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Roberto Sadovski

Quer ver mais tigres? Descubra onde achar feras (digitais) na cultura pop

Joe Exotic em "A Máfia dos Tigres" - Netflix
Joe Exotic em 'A Máfia dos Tigres' Imagem: Netflix

Colunista do UOL

14/04/2020 06h58

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Eu fiquei absolutamente furioso depois de assistir a minissérie "A Máfia dos Tigres". Não pelo assunto, que é fascinante. Os diretores Eric Goode e Rebecca Chaiklin acompanharam a rotina de donos de zoológicos privados nos EUA, só para desvendar uma história de assassinato, drogas, celebridade, ódio, política, sexo e total descaso com a natureza.

E foi aí que o sangue ferveu. A série acompanha pessoas totalmente deploráveis, em guerra de egos declarada pela liderança da exploração de tigres na América, onde existem mais animais em coleções e "santuários" privados do que em liberdade no resto do mundo.

A primeira é Carole Baskin, auto-declarada ativista pelos diretos dos animais, dona de um santuário privado na Flórida e milionária após o desaparecimento, em circunstâncias não explicadas por anos, de seu primeiro marido. O segundo é Joe Exotic, dono de um imenso zoológico particular (e de personalidade excêntrica), que termina acusado de tramar o assassinato de sua maior rival, Carole.

carole baskin máfia tigres - Netflix - Netflix
Carole Baskins em 'A Máfia dos Tigres'
Imagem: Netflix

"A Máfia dos Tigres" é hipnotizante com sua trama de personagens tão absurdos e reviravoltas tão surreais. Se fosse um filme, certamente o roteirista seria acusado de jogar o realismo pela janela. É também o retrato da mistura de capitalismo selvagem desenfreado e culto à personalidade ao extremo que só poderia existir na "terra das oportunidades".

Claro que, depois de oito episódios que vão do documentário sobre crime verdadeiro ao total espetáculo mondo cane, é difícil torcer tanto para Joe quanto para Carole. Com todo seu discurso conservacionista, em que ambos os lados garantem fazer o que fazem por amor aos animais, nem por um segundo seu esforço caminha em direção ao óbvio: devolver os tigres a seu habitat natural.

Para limpar o palato, tratei de lavar as retinas com uma dose de CGI, única forma decente de combinar animais e entretenimento. Há pelo menos duas décadas, tigres (e outros bichos) reais tem sido substituídos, no cinema e na TV, por criações digitais, com a conscientização que lugar de animal selvagem é no meio do mato. Só deixei "O Rei Leão" de lado porque a) não tem tigres e b) apesar do apuro técnico absurdo, é bem chatinho.

GLADIADOR
(Gladiator, Ridley Scott, 2000)

russell crowe gladiador - Universal - Universal
'Gladiador'
Imagem: Universal

Lá se vão quase duas décadas desde que Russell Crowe, absolutamente possesso, grita para a plateia em uma arena da morte um "Vocês estão entretidos?". Sim, estávamos, principalmente quando ele enfrenta um tigre furioso em pleno coliseu em Roma.

Claro que Crowe não encarou nenhum tigre. Os animais foram filmados em um estúdio com o fundo azul e combinados ao resto das imagens, com efeitos digitais (e até um modelo de pelúcia realista) preenchendo as lacunas do combate felino.

SE BEBER, NÃO CASE
(The Hangover, Todd Phillips, 2009)

se beber não case - Warner - Warner
'Se Beber, Não Case'
Imagem: Warner

Bradley Cooper, Ed Helms e Zack Galifianakis acordam de uma noite de bebedeira com um convidado inusitado em sua espaçosa suíte num hotel em Las Vegas: um tigre. E não qualquer tigre, mas o animal de estimação do ex-pugilista Mike Tyson.

Embora a produção tivesse um animal real no set, a maior arte das sequências foi realizada com um tigre feito em computador. Ninguém quer, afinal, que o elenco volte para casa com dedos a menos por conta de um bicho faminto.

AS AVENTURAS DE PI
(Life of Pi, Ang Lee, 2012)

aventuras de pi - Fox - Fox
'As Aventuras de Pi'
Imagem: Fox

Para este filme poético e delicado de Ang Lee, a equipe de efeitos especiais decidiu abolir por completo a presença de um animal vivo no set. Embora tigres reais tenham sido filmados como referência, nosso protagonista aqui existe somente em algum HD poderoso.

Mas ele tem nome e sobrenome: Richard Parker, que termina à deriva em um bote com o jovem Pi Patel (Suraj Sharma), em uma história tão real que pode ter acontecido inteiramente em sua imaginação.

THE WALKING DEAD
(Sétima Temporada, 2016)

walking dead - AMC - AMC
'The Walking Dead'
Imagem: AMC

Há uma década o mundo foi acometido por uma praga indeterminada que impede que os mortos permaneçam mortos. Seguindo de perto a HQ de Robert Kirkman, "The Walking Dead" trouxe em sua sétima temporada o auto intitulado Rei Ezekiel (Khary Payton), que tem como companheiro um tigre, Shiva.

Absurdamente realista, o animal foi construído com uma mistura de tecnologia digital com animatrônicos, dando aos atores um tigre que poderia ser tocado no set. Greg Nicotero, que dirigiu o episódio com Shiva, explicou que, enquanto seu corpo era robótico, operado por técnicos em cena, os closes em seu rosto feroz foram criados em CGI. Depois de anos animando cadáveres, foi uma mudança bem-vinda.

MOGLI, O MENINO LOBO
(The Jungle Book, Jon Favreau, 2016)

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'Mogli, o Menino Lobo'
Imagem: Disney

A versão live action da animação Disney não precisou ir à selva para as filmagens. O diretor Jon Favreau construiu um mundo inteiro em estúdios em Los Angeles, aprimorando a tecnologia desenvolvida por James Cameron em "Avatar". Como resultado, tudo em cena - céu, selva, fauna - foi criado em computador. Exceto, claro, pelo próprio Mogli, o ator Neel Sethi.

Entre todos os animais digitais criados de forma brilhante, nenhum se destaca mais que o vilão, o majestoso tigre Shere Khan. Com voz poderosa de Idris Elba, a fera torna-se verdadeiramente perigosa, estraçalhando a harmonia entre os animais e surgindo como ameaça palpável. E tudo bem que os bichos aqui falam: ao contrário de "O Rei Leão" (meh...), o que não falta em "Mogli" é personalidade.

TITÃS
(Titans, 2018)

titãs - DC Universe/Netflix - DC Universe/Netflix
'Titãs'
Imagem: DC Universe/Netflix

A série que levou os jovens heróis da DC para a tela pequena adotou um tom mais sombrio, evidenciado pelo tratamento violento dispensado por Robin (Brenton Thwaits) à bandidagem. Mas quem abraça de fato seu lado animal é Mutano (Ryan Potter).

Se nos quadrinhos o personagem pode se tornar qualquer bicho, na série sua mutação o transforma em um imenso tigre verde, criado de ponta a ponta em computador. Como sabemos disso? Digamos que não é o animal digital mais convincente na praça. Mas, olha só, pelo menos Joe Exotic não pode sequestrá-lo para vender seus filhotes. Assim, todos ganham!