador de aluguel na região e uma vez, após matar três líderes camponeses, ajudou as viúvas, que eram suas clientes e não sabiam que ele tinha executado seus maridos, para pagar um enterro decente.

"Isso te conta a Amazônia melhor que qualquer outra coisa, uma loucura, uma contradição, tudo o que você quiser, mas hoje tudo continua igual. Parece que em São Paulo ou no Rio de Janeiro não interessa essa realidade", declarou o autor, para quem a globalização com o desenvolvimento de internet não favoreceu a literatura.

Para Moro, "a Espanha tem uma grande cultura da pirataria. Um menino na Espanha que compra um livro é o bobo do grupo porque não o baixou na internet", concluiu.