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Colecionador de Munique concorda em devolver obra roubada por nazistas

De Berlim (Alemanha)*

26/03/2014 21h01Atualizada em 27/03/2014 19h12

O colecionador recluso que acumulou uma coleção de arte de valor inestimável em suas casas na Alemanha e Áustria --incluindo obras possivelmente roubadas de proprietários judeus pelos nazistas-- concordou pela primeira vez em devolver uma das obras de arte, anunciaram seus representantes nesta quarta-feira (26).

A obra a ser devolvida é "Mulher Sentada", do pintor francês Henri Matisse. A tela em questão pertencia a uma coleção de cerca de 1.400 peças que a polícia alemã descobriu na casa de Cornelius Gurlitt no bairro de Schwabing, em Munique, há dois anos. Ela foi subtraída de Paul Rosenberg em 1941, pouco tempo depois dos nazistas terem invadido a França durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945)

Posteriormente, a obra pertenceu a coleção do hierarca nazista Hermann Göring, que trocou a tela por outra peça do marchand de arte Gustave von Rochlitz antes da mesma chegar as mãos do pai de Gurlitt, Hildebrandt, que deixou a peça como herança ao seu filho, assim como o restante dos quadros.

Hannes Hartung, outro dos advogados de Gurlitt, explicou ao jornal alemão que já mantiveram conversas para concretizar a devolução da tela "Mulher Sentada" às duas netas de Rosenberg, Marianne Rosenberg e Anne Sinclair, ex-mulher do ex-responsável do FMI, Dominique Strauss-Kahn.

No entanto, apesar da atitude consciente de Gurlitt, ainda existe muitas dúvidas sobre quantas das obras encontradas provêm do roubo das autoridades nazistas durante o regime de Adolf Hitler (1933-1945).

As autoridades alemãs mantêm sua suspeita sobre 590 dos quadros, um número que é discutido pelos assessores do colecionador, que rebaixam esse número para cerca de 50 telas, como assinalaram ao jornal alemão.

O anúncio veio ao mesmo tempo em que outras obras de arte foram descobertas escondidas em uma casa pertencente a Gurlitt em Salzburgo, na Áustria --um tesouro que a televisão austríaca disse incluir uma pintura de Claude Monet há muito perdida.

"Estamos prestes a devolver uma peça da seção de Schwabing da coleção que temos suspeitas justificadas de que seja arte saqueada", disse em um comunicado Christoph Edel, um advogado nomeado pela justiça para representar o colecionador de 81 anos. "As discussões com outros reclamantes também foram construtivas, e esperamos devolver mais obras nas próximas semanas".

Edel disse que foi instruído por Gurlitt a devolver todas as obras comprovadamente saqueadas pelos nazistas aos seus donos judeus ou herdeiros.

Em um comunicado enviado à Associated Press, o porta-voz de Gurlitt, Stephan Holzinger, disse que buscas na casa de Salzburgo, onde cerca de 60 obras de arte haviam sido encontradas anteriormente, revelaram agora um total de 238 peças.

A emissora austríaca ORF informou que o tesouro em Salzburgo inclui uma pintura de Monet estimada em 10 milhões de euros --cerca de R$ 31,7 milhões. Outros trabalhos são de Edouard Manet, Auguste Rodin e Pablo Picasso.

Autoridades alemãs mantiveram em segredo por mais de um ano a descoberta inicial em Munique --encontrada como parte de uma investigação fiscal--, até que o achado foi divulgado por uma revista alemã em novembro, o que causou fortes críticas de grupos judaicos. Desde então, a Alemanha criou um painel de especialistas para analisar as obras de arte e determinar quais delas poderiam ser legitimamente reivindicadas pelos antigos proprietários ou seus herdeiros.

* Com informações da EFE