Você não precisa saber o nome completo de Pablo Picasso (que, a propósito, é Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso) para impressionar os amigos durante a megaexposição "Picasso e a Modernidade Espanhola", em cartaz no Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, até o dia 7 de setembro.

As obras que estão à mostra no Brasil revelam um pouco da relação do pintor com suas várias mulheres e também suas inclinações políticas, resultado de sua infância difícil e influência de Dora Maar, uma das mais importantes companheiras de sua vida.

O UOL selecionou informações que ajudarão os visitantes a entender a obra do pintor e bancar o entendido mesmo sem saber direito onde fica Guernica.

Cubismo e colagem

Ao lado do pintor e escultor francês Georges Braques, Picasso fundou o cubismo, um estilo de pintura caracterizado pela simultaneidade: onde uma mesma imagem pode ser desenhada dando a impressão de estar sendo vista por diferentes pontos de vista, explicando de uma forma grosseira. Ele ficou conhecido por introduzir o uso da técnica de colagem nas artes plásticas e também escreveu poesias.

Recordista

Nenhum pintor trabalhou mais que Pablo Picasso. Quando ele fez este quadro, "O Pintor e A Modelo" (1963), já tinha 81 anos, mas ele continuou pintando até seu último ano de vida, em 8 de abril de 1973. Em toda sua carreira, que durou mais de 80 anos, produziu mais de cem mil gravuras, 34 mil ilustrações, 13.500 telas e 300 esculturas.

"Cabeça de Mulher (Fernande)"

A mulher cuja cabeça está pintada no quadro é Fernande Olivier, jovem modelo que serviu de inspiração para Picasso em seu início de carreira. Um de seus quadros mais importantes, "Les Demoiselles d'Avignon", que praticamente inaugurou o cubismo, foi inspirado nela. Nos sete anos em que ficaram juntos, de 1904 a 1911, brigaram muito, violentamente, na maioria das vezes por causa de ciúmes exagerados. Quando Olivier adotou uma menina de 13 anos, Raymonde, pouco tempo depois ela descobriu ilustrações nuas da adolescente feitas por Picasso. Ela foi enviada novamente para o orfanato.

"Mulher Sentada Apoiada sobre os Cotovelos" (1939)

A obra mostra mais uma das mulheres de Picasso: Marie-Thérèse Walter. A jovem de 18 anos conheceu o pintor quando ele já estava à beira dos 50, em 1927, e se tornou uma espécie de amante oficial. Marie tinha liberdade para aparecer toda semana e dormir com o artista, mesmo se ele estivesse em outro relacionamento. Foi essencial na parte erótica da obra de Picasso (ela experimentou sadismo, masoquismo e outras fantasias sexuais ao lado do pintor). Seguiram assim até 1943, sendo que em 1935 tiveram uma filha, Maya, que não foi reconhecida por Picasso.

"Cabeça de Cavalo. Esboço para 'Guernica'" (1937)

A cidade basca de Guernica, na Espanha, foi a primeira vítima do bombardeio indiscriminado dos nazistas na história. Os moradores, que nunca tinham ouvido nada parecido, saíram de casa para saber o que estava acontecendo e acabaram se tornando vítimas. O painel de Picasso, do qual o esboço "Cabeça de Cavalo" faz parte, deu uma dimensão do sofrimento enfrentado pela população inocente. No painel completo, o cavalo se retorce em agonia ao ser atingido por uma lança, enquanto embaixo dele está um soldado desmembrado. Um dos retratos mais poderosos de todos os tempos sobre a tragédia da guerra. Tão forte que uma cópia exposta nas Nações Unidas foi coberta quando o general Colin Powell foi defender no plenário a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, em 2003.

"Retrato de Dora Maar" (1939)

A fotógrafa Dora Maar foi a quarta das sete mulheres de Picasso, e estabeleceu com ele um dos relacionamentos mais duradouros: nove anos. Vivida por Julianne Moore no filme "Amores de Picasso", ela formou com o pintor espanhol uma espécie de Yoko e Lennon de seu tempo, um casal criativo e prolífico e suas respectivas áreas. Ela foi a única fotógrafa autorizada a registrar o processo de criação de Guernica e chegou a dar pitacos na obra. Depressiva, porém, Dora sofria com o temperamento de Picasso e quase enlouqueceu quando foi trocada por Françoise Gilot. O quadro "Dora Maar com Gato", que não está na exposição, bateu um recorde de preço ao ser leiloado por US$ 95 milhões em 2006.

Comunista

Não contem ao Reinaldo Azevedo, mas Picasso foi comunista a sua vida toda. "Quando eu era um garoto na Espanha, eu era muito pobre e aprendi que os comunistas eram a favor dos pobres. Isso pra mim foi o suficiente. Então passei a ser comunista", disse a um jornalista em 1947. Mesmo assim, isso não impediu que ele muitas vezes criasse problemas para a União Soviética, como quando ele fez um retrato de Stalin, por ocasião de sua morte, em 1953, o que causou embaraço no comando do partido. Formalmente, no entanto, ele só entrou para o Partido Comunista Francês em 1944.

Brasil

O país está na rota do pintor, apesar de ele nunca ter pisado por aqui. Guernica, uma das mais importantes obras do espanhol, hoje em Madri, já passou por São Paulo em 1953. E o óleo sobre tela "Retrato de Suzanne Bloch", pertencente ao Masp, foi levado do museu sem nenhuma dificuldade por ladrões em dezembro de 2007, sendo recuperado logo depois, em janeiro de 2008, intacto.

Roubo

O Brasil está longe de ser o único país que teve uma obra de Picasso roubada. Segundo o Art Loss Register, um banco de dados internacional de obras de arte roubadas, 1.147 obras do pintor espanhol são dadas como roubadas, perdidas ou em disputa, mais que o dobro de qualquer outro artista.

Mascote

Picasso teve inúmeras mulheres como musas, mas guardou espaço em seu coração para Lump, um pequeno cachorro da raça dachshund que apareceu em nada menos que 15 quadros do artista. Lump morreu uma semana antes que Picasso.