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Tempo não passou para Mafalda porque problemas são "iguais ou mais graves", diz Quino

O trabalho de Quino se destaca por usar o humor para denunciar guerra, preconceito e conflitos sociais. "Repare que de Adão e Eva saiu um filho assassino. Logo, de quatro pessoas que havia no mundo, 25% era um delinquente" - AP
O trabalho de Quino se destaca por usar o humor para denunciar guerra, preconceito e conflitos sociais. "Repare que de Adão e Eva saiu um filho assassino. Logo, de quatro pessoas que havia no mundo, 25% era um delinquente" Imagem: AP

Miguel Ángel Moreno

Da EFE, de Buenos Aires

20/07/2012 21h57

Joaquín Lavado, "Quino", o pai da Mafalda, celebrou na sexta-feira (20) seus 80 anos recém-completados rodeado de admiradores na Feira do Livro Infantil de Buenos Aires. Ali, ele confessou: parece que o tempo não passou para seu personagem porque os problemas do mundo são "iguais ou mais graves".

"Infelizmente, parece que o tempo não passou por ela. Os problemas são os mesmos, um pouco piores agora", explicou Quino, que comemorou no dia 17 seu 80º aniversário em Mendoza, sua cidade natal, rodeado de parentes e amigos.

"Eu acho que hoje a Mafalda teria as mesmas opiniões de antes. Releio minhas tiras e me parece que foram desenhadas hoje", acrescentou o criador da menina rebelde, preocupada com os problemas do mundo, que protagonizou a popular história em quadrinhos entre 1964 e 1973.

Apesar de não publicar novos trabalhos há anos, dezenas de admiradores aguardaram mais de uma hora na Feira do Livro infantil de Buenos Aires para receber um autógrafo do quadrinista, que se descreveu mais como um "jornalista desenhista" do que como um desenhista de histórias em quadrinhos.

Se voltasse a desenhar, o artista gostaria de criar algo "totalmente diferente", embora fosse "muito difícil", admitiu, reconhecendo que suas fontes de inspiração são as mesmas de quando criou a Mafalda. "Me inspira o que me inspirou sempre: a natureza humana, o mundo que nos rodeia, as reações do povo à política, espetáculos, a arte, tudo", explicou.

Embora lembre que quando desenhou a Mafalda estava rodeado de crianças porque "tinha um monte de sobrinhos, muito pequenininhos", Quino, que agora não convive mais com crianças, não esconde sua emoção ao falar com seus admiradores mais jovens. "A verdade é que me emociona muito me encontrar com esse público tão jovem e tão entusiasta", contou.

Entre seus admiradores mais jovens, Paula, de 8 anos, que esperou sua vez para conhecer Quino, dizia ter "todas as historinhas da Mafalda" e de compartilhar com o personagem da história em quadrinhos sua "preocupação com o mundo".

Mas não só as crianças aproveitaram para se aproximar de Quino na Feira do Livro infantil. Também havia antigos admiradores que cresceram com seus desenhos, como José, que hoje é desenhista e considera Mafalda "uma autoridade", um personagem sempre pleno de atualidade. "Passam os anos e ela continua sendo atual. Ou o mundo não evolui ou a Mafalda sempre foi evoluída", comentou à Agência Efe.