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04/07/2008 - 17h07

A (des)conversa de João Gilberto Noll e Lucrecia Martel em Paraty

ALESSANDRO GIANNINI
Editor de UOL Cinema, em Paraty
Rogerio Cassimiro/Folha Imagem
A cineasta argentina Lucrecia Martel durante mesa que participou ao lado do escritor brasileiro João Gilberto Noll
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No terceiro dia da Feira Literária de Paraty, uma das atrações mais concorridas foi o encontro entre o romancista brasileiro João Gilberto Noll e a cineasta argentina Lucrecia Martel. Sob o título generalista "Ficções" e a mediação do professor Samuel Titan, o autor de "Acenos e Afagos", recém-lançado pela editora Record, e a diretora de "La Mujer Sin Cabeza", exibido no Festival de Cannes em maio (e que será exibido sábado, às 23h, na Casa de Cultura de Paraty), discorreram sobre o modo como desenvolvem seus trabalhos, respectivamente, na literatura e no cinema. Antes de falarem, Noll leu trechos dos romances "Lorde" (2005) e "Acenos e Afagos", enquanto Lucrecia apresentou um trailer do seu filme mais recente.

Apesar do bom humor e da boa vontade de Titan em criar um ponto de intersecção entre os dois autores, ficou difícil encontrar no discurso de ambos algo que se assemelhasse vagamente, tanto na forma quanto sob o ponto de vista estético. Antes da leitura dos trechos, Noll falou da função dramática da libido em suas histórias, de como seus personagens "preenchem o vazio existencial com o prazer carnal". Depois de lê-los com impostação interpretativa, foi a vez de a cineasta se apresentar e falar um pouco do filme mais recente.

Segundo Lucrecia, a criação de "La Mujer Sin Cabeza" não forma uma trilogia com "O Pântano" (2001) e "La Niña Santa" (2004), já que o roteiro foi iniciado logo após o primeiro longa dela e sua produção começou depois do segundo. Apesar disso, ela apontou elementos estéticos que os aproximam e evidenciam o seu parentesco, como por exemplo a ambigüidade temporal e geográfica. "Todos eles foram filmados em Salta, no norte da Argentina, onde eu nasci", disse ela. "É um lugar incomum, pouco característico,e isso me dá liberdade para inventar ali a minha ficção", contou.

Provocados pelo mediador a falar sobre a recusa em se renderem à narrativa linear, os dois convidados da Flip novamente seguiram seus próprios caminhos, sem se cruzar no debate, fosse para discordar ou concordar. Noll falou de como se deixa levar na criação para um lugar em que presente e passado caminham juntos. "A vida, no fim das contas, é um festival de acasos." E completou o discurso dizendo que o objetivo da literatura é "mostrar o que está arredio, evidenciar o que está fora do nosso convívio social, aquilo que não se pode dizer sob pena de ser internado em um hospício".

Lucrecia falou sobre o seu processo de criação de roteiro, lembrando que a dinâmica da conversa entre duas pessoas, incluindo aí o discurso e o gesto, são sempre referências fundamentais para ela. E lembrou de como as conversas que escutava quando acompanhava a avó em visitas a parentes e amigos doentes a influenciaram nesse sentido. Assim como as conversas que tinha com a mãe, pelo telefone, assim que foi morar em Buenos Aires, em 1986, para fazer um curso de desenho animado. "Minha mãe sempre começava a conversa dizendo que só havia ligado para dizer um oi", contou. "Mas antes de desligar falava que tinha tido um sonho e ficava mais 40 minutos falando."

Essa rica "conversa de surdos" que se alternava entre os discursos isolados de Noll e Lucrecia terminou com apenas uma pergunta do público, que foi direcionada à cineasta argentina. O espectador questionou a diretora sobre suas influências cinematográficas estrangeiras e brasileiras. Para surpresa de uma boa parte do público, ela respondeu que essa pergunta sempre a deixava constrangida, pois sua formação não era de uma cinéfila contumaz. "Na minha cidade, que era muito pequena, não havia cineclube, então não criei esse espírito", explicou. "Entre os filmes de que mais gosto estão 'Naked Lunch' ("Mistérios e Paixões), de [David] Cronenberg, e os de John Woo. Minha formação audiovisual se resume a um curso de desenho animado em Buenos Aires. Gosto de ser júri de festivais de cinema porque me obrigo a ver filmes. Na verdade, não me sinto muito parte dessa comunidade", explicou.
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