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'Mundo Mistério': Felipe Castanhari cumpre papel de instigar o conhecimento

"Mundo Mistério" tem Felipe Castanhari na Netflix - divulgação netflix
'Mundo Mistério' tem Felipe Castanhari na Netflix Imagem: divulgação netflix

Colunista do UOL

07/08/2020 13h09

Maratonei "Mundo Mistério" e tenho algumas coisas para contar. A série assinada pelo youtuber Felipe Castanhari chegou à Netflix na última terça-feira. De tanto aparecer na minha timeline, eu decidi assistir aos episódios com duas amigas (remotamente, que fique claro), enquanto a gente comentava pelo WhatsApp e pausava a série repetidas vezes para dizer "não acredito, dá um Google aí!".

Confesso que não acompanho Castanhari no seu canal no YouTube sobre ciência, não sou uma das suas 13 milhões de assinantes. Quando decidi dar o play em "Mundo Mistério", mal sabia do que se tratava a série, apenas que falava sobre alguns assuntos legais como zumbis, viagem no tempo, e que o youtuber tinha acompanhado passo a passo a produção.

Em formatos de até 30 minutos, cada episódio se dedica a documentar e narrar fatos científicos e históricos sobre grandes questionamentos da sociedade como o "sumiço de embarcações no Triângulo das Bermudas", ou coisas mais debatidas na atualidade como "aquecimento global".

Inclusive, comecei assistindo sem uma ordem. Iniciei justamente pelo episódio que falava sobre a peste bubônica. Ri bastante, mas depois chorei com a frase:

Será que uma epidemia mudaria o mundo hoje?

Este é um dos tipos de questões abordadas em "Mundo Mistério". Quando eu digo que a série cumpre o seu papel de instigar conhecimento, eu realmente acredito nisso, e boto fé. Ela não se propõe em nenhum momento a ser algo sério do tipo uma narrativa documental sobre mitos, etcs, dessas que os canais Discovery da vida têm aos montes.

A proposta é instigar, debater assuntos científicos, e, inclusive, usar linguagens da cultura pop e estética 100% voltada para o público jovem. Apesar deste público ser o alvo, eu super indicaria para minha mãe sem problema algum, ainda mais que, curiosa que sou, vi todas as cenas de créditos e o nome de todos os especialistas de médicos, cientistas, historiadores que acompanharam a roteirização dos episódios.

Ao fugir da formalidade e propor alternativas para ensinar, "Mundo Mistério" se soma à propagação de conhecimento de forma responsável. Uma ótima maneira de combater o negacionismo e revisionismo histórico dos tempos em que vivemos.

A série brinca com ela mesmo dizendo que é um Telecurso 2000, e isso é bom. Não é para gente dizer que ela é substituta do aprendizado dos professores, da academia e etc. Muito pelo contrário, ela é um elemento a mais, que deixa a gente querendo saber mais sobre os assuntos abordados. E isso é muito bacana.

Vamos falar do núcleo dos personagens

Castanhari é acompanhado pela "inteligência artificial" B.R.I.G.G.S. O personagem é vivido pelo dublador Guilherme Briggs, conhecido por fazer a dublagem de Buzz Lightyear, Samurai Jack e Optimus Prime.

Briggs claramente rouba a cena pelo carisma, além da sacada de ter sido apresentado como B.R.I.G.G.S. e suas piadas durante vários diálogos.

Outro destaque é a doutora Thay (Lilian Regina), que traz um tom bastante professoral para série, com explicações que fazem um contraponto à presença de Briggs e dão equilíbrio para os episódios, deixando-a, digamos assim, mais séria.

Já Betinho (Bruno Miranda), que interpreta o zelador, tem o papel de trazer o alívio cômico. Isso às vezes dá certo, às vezes não, mas claramente precisa existir.

Mundo Mistério - divulgação netflix - divulgação netflix
Castanhari, Dr. Thay (Lilian Regina) e Betinho (Bruno Miranda) em cena de "Mundo Mistério"
Imagem: divulgação netflix

mundo mistério 2 - divulgação netflix - divulgação netflix
Imagem: divulgação netflix

Porém, nem tudo é perfeito. Algumas explicações funcionam, outras não. Algumas coisas poderiam ter sido aprofundadas, ou até mesmo cortadas do roteiro. Como o trecho hiper confuso sobre a substância usada no Haiti para "zumbificar" pessoas, seguida de uma explicação bastante solta de que "o governo do Haiti proibiu" tal substância.

Em tempos de negação do aquecimento global, antivacinas, fãs de charlatões e aproveitadores, e uma tomada gigantesca de discurso anticiência, ver produções brasileiras exaltando a importância da mesma, com as universidades públicas do Brasil aparecendo como cenário, é empolgante demais.

E, para não esquecer, adorei muito a homenagem à cientista e física Marie Currie que carrega o sobrenome no laboratório onde se passa a série. A ciência também é um lugar muito importante para a disputa da memória.