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Nélida Piñon comemora "honra" de se tornar membro da Academia Galega

Primeira mulher a presidir a ABL, escritora Nélida Piñon ganha prêmio "Casa de las Americas" com "O Aprendiz de Homero" - Reuters
Primeira mulher a presidir a ABL, escritora Nélida Piñon ganha prêmio "Casa de las Americas" com "O Aprendiz de Homero" Imagem: Reuters

14/08/2014 21h12

A escritora Nélida Piñon, vencedora do Prêmio Príncipe de Astúrias das Letras de 2005, está ansiosa para se tornar membro honorário da Real Academia Galega, ainda mais na ocasião do aniversário de 30 anos da publicação de "A República dos Sonhos", considerada uma obra épica galega.

"Trata-se de um grande honra ser a primeira brasileira a assumir como acadêmica galega", disse em entrevista à Agência Efe a autora de obras premiadas internacionalmente como "A doce canção de Caetana", "Vozes do Deserto" e "Aprendiz de Homero".

Piñon, filha e neta de galegos emigrados ao Brasil, já está preparando o discurso que pronunciará na cerimônia na qual assumirá como acadêmica, no dia 27 de setembro em La Coruña.

"O texto tem que ser muito especial por tratar-se de uma distinção que me deixou muito feliz", disse a escritora, a primeira mulher a assumir a presidência da Academia Brasileira das Letras.

A Real Academia Galega foi criada em 1906 para promover, estudar e preservar a cultura e a língua dessa região do noroeste da Espanha.

"Preciso entregar com urgência o discurso de posse porque a tradição galega prevê que tanto o pronunciamento do membro entrante como o do membro que o recebe sejam publicados em um livro a ser lançado no mesmo dia da cerimônia", afirmou a escritora nascida no Rio de Janeiro em 1937.

O acadêmico eleito para responder a seu pronunciamento e recebê-la como acadêmica honorária é o historiador Ramón Villares Paz, presidente do Conselho de Cultura da Galícia.

"A decisão da Academia Galega me deixou feliz. Sempre que a Espanha e Galícia me oferecem homenagens me alegro muito e as transfiro a meus ancestrais", comentou.

Os quatro avôs de Piñon nasceram na Galícia e emigraram ao Brasil, como também fez seu pai.

"Foram meus avôs, quando atravessaram o Atlântico, que me deram o privilégio de me educar na língua portuguesa sem perder a cultura galega", acrescentou a escritora, que chegou a estudar alguns anos na Galícia e em cuja obra sempre há referências a sua origem.

A autora, que se diz feliz por contar com uma dupla cultura que enriqueceu seu repertório criador, destacou que assumirá como acadêmica galega precisamente no ano em que se lembram os 30 anos de "A República dos Sonhos", o livro no qual aborda a história do Brasil e da imigração espanhola.

"Mais que uma obra sobre a imigração espanhola no Brasil é um épico galego, como já me disseram na Galícia", comentou.

A editora Alfaguara lançou uma edição comemorativa, com nova capa, da tradução ao espanhol de "A República dos Sonhos", em Portugal preparam outra edição comemorativa para o final deste ano e no Brasil sairá uma terceira, incluindo alguns ensaios, em março do ano que vem.

A escritora contou ainda que aproveitará sua viagem à Galícia no próximo mês para participar em Cotobade, o povoado onde nasceu seu pai, do lançamento de um concurso de narrativas curtas promovido pelo prefeitura e que terá o nome de "Nélida Piñon".

"Para mim sempre é um prazer ir a Cotobade. Na última vez me ofereceram um almoço com discursos no qual participaram cerca de 80 pessoas da comunidade", disse Piñon, que também é acadêmica correspondente estrangeira do Real Academia Espanhola (RAE) e membro correspondente da Academia Mexicana da Língua.