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Morre o espanhol Manuel Pertegaz, mestre da alta-costura

30/08/2014 13h30

MADRI, 30 Ago 2014 (AFP) - Estilista de estrelas como Audrey Hepburn e Ava Gardner, o espanhol Manuel Pertegaz, cujo nome se tornou mundialmente conhecido nos anos 1950, ao ser apontado como sucessor de Christian Dior, morreu neste sábado aos 96 anos.

"Morreu às quatro da manhã", afirmou à AFP Belén Cailá, secretária pessoal do costureiro. Ela informou que Pertegaz estava internado há alguns dias numa clínica de Barcelona para tratar uma pneumonia.

Autor de modelos sofisticados, Pertegaz vestiu atrizes da era de ouro de Hollywood como Audrey Hepburn e Ava Gardner, e celebridades como Jacqueline Kennedy.

Em 2004, desenhou o vestido de noiva usado pela então princesa Letizia em seu casamento com o agora rei Felipe VI da Espanha.

"Ele o desenhou pessoalmente de cabo a rabo, esteve nas provas e presenciou todo o processo de costura", explicou Cailá. A secretária afirmou que após quase 80 anos de carreira, Pertegaz "já havia deixado há algum tempo a atividade profissional".

Em comunicado oficial, os reis da Espanha destacaram o "caráter inovador" e a "excepcional maestria" do estilista. "Pensar em Pertegaz é pensar na elegância. Foi embora um mestre e um pedaço da identidade da alta costura espanhola", afirmou o ministro espanhol da Cultura, José Ignacio Wert.

Nascido em 1918 na cidade de Olba, oeste da Espanha, com apenas dez anos Pertegaz mudou-se com a família para Barcelona, onde bem jovem começou a trabalhar como aprendiz numa alfaiataria.

"Ali ele descobriu que seu interesse, na verdade, era pela moda feminina", explica a biografia publicada em sua página na internet.

No início da década de 1940, em pleno pós-guerra civil na Espanha, abriu seu primeiro ateliê na capital da Catalunha. A loja em Madri veio alguns anos depois.



- Recusou dirigir a Dior -

O reconhecimento internacional chegou quando "com trinta e seis anos, em 1953, faz sua primeira viagem aos Estados Unidos", segundo sua biografia. "Apresenta sua coleção em Nova York, Boston, Atlanta e Filadélfia. Surpreende e recebe pedidos das grandes lojas de luxo", além do prestigioso prêmio de costura concedido pela Universidade de Harvard.

Com a morte do mestre francês Christian Dior, em 1957, o nome de Pertegaz foi apontado para uma possível sucessão - mas o espanhol recusou o convite.

"Durante o período da oferta para a Dior não dormi e relembrei o início da minha carreira...valorizei o que tinha, e disse 'não'", justificou o estilista, que se definiu como um autodidata, em entrevista de 2004 ao jornal El País.

"A verdade é que eu já planejava abrir minha própria loja em Paris. Fizeram umas cinco tentativas, mas eu não quis", explicou.

Pertegaz havia conhecido Dior algum tempo antes na capital francesa: "me recibeu em seu escritório e me perguntou quem eu preferia na moda. Respondi que gostava muito de Balenciaga e, claro, também Dior. Ele, então, retrucou: 'Eu sou Dior como consequência de (Cristóbal) Balenciaga'", contava o costureiro, citado pela Vogue, sobre o outro estilista espanhol que triunfou na alta-costura de Paris na época de Dior e Coco Chanel.

Reconhecido também na América Latina, em 1960 Pertegaz assistiu, como invitado de honra ao lado de Valentino e Pierre Cardin, à primeira Gala da Moda Europeia organizada na capital do México. Entre outras muitas condecorações internacionais, também recebeu em São Paulo o primeiro Prêmio Galena, em 1974.

Com a revolução do prêt-à-porter no final dos anos 1960, o espanhol se adaptou: "Coco Chanel não fez isso por orgulho, assim como Balenciaga. Todos os outros, sim", lembrou Pertegaz em 2004, ano em que foi agraciado com a Agulha de Ouro, mais alta recompensa da moda espanhola.

Em 2009, recebeu o primeiro Prêmio Nacional de Desenho de Moda.