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Ana Tijoux, a rapper que se tornou voz dos protestos sociais no Chile

A rapper Ana Tijoux - Xavi Torrent/Redferns
A rapper Ana Tijoux Imagem: Xavi Torrent/Redferns

em Paris (França)

28/11/2019 11h07

A chilena Ana Tijoux confessa sentir pavor diante de uma câmera. Mas a timidez de um dos rappers mais reconhecidos da América Latina se torna fúria quando ela canta "Cacerolazo", seu mais recente sucesso que acompanha a revolta social em seu país.

Usando chapéu e vestida discretamente de preto, Tijoux enfrenta a sessão de fotos no estúdio da AFP em Paris com estoicismo.

No braço, uma tatuagem com a data de 1977, ano de seu nascimento e o título de um de seus álbuns decisivos.

"Vou fazer uma décima tatuagem, uma gigantesca América Latina na minha perna", comenta ela com determinação, uma atitude que parece inata em Anamaria, seu verdadeiro nome.

A revista Rolling Stone a catapultou em 2014 como "a melhor rapper em espanhol por sua dicção precisa e ritmo infalível", e ela foi indicada a vários Grammy Awards e colocou uma canção na trilha sonora na série "Breaking Bad" e em um videogame da FIFA.

Mas desconfia do sucesso.

"É preciso assumir responsabilidades e o anonimato... é muito mais confortável", diz ela.

Sua vida passa por etapas entre o Chile e a França, onde ela nasceu de pais exilados durante a ditadura.

Recentemente, fez as malas de novo e se estabeleceu com o marido e dois filhos em Paris.

À distância, a rapper, contestadora desde o início da carreira, tornou-se uma referência musical da crise social no Chile.

A artista, que afirma criar de uma maneira "bagunçada" e "instável", compôs "Cacerolazo" (panelaço), que, em um fundo de sons metálicos de panelas e colheres, reivindica a renúncia do presidente Sebastián Piñera e justifica a atual revolta no país, desencadeada após o aumento do preço da passagem do metrô.

"Não são 30 pesos, são 30 anos / A constituição e os perdões / Com punho e colher frente ao aparelho / E a todo o Estado, panelaço!", canta a rapper.

"Muitos esperavam isso"

"Muitos esperavam essa união de forças e fúria não ouvida há anos", diz ela.

Mas "Cacerolazo" não pretende ser um hino ou um discuso. "São os jovens que discursam. São eles que acordam um país inteiro e os adultos os acompanham".

Para Tijoux, os estudantes, ponta de lança dessa revolta que eclodiu em 18 de outubro e ainda não se apaziguou, são muito mais politizados.

"Eles não estão contaminados pelo medo com o qual vivemos da ditadura", causada principalmente pela "impunidade", argumenta Tijoux, que vê a mesma resposta à desigualdade espalhada em outros países da América Latina, como Bolívia e Colômbia.

Para a rapper, que sempre ouviu falar que a música deveria ser apenas entretenimento enquanto ela já brandia o microfone como uma arma, esse é um ótimo momento.

"A posição política é a coisa mais bonita que pode acontecer a uma pessoa", enfatiza.

Nova onda de artistas

Tijoux fala pouco de seu trabalho e influência, buscando se fundir em algo maior.

"O 'euísmo' é muito perigoso", afirma.

Questionada sobre o poder do rap em uma revolta popular, ela defende que este "é apenas mais um ramo da árvore da música", que é rebelde por definição.

E a música não é a única tendência artística que desempenha um papel crucial agora no Chile.

"Uma nova onda de novos artistas aparecerá", e está traduzindo essa rebelião popular em "uma beleza que emociona às lágrimas", afirma, citando artistas, fotógrafos, artistas plásticos...

Enquanto isso, em Paris, Tijoux prepara um novo álbum. Ela não tem "ideia" quando será lançado.