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Temporada de Banksy em NY gera polêmicas e "caças ao tesouro"

Alessandra Corrêa

De Nova York, para a BBC Brasil

22/10/2013 11h16

Desde o início do mês, um tema tem dominado as conversas nos bares e os debates na imprensa de Nova York: a passagem do artista de rua britânico Banksy pela cidade.

Enquanto moradores e turistas se empenham em uma espécie de caça ao tesouro para encontrar as obras que o artista vem espalhando pela metrópole, outros se sentem incomodados com a presença do britânico, e alguns de seus trabalhos são alvo de depredação poucas horas depois de serem descobertos.

Famoso por manter sua identidade em segredo e pelo humor crítico, Banksy iniciou em 1º de outubro o projeto "Better Out Than In", uma residência de um mês em Nova York.

A cada dia, uma nova obra aparece em algum canto da cidade, atraindo imediatamente pequenas multidões de fãs munidos de câmeras e celulares e provocando reações apaixonadas.

Fotos e vídeos dos trabalhos são postados diariamente no site do artista.

Depredações e proteção
O trabalho mais recente (até a conclusão desta matéria), revelado na segunda-feira em um muro no sul do Bronx, traz a figura de um menino escrevendo com uma lata de spray a frase "Ghetto 4 Life" ("gueto para toda a vida"), enquanto um mordomo segura uma bandeja com mais latas.

A frase gerou debate entre os moradores do bairro – o mais pobre de Nova York e famoso por seus grafites – e foi recebida com estranheza por alguns.

Segundo a imprensa, os proprietários do local já estavam em busca de ajuda para proteger a obra de depredações e evitar o destino de outros trabalhos de Banksy na cidade.

No domingo, a figura de um menino segurando um martelo desenhada em uma parede do Upper West Side sofreu uma tentativa de depredação poucas horas depois de descoberta. O ataque foi impedido por pessoas que passavam pelo local.

No Brooklyn, uma porta de ferro foi colocada em frente à parede com um grafite de Banksy, que havia sido depredado e, posteriormente, restaurado por moradores na semana passada. Apesar de admitirem que o proprietário talvez esteja bem intencionado, nova-iorquinos e turistas que foram até o local reagiram com indignação por não conseguir ver a obra.

Em Tribeca, a silhueta das Torres Gêmeas, com uma flor laranja no local onde o primeiro avião se chocou nos atentados de 11 de setembro de 2011, está agora protegida por uma folha de acrílico.

"Passo por aqui todos os dias e está sempre diferente", disse à BBC Brasil o estudante Kyle James.

Novo grafite de Banksy em Manhattan é coberto de tinta

Fãs e críticos
Nessas três semanas em Nova York, Banksy conquistou admiradores e inimigos.

Na quinta-feira passada, o jornal New York Post anunciou em sua manchete que a polícia de Nova York estava à caça do artista.

Nos dias seguintes, integrantes do Departamento de Polícia negaram a informação, mas o prefeito Michael Bloomberg criticou o trabalho do artista e disse que "o grafite desfigura propriedades e é um sinal de decadência e perda de controle".

"Não é minha definição de arte", afirmou o prefeito. "Ou talvez seja arte, mas não deveria ser permitido. E acho que é exatamente isso que a lei diz."

As reações negativas não vêm apenas das autoridades, mas também de grafiteiros locais. Além dos que reagem com violência, depredando as obras do britânico, e dos que tentam se fazer passar por Banksy, há os que preferem recorrer ao humor.

O TrustoCorp, grupo anônimo de arte de guerrilha, colocou cartazes pela cidade ironizando o fato de, apesar da postura de artista rebelde, Banksy ser multimilionário.

Um deles traz a frase "Riam agora, mas um dia eu serei tão rico que vou poder fazer grafite onde eu quiser" e a assinatura de "Banksy of America", um trocadilho com o banco Bank of America.

Há também quem tente faturar com a fama do britânico. Em East New York, no Brooklyn, moradores taparam o grafite com papelão e passaram a cobrar US$ 20 de quem quisesse tirar uma foto.

Mesmo quando não provocam respostas tão extremas, as obras de Banksy nunca são recebidas com indiferença.

Desde a semana passada, um caminhão de entrega de matadouro repleto de animais de pelúcia vem circulando por diversos bairros, surpreendendo pedestres e motoristas.

Na última quarta-feira, uma estátua gigante de Ronald McDonald e um menino de carne e osso que engraxa seus sapatos começaram a ser vistos no horário do almoço em frente a lanchonetes da rede em diferentes pontos da cidade.

No último dia 13, o artista instalou uma barraca no Central Park e vendeu suas obras por US$ 60 cada. Sem perceber que se tratavam de originais, avaliados em milhares de dólares, poucos se interessaram pelos trabalhos.

Em Chelsea, Banksy criou uma "galeria de arte" ao ar livre, com direito a segurança, banco e bebidas, para expor dois quadros feitos em colaboração com a dupla de grafiteiros brasileiros Os Gêmeos.

"Fazendo justiça à reputação da cidade, aqueles com intenção de depredar ou lucrar com os grafites da Banksy estão em minoria", disse o jornal The New York Times em um editorial dando boas vindas ao britânico.

"Nova York tem alguns palhaços com planos de negócios de esquina, mas também muitos entusiastas percorrendo os bairros, ansiosos por ver a obra de um artista querido – enquanto durar!"