Obama inaugura museu de história afro-americana em Washington

Washington, 24 Set 2016 (AFP) - Milhares de pessoas se reuniram em frente ao Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americanas, neste sábado (24), para ouvir o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, o democrata Barack Obama, discursar na inauguração dessa instituição.

Obama cortou a fita e inaugurou esse museu de 37.000 m², revestido em bronze, acompanhado da família de Ruth Odom Bonner, uma idosa de 99 anos, filha de um escravo nascido no Mississippi.

Com a ajuda do filho, do neto, da bisneta, do presidente Obama e da primeira-dama Michelle, dona Ruth fez soar o sino, declarando inaugurado o museu.

"Isso significa muito para mim", disse a jovem Heather Lawson, de 30, sem conseguir conter a emoção.

"Simboliza a escravidão e a servidão que nosso povo teve de sofrer por tantos anos. (...) Era importante estar aqui para me sentir parte da história", acrescentou.

"Temos um longo caminho a percorrer", disse ela à AFP, ao explicar que as tensões raciais pelas quais a sociedade americana atravessa não vão desaparecer da noite para o dia.

"O fato de que, em uma época todos nós estávamos acorrentados, escravizados, éramos vendidos e, agora, estamos aqui, mostra que podemos conseguir isso. Podemos realizar as mudanças que são necessárias", completou.

"Nos livros de História, não se reconhece a nossa contribuição", lamentou a professora Jeanette Providence, de Sacramento, na Califórnia, uma senhora que viajou até Washington para "homenagear nossos ancestrais que tornaram isso possível".

Os mais recentes episódios de violência policial "lembram o período, em que os negros eram linchados", comparou.

'Como na época dos linchamentos'Concebido há um século, o museu é inaugurado em um contexto de forte tensão racial, enquanto cresce a indignação no país diante da morte de negros por policiais. O caso mais recente gerou protestos em Charlotte, na Carolina do Norte (sudeste).

Este é o primeiro museu nacional dedicado a documentar as verdades incômodas, envolvendo a opressão sistemática sofrida pelos negros no país, ao mesmo tempo em que homenageia o papel da cultura afro-americana.

"Além da suntuosidade do edifício, o que torna essa ocasião tão especial é a rica história que ele abriga", disse Obama durante a cerimônia, da qual participaram personalidades como o cantor Stevie Wonder e a apresentadora de TV Oprah Winfrey.

"A História afro-americana não está separada da nossa grande História americana. Não é a parte inferior da História americana. É parte central da História americana", expressou.

"Uma visão clara da História pode nos incomodar (...) mas é, precisamente, partindo desse incômodo que aprendemos e crescemos, e aproveitamos o poder coletivo para tornar essa nação perfeita", insistiu o presidente.

Próximo à Casa Branca, o prédio tem o formato de três pirâmides invertidas e abriga mais de 34 mil objetos. A maioria foi doada.

Deterioração das relações raciaisEleito em meio a uma renovada onda de otimismo, em 2008, Obama prometeu unificação, reiterando que não era presidente dos negros, e sim de todos os americanos.

Mas, quase ao fim de seu segundo mandato, as pesquisas mostram que a ampla maioria dos americanos vê as relações inter-raciais como "em geral, ruins".

Os tiroteios recentes em que negros foram mortos pelas Polícias de Tulsa (Oklahoma, sudoeste) e Charlotte (Carolina do Norte, sudeste) voltaram a expor os problemas raciais do país.

"Esse é o lugar para entender como os protestos e o amor pelo país não apenas coexistem, como se informam mutuamente", afirmou Obama, no discurso inaugural.

"Mesmo diante de dificuldades inimagináveis, os Estados Unidos avançaram. E esse museu contextualiza os debates do nosso tempo", completou.

"Talvez possa ajudar um visitante branco a compreender o sofrimento e a indignação dos manifestantes em lugares como Ferguson e Charlotte", assinalou Obama.

O museu mostra "que este país, nascido da mudança, este país, nascido de uma revolução, este país, nosso, do povo, este país pode ser melhor", frisou o presidente.

"É um monumento, não menos importante do que os outros neste passeio, para o profundo e duradouro amor por este país e os ideais sobre os quais ele foi fundado. Porque nós também somos americanos", acrescentou.

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