"Queria saber as razões pelas quais me escolheram", diz Nobel de Literatura
O romancista francês Patrick Modiano declarou nesta quinta-feira (9) que parecia "um pouco irreal" ter recebido o Nobel de Literatura. Ele disse que gostaria de saber as razões pelas quais recebeu o prêmio e o dedicou ao seu pequeno neto sueco.
"Parece-me um pouco irreal estar diante de gente que admirei", disse Modiano, em referência a outros grandes escritores franceses que já receberam o prêmio, como Albert Camus. "Foi como uma espécie de desdobramento com alguém que tinha o mesmo nome que eu. Tudo isso foi um pouco abstrato", comentou o premiado, falando à imprensa com o estilo hesitante que o caracteriza na expressão oral.
"Vi que estava [na lista de candidatos], mas não esperava", disse. "Gostaria de saber como explicaram essa escolha. Queria saber quais são as razões pelas quais me escolheram", comentou o escritor de 69 anos, autor de mais de 30 romances cheios de mistério e melancolia. "Meu neto é sueco, dedico a ele este prêmio porque é seu país", acrescentou após o anúncio do Nobel em Estocolmo.
Mais cedo, a editora do escritor afirmou que ele havia se declarado muito feliz com a distinção. "Telefonei para Modiano. Eu o parabenizei e ele, com sua habitual modéstia, disse: 'É estranho'. Mas estava muito feliz", contou Antoine Gallimard, presidente da editora Gallimard. "Para nós, é uma profunda surpresa e um dia maravilhoso", acrescentou ela.
O presidente francês François Hollande também felicitou Modiano através do Twitter. "Felicitações a Patrick Modiano. Este prêmio Nobel consagra uma obra que explora as sutilezas da memória e a complexidade da identidade", afirmou o chefe de Estado.
Razões da premiação
Modiano é autor de romances que se concentram em temas como a culpa, a memória e o sofrimento de um país sob a ocupação nazista. O prêmio foi concedido ao autor "pela arte da memória com a qual evocou os destinos humanos mais inatingíveis e revelou o mundo da ocupação" nazista da França (1940-1944), anunciou a Academia Sueca em um comunicado.
Ele situou toda a sua obra na Paris da Segunda Guerra Mundial, descrevendo os acontecimentos daquela época através de personagens comuns. Seu estilo sóbrio e claro fez dele um escritor acessível apreciado pelo grande.
O autor teve alguns de seus livros publicados no Brasil, entre eles "Dora Bruder", "Uma Rua de Roma", "Ronda da Noite", "Vila Triste", "Meninos Valentes", "Filomena Firmeza" e "Do Mais Longe ao Esquecimento".
Modiano francês não figurava nas listas de apostas de críticos para o Prêmio, que até então mantinha o queniano Ngugi wa Thiong'o, o japonês Haruki Murakami e a bielorrussa Svetlana Aleksijevitj entre os favoritos.
Além do título, ele ganha também 8 milhões de coroas suecas (US$ 1,1 milhão). Neste ano, a lista contou com 210 indicados, sendo 36 estreantes.
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