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"É reprovável", diz Doutor Segurança sobre "Que Tiro Foi Esse?"

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Imagem: Divulgação

18/01/2018 04h00

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Como acontece em quase todas as estações, o funk está no centro dos debates neste verão. A canção "Que Tirou Foi Esse?", da cantora Jojo Todynho, virou hit nacional e também meme, graças aos divertidos vídeos da galera fingindo que foi alvejada por uma bala perdida durante o refrão.

Resolvi conversar com um especialista sobre segurança pública e privada a respeito desse e outros fenômenos musicais de 2018. Estou falando de Jorge Lordello, apresentador do programa "Operação de Risco" na RedeTV! e autor de diversos livros publicados no Brasil e no exterior.

Coluna Chico Barney - O grande hit do verão é "Que Tiro Foi Esse?", cuja coreografia remete ao ato de ser alvejado por uma bala perdida. Há quem diga que trata-se de uma apologia ao crime. Também existe a interpretação de que é um jeito bem-humorado de tirar o peso do cotidiano violento do brasileiro. Qual a sua opinião a respeito?

Jorge Lordello - Aprendi com meus pais e com minha formação em direito que "com coisa séria não se brinca e nem se faz chacota". Refiro-me, particularmente, ao fenômeno da banalização da violência no Brasil nos últimos anos. Banalizar é tratar assunto sério, que neste caso específico afeta a vida das pessoas e a ordem social como algo de menos importância. Sou absolutamente contra a censura cultural, mas temos que avaliar todos os aspectos envolvidos nessa questão, inclusive se a letra, de alguma forma, invade a legislação penal.

Quando uma música é por demais repetida nos meios de comunicação, e música é uma mensagem para a grande massa populacional, tanto que toda nação tem um hino, é bem provável que seu refrão seja repetido e, por vezes e por determinadas e mal formadas pessoas, pode ser estímulo a algo bom ou ruim, dependendo do contexto e do conteúdo. No meu entender, no mínimo, essa música é reprovável porque aceita como normal a violência que existe e prospera em nosso país.

O senhor tem algum alerta aos jovens que estão fazendo vídeos brincando com a música?

Repito que sou contra a censura prévia sob qualquer aspecto. Os jovens têm que obter dos pais e do Estado formação que lhes permita fazer boas escolhas para se tornarem boas pessoas para si próprios e para a sociedade.

Sou favorável a letras de músicas que contestem o que estiver errado; é uma linguagem, uma forma de comunicação, para isso geramos consciência política, principalmente para nossos jovens. No entanto, a lei deve ser aplicada sempre que for transgredida, sem disciplina não se faz uma nação forte e em paz.

Outra música vem causando polêmica: "Surubinha de Leve" traz referências explícitas ao estupro e outras agressões sexuais..

Sou especialista em segurança e não em música, mas tenho a impressão de que o funk original foi desvirtuado para letras cada vez mais apelativas e empobrecidas. A música "Surubinha de Leve", que tive o desprazer de ouvir, é mais um exemplo latente de banalização do sexo em nosso país. A conclusão é que temas importantes, que deveriam ser discutidos exaustivamente de forma responsável, estão sendo colocados todos no mesmo panelaço, o da banalização.

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Existe alguma música segura para os jovens ouvirem neste verão?

A diversidade cultural é importante, faz parte da formação. Quando bem formada, a pessoa adquire senso crítico para discernir o certo do errado. Não cabe determinar o que alguém deve ouvir, somente podemos orientar e aconselhar.

Com tantos perigos rondando a juventude nesta temporada, quais atitudes o senhor recomendaria para quem tem filhos?

O problema é complexo e tem a ver com os novos modelos de educação, que ainda não estão totalmente consolidados. Infelizmente, estamos vivenciando também a banalização da educação familiar, onde filhos, muitas vezes, mandam e pais obedecem.

Faz tempo que não ouço algum jovem dizendo que tem horário para voltar para casa ou que está proibido de ir em tal festa pois o ambiente não é conveniente. Crianças e adolescentes estão fazendo uso de cigarro, bebida alcoólica e drogas e muitas famílias aceitam ou fingem que não estão vendo, pois perderam grande parte da autoridade sobre os filhos.

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Para outras dicas de segurança, acompanhe Jorge Lordello nas redes sociais.

Twitter: @jorgelordello
Instagram: @jorgelordellooficial
FB: Doutor Seguranca

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