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Harvey Weinstein: a queda do 'Deus' de Hollywood

Harvey Weinstein em cena de "Untouchable" - Divulgação/Barbara Alper
Harvey Weinstein em cena de "Untouchable" Imagem: Divulgação/Barbara Alper

Nova York - AFP

03/01/2020 15h58

Durante anos, ele foi um dos produtores independentes mais poderosos de Hollywood. Podia construir ou destruir carreiras no mundo do cinema e da TV. Era venerado e temido ao ponto de Meryl Streep dizer certa vez que era "Deus".

Mas faz mais de dois anos que Harvey Weinstein, de 67 anos, foi denunciado por assédio, agressão sexual e estupro por mais de 80 mulheres por atos que teria praticado ao longo de 40 anos.

A partir da próxima segunda-feira (6), ele será julgado na corte estadual de Nova York e, se for considerado culpado, poderá passar o resto da vida na prisão.

Um "monstro"

As atrizes Ashley Judd, Gwyneth Paltrow, Kate Beckinsale, Uma Thurman e Salma Hayek o acusaram de assédio ou agressão sexual. Asia Argento, Rose McGowan e Paz de la Huerta, de estupro. Mira Sorvino e Ashley Judd garantem que ele acabou com suas carreiras porque elas não cederam ao seu assédio.

Muitas contaram que o irascível e impaciente Weinstein marcava encontro com elas em quartos de hotel, onde as recebia coberto com uma toalha de banho e propunha que dessem ou recebessem massagens ou que o vissem se masturbar.

Mas o robusto ex-produtor, de cerca de cem quilos, será julgado criminalmente apenas por duas acusações que não prescreveram: ele foi acusado de forçar a ex-assistente de produção Mimi Haleyi a receber sexo oral contra a sua vontade em 2006 e de violentar em 2013 outra mulher que permanece com a identidade em sigilo.

"Durante anos, ele foi o meu monstro", escreveu a atriz mexicana Salma Hayek, ap relatar o que viveu durante as filmagens de "Frida", em 2002. Diante de suas reiteradas negativas, Weinstein reagia com "ira maquiavélica" e ameaçava matá-la.

Das cinzas do império que construiu, nasceram movimentos como #MeToo e Time's Up, que incentivaram dezenas de milhares de mulheres do mundo todo a denunciar nas redes sociais homens poderosos que praticaram abusos ou assédio e desataram uma mudança de atitude: tolerância zero com este tipo de conduta.

Ladeira abaixo

Uma grande investigação sobre sua má conduta sexual, publicada no jornal The New York Times em 5 de outubro de 2017, somada a outra reportagem na revista The New Yorker, originaram um escândalo que acabou com sua carreira, seu casamento e sua reputação.

Foi expulso da Academia de Cinema dos Estados Unidos e da própria empresa, a The Weinstein Company (TWC).

Em novembro de 2017, um mês depois de o escândalo vir à tona, internou-se em um centro de reabilitação para tratar a dependência de sexo.

Sua segunda esposa, a designer de moda britânica Georgina Chapman, com quem teve dois de seus cinco filhos, divorciou-se dele.

Weinstein está em liberdade após pagar uma elevada finança. Usa um bracelete eletrônico e permanece recluso em uma casa alugada em um subúrbio em uma casa alugada em um subúrbio nova-iorquino, perto dos filhos mais novos.

Suas escapadas a Manhattan são perigosas: em outubro, várias mulheres o atacaram em um bar, chamando-o aos gritos de "estuprador" e "monstro" até serem expulsas do local.

No mês passado, apareceu na corte pálido, caminhando com um andador antes de ser operado nas costas devido a um acidente de carro sofrido em agosto.

O rei do Oscar

Nascido no Queens em 19 de março de 1952, filho de um lapidador de diamantes, Weinstein estudou na Universidade de Buffalo e inicialmente produziu shows de rock com seu irmão, Bob.

Ambos cofundaram seu primeiro estúdio de cinema, Miramax, em 1979. Seus sucessos incluíram "Sexo, mentiras e videotape", de Steven Soderbergh (1989) e "Shakespeare apaixonado" (1998), ganhador de sete estatuetas e com o qual Weinstein ganhou um Oscar de melhor filme.

A Miramax também produziu o primeiro sucesso de Quentin Tarantino, "Pulp Fiction - tempo de violência" (1994) e "O paciente inglês" (1997, nove Oscars).

A Miramax foi vendida para a Disney em 1993 e os irmãos deixaram a empresa em 2005 para fundar a The Weinstein Company.

Ao longo dos anos, os filmes de Weinstein receberam mais de 300 indicações ao Oscar e 81 estatuetas.

Chegou a ter uma fortuna pessoal entre 240 milhões e 300 milhões de dólares, que mingua rapidamente após cair em desgraça.

Os promotores asseguram que o acusado vendeu seis propriedades por um montante total de 60 milhões de dólares nos últimos dois anos para pagar custas legais e financiar suas duas ex-mulheres.

A TWC declarou falência no ano passado e foi comprada pelo fundo de investimentos Lantern.

Em dezembro, Weinstein chegou a um acordo de 25 milhões de dólares com mais de 30 atrizes e ex-funcionárias que o processaram. A conta será paga por sua antiga empresa e empresas de seguros.

Hoje Weinstein inspira Hollywood, mas como o vilão do filme. Um longa de suspense baseado no escândalo, intitulado "The Assistant", tem estreia prevista para o fim de janeiro.

E está no forno outro filme com produção de Brad Pitt, que encarou Weinstein em 1995 e ameaçou matá-lo se não parasse de assediar sexualmente sua namorada na época, Gwyneth Paltrow.

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