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Ateliê onde Picasso pintou "Guernica" vira motivo de disputa judicial

Grupo de visitantes contempla a obra "Guernica", de Picasso, no museu Rainha Sofia, em Madri (1/10/12) - EFE
Grupo de visitantes contempla a obra "Guernica", de Picasso, no museu Rainha Sofia, em Madri (1/10/12) Imagem: EFE

Da EFE, em Paris (França)

16/06/2013 14h19

A Justiça francesa examinará o processo de despejo contra uma associação cultural que ocupa a histórica cobertura dos Grands-Augustins, em Paris, onde Pablo Picasso pintou o quadro "Guernica" em 1937, e que é de propriedade da Câmara de Oficiais de Justiça local.

A cobertura tem grande valor histórico, pois ali Pablo Picasso (1881-1973) instalou seu ateliê de 1936 a 1955, Jean-Louis Barrault (1910-1994) viveu e fundou sua primeira companhia teatral e Honoré de Balzac criou a peça de "A Obra-Prima Ignorada" (1845).

Nos últimos anos, o bairro perdeu boa parte do caráter artístico e sociocultural, vítima da especulação imobiliária. Desde 2002, o Comitê Nacional para a Educação Artística (CNEA) organizou mais de 700 oficinas pedagógicas, concertos e atos de acesso gratuito nos Grands-Augustins, declarou o diretor geral, Alain Casabona.

Segundo Casabona, o lugar se encontrava em péssimo estado e abandonado desde que Picasso foi expulso em 1955. "Se nos expulsarem, o lugar ficará abandonado", acrescentou o diretor do CNEA, que espera, no entanto, que as autoridades iniciem um procedimento de urgência para declará-lo Monumento Histórico.

Casabona também assinalou que um membro da família Picasso, cujo nome não pode divulgar, está interessado em ocupar todo o imóvel, sem se opor a que o CNEA continue em sua cobertura.

O CNEA conta com um comitê dirigido pelo presidente da Academia de Belas Artes, Lucien Clergue; a atriz e produtora Charlotte Rampling, os ex-ministros franceses Michel Rocard e Jacques Delors e o violinista Didier Lockwood, entre outras personalidades.

Por sua vez, a porta-voz e conselheira em comunicação da Câmara de Oficiais de Justiça, Alexandra Romano, declarou que o CNEA não oferece acesso público, mas privado, aos 250 metros quadrados em litígio, situados em um dos mais belos bairros de Paris. "Não há mais nada da passagem de Picasso pela cobertura, além do fato de que esteve ali", como existem em Paris milhares de vielas, sótãos e apartamentos por onde passaram grandes homens, acrescentou.

É um lugar privado, no qual não se defende de maneira particular a memória de Picasso, destacou Alexandra, que negou que a cobertura estivesse em mal estado, mas simplesmente desocupada, quando chegou o CNEA, no marco de um convênio que - destacou - terminou em 2010.

Segundo a porta-voz, o primeiro objetivo Câmara é pôr o edifício de acordo com as normas de segurança, "para obter um mínimo de rentabilidade" que permita manter um prédio de 1.500 metros quadrados de fachada.

"Ninguém sabe será feito depois", completou.