Kraftwerk: mais influente que os Beatles?
Em 2017, o crítico de música do jornal norte-americano LA Weekly, Tim Sommer, escreveu um ensaio provocativo: "Kraftwerk: mais influente que os Beatles?":
Dê uma olhada na música pop em 2017. Olhe bem. Você perceberá que os Beatles deixaram de ser a banda mais influente do mundo Ocidental. O posto, hoje, é do Kraftwerk
Antes que beatlemaníacos tenham uma síncope: isso NÃO É uma comparação da importância histórica das duas bandas. O que Sommer quis dizer é que a sonoridade criada pelo quarteto de Dusseldorf se faz mais presente no pop contemporâneo do que a influência dos quatro de Liverpool.
Se pensarmos em como a eletrônica hoje domina totalmente a música pop, é difícil não concordar com a teoria.
Pegue a lista dos artistas pop mais populares do mundo de 2019 da revista "Billboard": os cinco primeiros —Post Malone, Ariana Grande, Billie Eilish, Khalid e Drake— têm imensa influência de música eletrônica. Mesmo Khalid, que é, dos cinco, o mais ligado à soul music, tem uma óbvia pegada eletrônica nas batidas e na produção de suas faixas.
"Ah, mas o Drake é rapper".
Sim, buana, mas você sabe onde entra o Kraftwerk na história do rap?
Com a palavra, Afrika Bambaataa, pioneiro da cultura hip hop:
Quando ouvi (Kraftwerk), pensei: 'que merda doida é essa?' Era um som mecânico e funky, e quanto mais eu ouvia, mais eu pensava: 'Esses brancos sabem ser funky!'
Em 1981, um jovem Bambaataa estava na primeira fila do clube Ritz, em Nova York, vendo um show da banda alemã. Ao lado dele, o amigo Arthur Baker, outro pioneiro da cena hip hop.
No ano seguinte, Bambaataa e Baker lançaram a faixa "Planet Rock", que sampleava "Trans-Europe Express", do Kraftwerk, e se tornou uma referência não só para o hip hop, mas para todo tipo de música de base eletrônica, como technopop, new romantic, techno, synthpop, electro. E o rap, claro.
O Kraftwerk é uma das poucas bandas da história a ter criado um idioma musical, uma sonoridade tão única e revolucionária que hoje, 45 anos depois de "Autobahn" e "Radioactivity", muito do que existe no pop carrega a marca deles.
Eles não foram os primeiros a fazer música eletrônica, longe disso, mas conseguiram adicionar elementos pop a um gênero musical considerado pouco acessível. Assim, os alemães influenciaram meio mundo: de Bowie a Nick Cave, passando por Pet Shop Boys, Eminem, Nine Inch Nails, Moby e Madonna. Do metal agressivo de um Rammstein aos sons atmosféricos de Portishead e Massive Attack. Do pop mais comercial aos experimentalismos eletrônicos mais obscuros e inacessíveis, tudo tem um dedo de Florian Schneider e Ralf Hutter.
Hoje, 6 de maio de 2020, Florian Schneider se foi, aos 73 anos.
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