| 30/01/2006 - 17h53 Morre Nam June Paik, o pai da videoarte Da Redação Com agências internacionais O artista sul-coreano Nam June Paik, de 73 anos (1932-2006), considerado o pai da videoarte por seus trabalhos pioneiros realizados a partir de 1963, morreu em 29 de janeiro de 2006, em seu apartamento em Miami, Flórida.
A causa da morte foi natural _em 1996, ele ficou parcialmente paralisado por um derrame cerebral. A informação foi dada por seu sobrinho e agente, Ken Paik. O corpo foi levado para Nova York, onde fica o estúdio, na tarde desta segunda-feira para a cerimônia fúnebre.
Paik nasceu em 20 de junho de 1932, em Seul. Em 1950, sua família deixou o país, fugindo da Guerra da Coréia, e se instalou em Hong Kong e depois no Japão. Finalmente, em 1964, foi viver em Nova York.
Nesse percurso, estudou música experimental, conheceu compositores como Karlheinz Stockhausen e John Cage, se associou ao movimento artístico radical Fluxus, fez projetos de performance em vídeo com Laurie Anderson, Yoko Ono, David Bowie e a violoncelista Charlotte Moorman. Em 1963, com a obra "TV Magnet", deu início à chamada videoarte, foi pioneiro no uso de satélites de telecomunicação em projetos artísticos e chegou a transformar a rotunda do Guggenheim nova-iorquino em um espaço de experiência audiovisual.
O artista era conhecido por declarações polêmicas. "A arte é pura fraude", afirmou certa vez. "Você só precisa fazer algo que ninguém tenha feito antes". A frase foi dita a um jornal coreano. Em outra ocasião, em 1976, cunhou o termo "auto-estrada da informação" _antes da generalização da Internet.
Atualmente, June Paik participava da exposição "Moving Time", um tributo à sua videoarte, realizado no Korean Cultural Service de Nova York. Na mostra, 30 artistas influenciados pela obra do pioneiro (como Elastic Group, Carlos Motta, Terry Berkowitz e Graciela Fuentes) apresentam sua homenagem ao artista sul-coreano.
Nam June Paik foi o homenageado do 11º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil, realizado em 1996 no Sesc Pompéia, em São Paulo. Na ocasião, além de uma retrospectiva (intitulada "À Espera do Século 22: Uma Presença Virtual no Videobrasil 96"), o videoartista preparou uma reedição especial para uma de suas principais obras, "TV Moon".
REPERCUSSÃO
Eduardo Kac, artista brasileiro conhecido por criar arte genética (que inclui um coelho fluorescente verde) e por ser a primeira pessoa a ter um microchip implantado em seu corpo, afirma: "sempre admirei o trabalho de Paik. Mais que uma influência, a obra de Paik me serviu como estímulo para continuar buscando e seguindo meu próprio caminho."
"Além de ser um pioneiro, desbravador de novos terrenos", prossegue Kac, "Paik tinha um universo criativo próprio e fascinante. Sua ausência será sentida."
Giselle Beiguelman, artista digital, autora do livro "O Livro Depois do Livro" e professora da pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP e do curso de Tecnologias e Mídias Digitais da mesma universidade, diz que a principal virtude da obra de June Paik é "ter criado a saudável imbricação entre arte e telecomunicação. Paik fez com que determinadas modalidades de criação artística só possam ser entendidas e gozadas no âmbito da telecomunicação".
Para o mundo das artes e, particularmente, da videoarte, a importância de Nam June Paik foi, segundo Beiguelman, a de "introduzir, por um lado, novas noções de escala e espacialidade e, por outro, relações inéditas entre arte e meios de comunicação".
Eduardo Kac chegou a participar de exposição coletiva em Nova York (2001), em que June Paik também era um dos artistas exibidos. "Ele havia criado uma escultura chamada 'Laser Cone II', na qual você entrava e se encontrava imerso num vertiginoso espetáculo de projeções a laser", relembra.
Para Giselle Beiguelman, a influência do trabalho de Nam June Paik em seu trabalho é a "introdução da idéia de estética da falha e o impulso corruptor de desafiar a regra da configuração original".
"Incorporei, quase como devota, uma idéia muito cara a Paik", confessa Giselle. "Ele se definia como um artista de comunicação ("I'm a communication artist"). Eu também quero poder dizer isso um dia, com tanta majestade..."
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