Topo

Em entrega de Nobel de Literatura, chinês Mo Yan é elogiado como "convincente e mordaz"

10.Dez.2012 - O escritor chinês Mo Yan posa com sua mulher, Quinlan Du, depois de receber a medalha do Prêmio Nobel de Literatura em cerimônia realizada em Estocolmo, na Suécia - Jonas Ekstromer/EFE
10.Dez.2012 - O escritor chinês Mo Yan posa com sua mulher, Quinlan Du, depois de receber a medalha do Prêmio Nobel de Literatura em cerimônia realizada em Estocolmo, na Suécia Imagem: Jonas Ekstromer/EFE

Carmen Rodríguez.

De Estocolmo (Suécia)

10/12/2012 17h56

O chinês Mo Yan, que recebeu nesta segunda-feira (10) em Estocolmo o Prêmio Nobel de Literatura, descreve em sua obra um passado da China que "é uma revisão convincente e mordaz de cinquenta anos de propaganda".

Assim se referiu hoje a Mo Yan o presidente do Comitê Nobel de Literatura, Per Wästberg, durante a apresentação do escritor na entrega do prêmio. Mo recebeu a condecoração do rei Carl Gustav, da Suécia.

O Konserthuset (Sala de Concertos) de Estocolmo celebrou por mais um ano a entrega dos Prêmios Nobel, em cerimônia presidida pelos reis Carlos Gustavo e Silvia da Suécia, e que foi assistida pela princesa herdeira Victoria e seu marido, o príncipe Daniel, e os príncipes Carlos Felipe e Madeleine.

De todos os Nobel entregues hoje, o que tinha gerado mais expectativa foi o de Mo Yan, pseudônimo de Guan Moye e que significa "não fale". A escolha de Mo para receber o Nobel foi muito criticada, entre outros pelos dissidentes chineses, que o consideram um intelectual do regime.

Em sua apresentação, Wästberg não economizou elogios à literatura de Mo Yan, de 57 anos, e seu retrato da sociedade chinesa, e disse que o escritor "descreve um passado que, com seus exageros, paródias e derivações de mitos e contos populares, é uma revisão convincente e mordaz de cinquenta anos de propaganda".

Mo Yan conhece "praticamente tudo o que é preciso se conhecer sobre a fome e, provavelmente, a brutalidade do século 20 na China nunca foi descrita de uma maneira tão desnuda", assegurou.

Em sua literatura, o autor chinês "ataca a história e suas falsificações, assim como as penúrias e a hipocrisia política", disse Wastberg, que citou algumas de suas obras nas quais ironiza a "pseudociência revolucionária" ou a "política familiar chinesa" do filho único.

Nas histórias de Mo Yan "nunca encontramos o cidadão ideal que foi uma característica padrão na China de Mao", mas sim personagens que são capazes de adotar "os passos e medidas mais amorais para satisfazer suas vidas e quebrar as jaulas nas quais foram confinados pelo destino e a política", disse o acadêmico.

Em uma cerimônia assistida por 1.570 convidados e que sempre é marcada por um rigoroso protocolo, o primeiro a tomar a palavra foi o presidente de comitê da Fundação Nobel, Marcus Storch, que lembrou que horas antes em Oslo a União Europeia tinha recebido o Nobel da Paz.

Storch percorreu em seu discurso a história dos Prêmios Nobel, entregue hoje por ser a data da morte de seu criador, Alfred Nobel, assim como os desafios do futuro.

Os laureados, todos homens, receberam sua medalha e diploma das mãos do rei e fizeram uma reverência ao monarca, outra aos membros da Academia e a terceira ao público, pois o protocolo não estabelece que possam fazer discursos.

Os prêmios foram entregues na ordem habitual, e por isso os primeiros a se aproximar do palco foram os agraciados em Física, David J. Wineland e Serge Haroche, escolhidos por terem aberto uma "nova era" na física quântica.

Em Química foram reconhecidos os estudos de Robert J. Lefwokitz e Brian K. Kobilka sobre receptores celulares, através dos quais boa parte dos remédios atuam.

O britânico John B. Gordon e o japonês Shinya Yamanaka receberam a distinção em Medicina por demonstrar que as células adultas podem ser reprogramadas para desenvolver qualquer tipo de tecido.

Os últimos a recolherem suas medalhas das mãos do rei foram os americanos Alvin E. Roth e Lloyd S. Shapley por seus trabalhos sobre o desenho dos mercados e sua teoria das dotações estáveis, que valeram o prêmio de Economia, criado em 1969 pelo Banco da Suécia em memória de Alfred Nobel.

O ato contou com diversas apresentações musicais sob o comando da Real Orquestra Filarmônica de Estocolmo, com obras, entre outros, de Pyotr Tchaikovsky, Gioacchino Rossini e George Gershwin.

Os prêmios foram reduzidos neste ano em 20%, até oito milhões de coroas suecas (cerca de US$ 1,5 milhão de dólares) por categoria.

Como a cada ano, a Sala de Concertos foi decorada por cerca de 17.000 flores e folhas enviadas desde Sanremo (Itália), cidade onde Alfred Nobel morreu. A cerimônia foi encerrada com o hino nacional sueco.