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04/08/2010 - 21h50

Na abertura da Flip, FHC faz o elogio das contradições de Gilberto Freyre

MAURICIO STYCER
Crítico do UOL
Em Paraty (RJ)

Leandro Moraes / UOL

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso faz conferência de abertura da Flip (04/08/2010)

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso faz conferência de abertura da Flip (04/08/2010)

Diante de um auditório lotado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso abriu a oitava edição da Festa Literária de Paraty, na noite de quarta-feira, com uma conferência sobre “Casa-Grande & Senzala”, a obra principal de Gilberto Freyre (1900-1987), o homenageado deste ano no evento.

FHC justificou as dificuldades que a sua geração teve para compreender a obra de Freyre na década de 50, enalteceu as qualidades que hoje enxerga no trabalho do sociólogo pernambucano e, sobretudo, procurou ser compreensivo com as contradições do autor. “As pessoas são contraditórias”, disse.

“É fácil pegar e estraçalhar”, observou FHC. “Ele tem afirmações inaceitáveis sobre os judeus, mas ele tem afirmações inaceitáveis sobre todo mundo. Não estou perdoando ele, mas será forçar a mão chamá-lo de anti-semita. Então ele seria também antinegro, antiamericano. Ele é muito contraditório.”

FHC afirmou que a tão criticada ideia de que o Brasil é uma “democracia racial” não está presente em “Casa-Grande & Senzala”, de 1933, mas em obras posteriores de Freyre, como “Sobrados e Mucambos”, de 1936, e “Ordem e Progresso”, de 1957.

Na obra principal, segundo FHC, Freyre defendeu a ideia de que a formação brasileira representa “um equilíbrio entre os contrários”, e faz uma valorização da mestiçagem entre portugueses, índios e negros. “É uma ideia que perpassa a obra, mas ele não a fundamenta. É fácil criticar Gilberto Freyre, mas não é justo.”

“No conjunto ele está dizendo que somos produtos de misturas. Não é uma mensagem racista nem de autoritarismo, mas é uma mensagem patriarcalista”, disse FHC. “Não se pode atribuir a ele inteiramente a idéia de democracia racial. Não se pode dizer que ele tenha escondido a crueldade da escravidão”.

Apresentado pelo historiador Luiz Felipe de Alencastro, FHC elogiou “a contemporaneidade da obra de Gilberto Freyre” e procurou justificar as razões que levaram os sociólogos da USP a rejeitá-lo. “Os livros dele têm um interesse quase de romance. Mas a obra acadêmica tem cânones, regras”.

Fazendo ironias, como de hábito, FHC observou: “Tem todo um traje na linguagem acadêmica que é muito formal. Usa-se palavras que é para o outros não entenderem. Fui formado nesta escola. Tem que ter rigor. Mas Gilberto Freyre não escreve desta maneira. O estilo dele vai em espiral. Ele se perde um pouco, mas você continua a ler com agrado. Em geral ele nem conclui os livros.”

  • Leandro Moraes / UOL

    O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fala sobre obra de Gilberto Freyre na Flip (04/08/2010)

“Eu dava aula de bata branca”, lembrou, rindo. “Era como um cientista social devia ser”. Freyre, lembrou, não tinha o formalismo acadêmico que os sociólogos paulistas, alunos de Florestan Fernandes, como FHC, admiravam. “E é isso que lhe deu perenidade. Ele transmite o que ele quer. Tem a capacidade de arrazoar de forma convincente, simpática”, disse. “Para nós parecia um ensaísta. Mas ele era muito mais que isso.”

Sempre misturando farpas com elogios, FHC disse: “Era uma pessoa muito autoreferida. Achava que tinha inventado um método. Ele achava que era possível usar a intuição como uma forma de captação da realidade”.

Na visão de FHC, Freyre permanece atual porque foi capaz de criar um mito, escrevia bem e rompeu com a tradição da época. “Mas o mito é sempre binário. Tem o bom e o mau. O importante do mito é entendê-lo em seu contexto. Freyre pega a ideia da igualdade dos contrários e vê isso no concreto, reconstrói o concreto. Você aprende com ele muita coisa sobre como era a vida no Brasil.“

O ex-presidente encerrou sua conferência falando mais uma vez das contradições e ambiguidades do sociólogo pernambucano. “Esta ambigüidade que está em Gilberto Freyre talvez esteja em todos nós.”. Muito aplaudido, levantou-se para agradecer e fez piada: “Tomem cuidado que eu dou bis e repito”.

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