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Festival de Berlim começa com política, polêmica, ação e filme brasileiro

As atrizes Sigourney Weaver (foto) e Margaret Qualley - filha de Andie MacDowell - serão responsáveis pela abertura - Reuters
As atrizes Sigourney Weaver (foto) e Margaret Qualley - filha de Andie MacDowell - serão responsáveis pela abertura Imagem: Reuters

Em Berlim

20/02/2020 08h57

Ficção e temas atuais se encontrarão na 70ª edição do Festival de Berlim, que começa hoje com 18 filmes na disputa pelo Urso de Ouro, incluindo uma produção brasileira, e uma nova mostra dedicada a novas formas de fazer cinema.

As atrizes Sigourney Weaver e Margaret Qualley - filha de Andie MacDowell - serão responsáveis pela abertura de um dos festivais de cinema mais importantes da Europa, ao lado de Cannes e Venezam, com "My Salinger Year", uma história sobre a criação literária e a ambição profissional que será exibida fora de competição.

O brasileiro "Todos os Mortos", de Marco Dutra e Caetano Gotardo, ambientado no fim do século XIX, poucos anos após o fim da escravidão, concorre ao Urso de Ouro, ao lado de filmes como "Siberia", do veterano Abel Ferrara, e "First Cow", da americana Kelly Reichardt.

Outro destaque na mostra oficial é "The Roads Not Taken", da britânica Sally Potter, na qual Javier Bardem interpreta um deficiente auxiliado pela filha (Elle Fanning).

"Hardcore"

Outros filmes que desejam suceder "Synonymes", vencedor do Urso de Ouro do ano passado são "There is no Evil", do dissidente iraniano Mohamad Rasoulof, e "DAU. Natasha", um dos filmes do polêmico projeto do russo Ilya Khrzhanovskiy, que recriou uma cidade soviética na qual filmou a vida de 400 pessoas, repleta de violência e pornografia.

"A maioria das cenas deste projeto são hardcore, não apenas este filme", disse o novo codiretor do festival, Carlo Chatrian, antecipando a polêmica.

No conjunto, a mostra deste ano observa o mundo atual "sem ilusão, para abrir os nossos olhos", destacou.

A premiação será anunciada em 29 de fevereiro pelo júri presidido pelo ator britânico Jeremy Irons e que tem a presença do diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho ("Bacurau").

A britânica Helen Mirren receberá o Urso Honorário. Uma das homenagens mais emblemáticas da Berlinale, o Prêmio Alfred Bauer, foi cancelado há algumas semanas, após a revelação do passado nazista do primeiro diretor do festival.

O jornal Die Zeit publicou que Bauer - diretor da mostra entre 1951 e 1976 - foi um alto funcionário do departamento cinematográfico de propaganda criado por Joseph Goebbels, ministro de Adolf Hiltler, além de ter espionado grandes figuras da indústria do cinema durante o III Reich.

Os novos diretores da Berlinale, Chatrian e Mariette Rissenbeek, também anunciaram a criação da mostra "Encounters", que exibirá obras mais ousadas de cineastas "inovadores".

Fora de competição, a ex-candidata democrata à presidência americana Hillary Clinton é esperada na capital da Alemanha para apresentar a minissérie autobiográfica "Hillary". A Pìxar exibirá seu novo filme de animação "Onward" ("Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica" no Brasil) e a atriz australiana Cate Blanchett a série "Stateless".

O Brasil terá ainda uma forte presença na mostra "Panorama", com quatro filmes, incluindo o documentário "Nardjes", do diretor Karim Aïnouz, premiado ano passado em Cannes por "A Vida Invisível".

Outro documentário, "O reflexo do lago", de Fernando Segtowick, que mostra a vida de pessoas que moram nas proximidades da hidrelétrica de Tucuruí, também foi selecionado.

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O peso do Brasil

O peso do Brasil será significativo este ano, com o cineasta Kleber Mendonça Filho ("Bacurau") no júri, um filme na disputa pelo Urso de Ouro, "Todos os mortos", e algumas produções em diversas mostras do festival.

O codiretor do festival Carlo Chatrian explicou que a grande presença brasileira pode ser motivada pelo fato de que os "cineastas têm medo de um corte no apoio", o que levou muitos a "apressar a finalização de seus filmes".

Apesar de prolífico, o cinema brasileiro está sofrendo a perda de apoio público desde a chegada ao poder em 2019 do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro.

Pixar, depois do Oscar

Após conquistar mais um Oscar, desta vez por "Toy Story 4", os estúdios Pixar (Disney) apresentarão fora de competição "Onward" "("Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica" no Brasil, uma história original de dois irmãos que embarcam em um aventura para que seu pai, que eles mal conhecem, possa retornar durante 24 horas.

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Os protagonistas são dublados por Tom Holland e Chris Pratt.

Hillary Clinton, passado e presente

A democrata Hillary Clinton apresentará uma minissérie documental de quatro capítulos que percorre sua vida e carreira profissional.

"Hillary", dirigida por Nanette Burstein para a plataforma Hulu, foi imaginado inicialmente como um documentário sobre a campanha eleitoral de 2016, na qual a ex-candidata presidencial perdeu para Donald Trump.

Em um ano crucial nos Estados Unidos com a eleição presidencial de 3 de novembro, Hillary Clinton será responsável pelo momento mais político da Berlinale.

Dissidentes

Berlim, festival com forte caráter social e político, exibirá na mostra oficial "There is no evil", do iraniano Mohamad Rasoulof, impedido pelo governo de deixar o país após o filme "Lerd", que denunciou a corrupção no Irã e foi premiado em Cannes em 2017.

Fora da competição, a Berlinale exibirá "Numbers", do ucraniano Oleg Sentsov, detido em 2014 por ter protestado contra a anexação russa da Crimeia e que passou cinco anos detido na Rússia.