Pintura a óleo inspirada em trabalho de Vik Muniz, produzida a partir de catálogo do artista
O único contato que a peruana Sandra Gamarra teve em sua formação com obras de artistas brasileiros contemporâneos foi teórico, através de livros e catálogos. Baseada nessa percepção, a artista plástica radicada em Madri elabora releituras de obras de nomes como Sandra Cinto, Vik Muniz, Leda Catunda, Iran do Espirito Santo e Nelson Leirner. O resultado de suas "cópias" é apresentado na sua mostra primeira individual no país, "Aquisições Brasileiras", em cartaz a partir desta quarta (29), na Galeria Leme, em São Paulo.
Gamarra utiliza o processo introdutório aos estudos de artes, da observação e reprodução do modelo, para traçar questionamentos sobre a arte contemporânea. Com suas releituras, a artista peruana coloca em discussão as relações de autoria, e elabora crítica a quem considera o cenário da arte das sociedades periféricas, como a América Latina, como mero observador das vanguardas européias e norte-americanas.
"Quando morava no Peru, minha primeira formação em arte foi a de observar reproduções - seja em livros, catálogos ou, posteriormente, através da internet - por não haver em nossos museus grandes coleções de clássicos. Depois de visitar Nova York e ver as obras de perto, tive esse desejo afetivo de resgatar essa experiência com a reprodução", conta a artista.
Assim, ela começou a fazer suas próprias "reproduções" numa seleção pessoal de retratos realistas, tendo como único interesse de suporte a pintura: "A bidimensionalidade me é inerente: mesmo quando conhecia objetos, como esculturas, meu contato com os livros me dava uma leitura plana", explica.
A artista afirma ainda que apesar da extrema fidelidade com que reinventa as obras que seleciona, impõe a impressão pessoal no ato da escolha, e que se vê mais como produtora do que ínterprete. "Não existe cópia fiel, jamais será como o original, então cada obra que me proponho a fazer traz como resultado algo completamente distinto, dessa maneira se trata de um reinvento, uma nova obra. Por isso elejo como títulos as referências bibliográficas das páginas dos catálogos, dando ao público apenas pistas, para que o trabalho não seja reduzido à comparação ao original", conclui.
A idéia de debater a falta de acervos densos nas instituições de arte latino-americanas levou Gamarra a criar o projeto LiMac (Museu de Arte Contemporânea de Lima), um museu imaginário cuja coleção se baseia em suas releituras. O conceito é o de acumular simbolicamente para a capital peruana uma plataforma de acesso à arte, alertando e ironizando, através de sua seleção afetiva, as lacunas da valorização da arte contemporânea em seu país.
Sandra Gamarra, que já participou de exposições em Santander, Lima, Washington, Londres, Estocolmo, Nova York, Caracas e Bogotá, mostra-se encantada com sua primeira visita ao Brasil. Diz desejar um dia integrar uma edição da Bienal de São Paulo e revela surpresa pelo interesse do público em exposições de arte contemporânea.
SANDRA GAMARRA - AQUISIÇÕES BRASILEIRAS
QUANDO: 29/11 a 13/1. De segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 17h
ONDE: Galeria Leme (Rua Agostinho Cantu, 88, Sao Paulo) Informações: (11) 3814-8184
QUANTO: Entrada franca
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