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André Barcinski

Uma seleção de craques do cinema italiano (e 10 filmes para ver no Youtube)

A atriz italiana Sophia Loren - Mondadori Portfolio/Mondadori via Getty Images
A atriz italiana Sophia Loren Imagem: Mondadori Portfolio/Mondadori via Getty Images

Colunista do UOL

30/06/2020 06h00

Resumo da notícia

  • Uma seleção dos maiores diretores do cinema italiano - do goleiro ao ponta-esquerda - e dez filmes clássicos disponíveis no Youtube

O cinema italiano é um dos melhores e mais ecléticos do mundo. De dramas realistas a filmes de terror, de faroestes a comédias, de "thrillers" policiais a sátiras políticas, os cineastas da Bota fizeram de tudo.

Há alguns dias, o leitor Lucas Mesquita me escreveu no Twitter perguntando por um texto antigo em que escalei uma "seleção" de cineastas italianos. Não achei o texto, mas resolvi fazer uma nova versão dele, acrescida de uma coletânea com dez excelentes filmes italianos que podem ser encontrados de graça no Youtube.

Priorizei filmes menos conhecidos, já que os famosos, como "A Doce Vida" (Fellini) e "A Aventura" (Antonioni), são mais fáceis de achar.

Aqui vai minha seleção italiana de todos os tempos (escalei o time num 4-3-3 "old school"):

Goleiro - Roberto Rosselini: goleiro bom não tem que enfeitar, mas fazer tudo da forma mais simples e eficiente. E o craque Robertinho, desde os tempos do neorrealismo dos anos 40, conta histórias minimalistas e comoventes como "Roma, Cidade Aberta" (1945) e "Stromboli" (1950).

Lateral-direito - Mario Monicelli: aqui o time precisa de um jogador de fôlego, capaz de correr o campo todo e abarcar vários gêneros. E Marinho fez isso: viveu 95 anos, dirigiu filmes em oito décadas diferentes e fez uns 70 longas, de comédias clássicas como "Os Eternos Desconhecidos" (1958) e "O Incrível Exército de Brancaleone" (1966) a dramas como "As Duas Vidas de Mattia Pascal" (1985).

Zaga - Na defesa, vamos de dois botinudos que não têm vergonha de mandar a bola pro mato se o jogo é de campeonato: Elio Petri e Sergio Leone. Os dois têm estilo direto e sem frescura, com filmes porretas como "A Classe Operária Vai ao Paraíso" (1971) e "Era Uma Vez no Oeste" (1968).

Lateral-esquerda - Francesco Rosi: aqui contamos com um craque mais conservador, que não gosta de ficar se exibindo muito no ataque, não inventa frufru e dirige pedradas como "Mãos Sobre a Cidade" (1963) e "O Caso Mattei" (1972).

Volante - Dino Risi: à frente da zaga precisamos de um craque polivalente, que saiba dar uns bicos e simplificar de vez em quando ("Perfume de Mulher", 1974), mas que também é capaz de realizar jogadas mais elegantes e sofisticadas ("Aquele Que Sabe Viver", 1962).

Meia-direita: Vittorio De Sica: um craque para dar um toque de classe ao meio de campo, como fez em "Ladrões de Bicicletas" (1948) e "Umberto D" (1952).

Meia-esquerda: Michelangelo Antonioni: ele joga sempre isolado, incomunicável, e muitas vezes põe o torcedor pra dormir. Mas quando acerta a mão, como em "A Aventura" (1960), é capaz de jogadas geniais.

Nas pontas, dois malucos para infernizar a defesa adversária: na direita, Pier Paolo Pasolini, de estilo ora agressivo ("Accatone", 1961), ora sonhador ("Gaviões e Passarinhos", 1966). Na esquerda, a anarquista Lina Wertmüller, imprevisível e divertida como "Mimi, o Metalúrgico" (1972) e "Pasqualino Sete Belezas" (1975).

Centroavante - Luchino Visconti: embora lento e pesadão, bem ao estilo "Rocco e Seus Irmãos" (1960) e "Morte em Veneza" (1971), o velho Luc ainda é mortal dentro da área. Bobeou, ele põe pra dentro com vontade.

