Isabel Allende diz, na Flip, que direita chilena precisa de uma chance
RIO DE JANEIRO, 5 Ago 2010 (AFP) - A escritora chilena Isabel Allende afirmou esta quinta-feira, durante a Feira Literária Internacional de Paraty (cidade histórica situada a cerca de 230 km do Rio de Janeiro), que a direita precisa ter uma chance no Chile depois de duas décadas de predomínio da centro-esquerda no período pós-ditadura Pinochet, mesmo sem esconder a sua supresa com a vitória de Sebastián Piñera nas eleições presidenciais.
"O Chile está em um momento especial. Depois da ditadura, tivemos 20 anos de governo da Concertação (aliança de centro-esquerda). Michelle Bachelet deixou o governo com 86% de aprovação", afirmou Allende, durante encontro com jornalistas.
"Mesmo assim, venceu a oposição, venceu Piñera. É inexplicável que ela (Bachelet) tenha tido uma aprovação muito boa e que a oposição tenha vencido", acrescentou, em alusão à eleição do candidato da direita, em janeiro deste ano.
"Creio que Piñera seja um homem de boa intenção. É um homem riquíssimo, multimilionário, que chega ao governo com uma equipe de pessoas muito jovens, muitas delas educadas nos Estados Unidos, que pertencem a uma classe social que não está em contato com o povo e com a pobreza", declarou.
"Eu não sei que tipo de governo vai fazer, mas precisamos dar a ele, pelo menos, o benefício da dúvida. Vamos ver o que fazem, acabam de começar", emendou. Piñera foi empossado em março passado.
Allende, de 68 anos, considerou que o maior desafio do presidente Juan Sebastián Piñera é recuperar o sul do país, devastado pelo terremoto de fevereiro de 2010 e que, junto com uma tsunami, deixou mais de 500 mortos e quase US$ 30 bilhões em perdas, o equivalente a 12% do PIB.
Ela afirmou que a tarefa do atual mandatário foi dificultada ainda mais pela falta de ajuda internacional, que faz com que o país tenha que se reconstruir praticamente sozinho.
"O Chile foi muito afetado pelo terremoto. Ninguém sabe realmente o quão mal ficamos porque o nosso terremoto aconteceu depois do terremoto do Haiti, e o terremoto do Haiti foi tão espetacular, com tantos mortos, que ninguém pensou muito no do Chile", lamentou.
"Mas o sul do Chile está destruído, há um milhão de pessoas sem casa em um inverno duríssimo. As pessoas ainda estão vivendo precariamente", alertou.
Isabel Allende é um dos principais nomes da Flip, realizada de 4 a 8 de agosto em Paraty, cidade histórica do sul do Rio de Janeiro.
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