Técnico - Dino De Laurentiis: linha-dura, o chefão produziu 500 filmes e é o único capaz de segurar as brigas no vestiário.

Banco:

Mario Bava: gosta de tocar o terror na defesa adversária.

Bernardo Bertolucci: estiloso, foi jogar na liga americana e se deu bem.

Dario Argento: misterioso e insinuante, joga muito isolado na ponta.

Ettore Scola: faz o estilo craque romântico e saudosista, quase um Paulo Henrique Ganso da sétima arte.

Gandula - Federico Fellini: supervalorizado, perdeu a vaga no time depois de matar os torcedores de diabetes com "Amarcord" (1973), versão hypada da novela "Saramandaia", e "La Strada" (1954), em que Giulieta Masina imitava o palhaço Carequinha.

DEZ FILMAÇOS ITALIANOS DISPONÍVEIS NO YOUTUBE:

Aquele que Sabe Viver (Dino Risi, 1962)

Comédia antológica sobre um coroa playboy (Vittorio Gassman) que leva um tímido estudante (Jean-Louis Trintignant) para um fim de semana inesquecível. Legendas em português.

A Garota com a Pistola (Mario Monicelli, 1968)

Drama cômico em que a insuperável Monica Vitti faz uma siciliana que jura vingar a "desonra" provocada pelo noivo. Legendas em inglês e francês.

Belo Antônio (Mauro Bolognini, 1960)

Lindo drama de Bolognini (com roteiro de Pasolini!) em que Marcello Mastroianni faz um rapaz tão lindo quanto impotente. Claudia Cardinale, a mulher mais bonita do mundo, faz sua noiva. Legendas em português.

A Classe Operária Vai ao Paraíso (Elio Petri, 1971)

Clássico do cinema político italiano: o ótimo Gian Maria Volonté faz um operário que, depois de sofrer um acidente, passa a questionar seu papel na fábrica em que trabalha. Legendas em português.

La Banda Degli Onesti (Camillo Mastrocinque, 1956)

Nenhuma lista de filmes italianos estaria completa sem uma comédia estrelada por Antonio Griffo Focas Flavio Angelo Ducas Comneno Porfirogenito Gagliardi de Curtis di Bisanzio, mais conhecido por Totò. O comediante napolitano fez mais de 100 comédias e esta, coestrelada por outro grande comediante, Peppino De Filippo, é uma das melhores. Legendas em português.

Prelúdio para Matar / Profondo Rosso (Dario Argento, 1975)

Um dos mais estilosos e cultuados filmes de Argento, mestre do terror e do gênero italiano conhecido por "giallo". Legendas em português.

Os Companheiros (Mario Monicelli, 1963)

Diferentemente da maioria dos filmes de Monicelli, este não é uma comédia, mas um drama realista sobre um ativista (Marcello Mastroianni) que tenta organizar os operários de uma fábrica têxtil em Turim. Legendas em português.

I Complessi (Dino Risi, Franco Rossi e Luigi Filippo D'Amico, 1965)

Comédia em episódios estrelados por três craques do humor italiano: Nino Manfredi, Ugo Tognazzi e Alberto Sordi. O terceiro episódio, "Guglielmo, Il Dentone", é uma das coisas mais engraçadas que já vi: Alberto Sordi faz um candidato ao posto de apresentador de telejornal da RAI. Ele é o melhor candidato e passa facilmente por todas as etapas do concurso, para desespero dos chefões da RAI, que o julgam feio demais - e dentuço demais - para o cargo. Legendas em português.

Amor e Anarquia (Lina Wertmüller, 1973)

A parceria entre Lina Wertmüller e o ator Giancarlo Giannini rendeu excelentes filmes, e este é um dos melhores. Giannini faz um anarquista que planeja matar Mussolini e se hospeda num bordel, onde acaba se envolvendo com uma prostituta interpretada pela linda e talentosa Mariangela Melato, outra habitué dos filmes de Lina. Legendas em espanhol.

Cronache di poveri amanti (Carlo Lizzani, 1954)

Marcello Mastroianni faz um vendedor de frutas que se envolve, em 1925, na luta contra o incipiente fascismo italiano. Grande drama de Carlo Lizzani, cineasta meio esquecido. Legendas em espanhol.

Uma ótima semana a todos.

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